quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Comentário sobre o Rolo de Habacuque


The Commentary on Habakkuk Scroll

Click to examine the scroll.
The Commentary on Habakkuk Scroll (1QpHab)  •  Qumran, Cave 1  •  1st century CE  •  Parchment  •  H: 14; L: 148 cm  •  Government of Israel  •  Accession number: 95.57/28
The Commentary on Habakkuk (Pesher Habakkuk, 1QpHab), is a relative complete scroll (1.48 m long) and one of the seven original Dead Sea Scrolls discovered in caves of Qumran in 1947. It interprets the first two chapters of the biblical book of the prophet Habakkuk and comprises 13 columns written in Hebrew, in a clear, square Herodian script. However, the tetragrammaton, the four-letter, ineffable name of God, is written in ancient Hebrew characters, unlike the rest of the text. The scroll has been dated to the second half of the first century BCE.
In this work, the verses of the biblical book are copied paragraph by paragraph, in their original order. The scriptural text of Habakkuk on which the commentary is based, however, appears to be at variance from time to time with the Masoretic text. Each paragraph is accompanied by a commentary, introduced by the Hebrew word pishro, "its meaning," or pesher hadavar al, "the meaning of the matter is in regard to." The commentary uses a prophetic style to address events of the author's time.
Two major subjects are treated in this composition. One relates to the internal religious politics of Jerusalem and the Temple priesthood, and the other – to the repercussions of the appearance of the Romans (called in the work Chaldeans or Kittim) on the