segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O CORAÇÃO DOS DISCIPULOS: Os solos da alma humana.


Texto: Mt.13.


                    Envolvidos pelos sonhos de Jesus, os jovens discípulos tiveram a coragem de virar a página da sua história e segui-lo. Deixaram o futuro que haviam traçado para trás. Pensaram que seguiriam alguém capaz de arregimentar o maior de todos os exércitos, alguém que exercitasse sua força para que o mundo se dobrasse a seus pés. Mas ficavam pasmados com suas palavras. Elas lhe penetravam o cerne do ser. Ele discursava sobre a eternidade, parecia tão superior aos homens, mas tinha a coragem de se dobrar aos pés de pessoas simples. Ele tinha uma grande ambição: transformar seus incultos discípulos e torná-los tochas vivas que pudessem incendiar o mundo com os seus projetos e seus sonhos. Mas para isso, Ele precisaria modificar completamente a personalidade complexa desses homens, como Ele também quer modificar completamente você.
                    Ele utilizava vários métodos para ensinar lições de vida a estes homens. Ele era um brilhante contador de histórias. Suas parábolas educavam, possuíam um conteúdo espetacular. O mestre dos mestres conseguia resumir assuntos que poderiam ser discutidos em vários livros em uma simples história. Certa vez, Ele contou uma parábola belíssima que sintetizava a sua grande missão: a parábola do semeador. Ele simbolizou e classificou o coração humano em vários tipos de solos.
                    Durante trinta anos, Jesus pesquisou atenta e silenciosamente o processo de formação da personalidade. Era um especialista em detectar nossas dificuldades. Sabia que ferimos as pessoas que mais amamos, que perdemos facilmente a paciência, que somos governados por nossas preocupações. Ao invés de nos acusar, ele nos estimula a pensar. Queria que as multidões fizessem o mesmo. A lei e as regras de conduta tentaram mudar o ser humano de fora para dentro, as sementes que o mestre da vida queria plantar objetivava mudá-lo de dentro para fora. Os quatro tipos de solos que ele descreveu em sua parábola representam quatro tipos de personalidades distintas ou quatro estágios da mesma personalidade. No caso dos discípulos, eles representam principalmente os quatro estágios do desenvolvimento de suas personalidades na encantadora, sinuosa e intrigante caminhada com o mestre dos mestres.
 O PRIMEIRO SOLO: que representa um caminho.
                    Ele descreveu o primeiro tipo de solo como uma terra à beira do caminho. Esse solo estava compacto, endurecido e impermeável. As sementes que ali foram lançadas não penetraram nele e, portanto, não encontraram condições mínimas para germinar. Que tipo de pessoa essa terra representa?
                    Representa as que têm seu próprio caminho, as que não estão abertas para algo novo, não estão dispostas a aprender. Elas se fecham dentro do seu mundo. Foram contaminadas pelo orgulho, não conseguem abrir o leque de possibilidades dos pensamentos. O coração delas é compactado como a terra de uma estrada. São rígidas e fechadas. Quando põem uma coisa na cabeça, ninguém consegue removê-la.
                    As dores, as perdas e as decepções deveriam funcionar como arados para sulcar o coração, mas muitas vezes somos tão rígidos que não permitimos que elas penetrem nos compartimentos mais profundos do nosso ser. Continuamos os mesmos. As reflexões sobre as experiências difíceis que os outros passam deveriam funcionar como a chuva serôdia, mansa e suave, para irrigar o território da nossa alma. Entretanto, muitas vezes, ele está tão solidificado que se torna impermeável. Não aprendemos com os erros dos outros. Uma pessoa inteligente aprende com os seus erros, uma pessoa sábia aprende com os erros dos outros. Nem Jesus, com suas mais belas sementes da sabedoria e do amor, conseguia fazer germinar num solo compactado à beira do caminho. Por quê? Porque Ele não invade o coração de nenhum ser humano. Ele só trabalha no coração daqueles que o abrem para Ele.
                    Os discípulos começaram a sua jornada com Jesus como um solo compacto à beira do caminho. Todos passaram por esse estágio, porque eram impulsivos, ansiosos, agressivos. O maior favor que podemos fazer a uma semente é sepultá-la. Uma vez sepultada, ela morrerá, mas se multiplicará. As sementes que não penetram na terra são comidas pelas aves do céu, perdem a sua função. Infelizmente, a maioria das sementes que recebemos não germina. Seus erros e sofrimentos conseguem sulcar a sua terra e torná-la apta para que as mais nobres sementes possam crescer?
O SEGUNDO TIPO: o solo rochoso.
                    O solo rochoso é o segundo tipo de coração que Jesus simbolizava nessa parábola. Era um solo melhor do que o que estava à beira do caminho. As sementes nele lançadas encontraram condições mínimas para germinar. Elas logo nasceram, visto que a terra era pouca. Porém, logo veio o calor do sol e elas não suportaram, já que suas raízes eram superficiais.
                    Quem é representado por esse tipo de solo? Como o próprio Jesus disse, ele representa todos os que receberam rápida e alegre a sua palavra. Eles fizeram festas para ele. Compraram os seus mais belos sonhos. O júbilo era incontido. Mas um dia, os problemas chegaram, as perdas surgiram, as perseguições bateram à porta. Ficaram confusos.
                    Perceberam que o mestre dos mestres não eliminava todos os obstáculos que eles encontravam pelo caminho. Ficaram assustados. Entenderam que não estavam livres de decepções. Creram que todas as suas orações seriam rapidamente atendidas. Pensaram que segui-lo era viver num céu sem tempestade, relações sem desencontros, trabalhos sem fracassos. Mas se enganaram.
                    Jesus nunca fez essas promessas. Prometeu, sim, força na fragilidade, refrigério nos fracassos, coragem nos momentos de desespero. Eles viram o próprio Jesus passar por tantos problemas e correr o risco de morrer. Essas cenas os abalaram. Será que é Ele o Messias? Será que vale a pena segui-lo? Será que seus sonhos não são delírios? Essas perguntas os atormentavam. Desanimados, muitos desistiram de segui-lo.
                    Todos os discípulos de Jesus passaram por esse estágio. Eles não eram gigantes, como nenhum ser humano o é. Todos nós temos os nossos limites. Às vezes, uma pequena pedra para alguém, fácil de ser contornada, representa uma grande montanha para outrem e vice-versa. Não é tão fácil enfrentar os problemas, mas é necessário. O medo dos problemas intensifica a dor. Enfrentá-los é uma atitude inteligente. Mas qual é melhor maneira de enfrentá-los? Lançando raízes nos solos do nosso coração. As raízes de uma árvore são o segredo de seu sucesso, de sua capacidade de suportar o calor do sol, as tempestades e o frio. As raízes dão sustentabilidade às plantas, suprem-nas com os nutrientes e água.
                    Se você não se preocupa em cultivar raízes internas, não espere encontrar águas profundas nos dias de aridez. As plantas que suportam a angustia do sol e os períodos de sequidão não são as mais belas, mas as que têm raízes mais profundas. Elas atingem o lençol freático. Encontram águas profundas. Um dia, as dificuldades e os problemas aparecerão, mesmo para alguém que sempre teve uma rotina tranqüila. Os amigos vão embora, a pessoa que mais amamos não nos suporta, os filhos não nos compreendem, o trabalho vira um tédio, o dinheiro fica escasso, os sintomas aparecem. O que fazer? Entrar em desespero? Não! Aproveitar as oportunidades para lançar raízes. Jesus demonstrou que, para lançar raízes, é necessário remover as pedras, o cascalho do nosso ser. Como? Andando por ares nunca antes respirados. Percorrendo os labirintos do nosso ser. Correndo riscos para conquistar aquilo que realmente tem valor. Aceitando com coragem as perdas que são irreparáveis. Reconhecendo as falhas, pedindo desculpas, perdoando, tolerando, tirando a trave dos nossos olhos antes de querer remover o cisco do olho de alguém.
                    Ex.: O momento que muitos abandonaram Jesus.
 O TERCEIRO TIPO: o solo com espinhos.
                    O terceiro tipo de solo representa uma terra melhor do que temos visto até o momento. O solo era adequado. Não era compactado, não havia pedras no seu interior. As sementes encontraram um excelente clima para crescer. Lançaram raízes profundas, conseguiram atingir águas submersas, suportaram o calor do sol e as intempéries. Elas cresceram com vigor e entusiasmo.
                    Os problemas exteriores não conseguiam destruí-las. Junto com as pequenas plantas geradas pelas belas sementes cresceram, sutilmente, os espinhos. No início, os espinhos aparentavam ser gramíneas frágeis e inocentes. Havia espaço para todas plantas, poderiam conviver juntas. Entretanto, os meses se passaram e as plantas e os espinhos cresceram. Então, algo imprevisível aconteceu. O espaço que era tão grande começou a ficar pequeno. Iniciou-se uma competição. Os espinhos começaram a competir com as plantas pelos nutrientes, oxigênios, água, e raios solares. Como estavam mais adaptados, deram um salto. Cresceram rapidamente e começaram a sufocar as plantas. Elas clamavam pelos nutrientes e pelos raios solares para fazer a fotossíntese, mas os espinhos controlavam seu desejo de viver. Assim, apesar de ter raízes profundas e de conquistar um bom porte, as plantas não frutificaram, não sobreviveram.
                    Que grupo de pessoas ou que estagio da personalidade esse tipo de solo representa? Representa as pessoas mais profundas e sensatas, que permitiram o crescimento das sementes do perdão, do amor, da sabedoria, da solidariedade e de todas as demais sementes do plano transcendental do mestre dos mestres. Elas suportaram as incompreensões, as pressões, as dificuldades externas. Vira Jesus sofrer oposição e perseguição, mas não desanimaram. Ficaram amedrontadas quando ele, por diversas vezes, quase foi apedrejado, mas não o abandonaram. Nenhuma critica, rejeição, doença, decepção ou frustração parecia roubar-lhes o desejo de segui-lo.
                    Dia a dia tornaram-se fortes para vencer os problemas do mundo. Os anos se passaram e elas pareciam imbatíveis. Entretanto, não estavam preparadas para superar os problemas do seu próprio mundo, que cresciam sutilmente no âmago do seu ser. Jesus disse, nessa parábola, que os espinhos representam as preocupações existenciais, os cuidados do mundo, as ambições, a fascinação pelas riquezas.
                    Quem não tem preocupações? Freqüentemente, somente as pessoas irresponsáveis estão livres de preocupações. Quem não antecipa situações do futuro e vive do passado? Quem não se perturba com as incertezas do futuro? Quem não tem ambição? Mesmo o mais humilde dos homens tem ambição, ainda que ela seja para conservar sua timidez e não expressar suas idéias. Há inúmeros tipos de riquezas que fascinam o ser humano: possuir dinheiro, ser admirado, ser reconhecido, ser maior do que os outros.
                    Os grandes problemas, como doenças ou risco de morrer, não destruíam os discípulos. Agora teriam de passar no teste dos pequenos problemas que cresciam no solo da sua alma e competiam com as plantas oriundas da semente do mestre dos mestres. A arrogância competia com o perdão, à intolerância competia com a compreensão, à necessidade de poder competia com o desprendimento, a raiva e o ódio competiam com o amor.
                    Um dos maiores problemas que sufoca as plantas não é o fracasso, mas o sucesso. O sucesso profissional, intelectual, financeiro e até o espiritual, se não forem bem administrados, paralisam a inteligência, obstruem a criatividade, destroem a simplicidade. Seu sucesso o tem paralisado ou liberado.
                    As sementes dos espinhos estavam presentes desde a mais tenra formação da personalidade dos discípulos, portanto, estavam ecologicamente adaptadas. Algumas preocupações são legitimas, como a educação dos filhos, ter segurança, uma boa aposentadoria, um bom plano de saúde. O problema ocorre quando essas preocupações nos controlam, roubam nossa tranqüilidade e capacidade de decidir. Muitas pessoas são diariamente assaltadas por pensamentos perturbadores. Elas são maravilhosas para os outros, mas são escravas dos seus pensamentos. Não sabem cuidar da sua qualidade de vida. Diariamente, temos de remover o lixo e os espinhos que se acumulam no terreno do nosso coração. Temos de reciclar os pensamentos negativos e perturbadores que sutilmente são produzidos.
Ex.: do que ocorreu com Judas Iscariotes.
Pais e filhos que falam de coisas externas, mas não falam de si mesmos.
O ÚLTIMO SOLO: a boa terra.
                    Chegamos à boa terra, o solo que o mestre da vida queria para plantar e cultivar as mais importantes funções da personalidade.
                    Quem representa a boa terra? O próprio Jesus disse que são os que compreenderam a Palavra, refletiram sobre ela, permitiram que ela habitasse no seu ser.
                    Alguns dos discípulos foram longe em seus erros. Caíram no ridículo e ficaram decepcionados consigo mesmo, como Pedro. Entretanto, tiveram coragem de perceber suas limitações e de se esvaziar para aprender as mais profundas lições nas mais incompreensíveis falhas. Não tiveram medo de chorar e começar tudo de novo. Jesus usava varias ferramentas para poder corrigir os solos de seus discípulos. Ao andar com eles, ele os colocava em situações difíceis, fazia-os entrar em contato com seu medo, ambição, conflitos. Ele os treinava constantemente a “arar” a alma, a esfacelar os torrões, a corrigir a acidez e a repor os nutrientes. O resultado ninguém conseguia prever. Era uma tarefa quase impossível. Jesus tinha tudo para falhar.
                    Passado mais de um ano, os discípulos apresentavam reações agressivas e egoístas. No segundo ano, ainda perpetuavam as competições, uns queriam ser maiores do que os outros. No terceiro ano, o individualismo ainda tinha fortes raízes. No final da sua jornada, logo antes de sua crucificação, o medo ainda encarcerava os discípulos. Jesus parecia derrotado. Mas Ele persistia como se fosse um artesão da lama humana. Ele confiou plenamente em suas sementes.

                    Ele não apenas era um vendedor de sonhos, mas também um vendedor de esperança. As pessoas podiam cuspir no seu rosto, esbofeteá-lo, negá-lo e até traí-lo, mas ele não desistia delas. Ele acreditava no genoma das suas sementes e nos solos que cultivara.
                    Para Ele, nenhum solo era inútil ou imprestável. Uma prostituta poderia ser lapidada e ter mais destaque do que um fariseu. Um coletor de impostos corrupto e dissimulado poderia ser transformado a tal ponto que superaria no seu reino um líder espiritual puritano e moralista. Um psicopata inumano e violento poderia reciclar a sua vida a tal ponto que seria capaz de recitar poesias de amor, ter sentimentos altruístas e correr riscos para ajudar os outros.

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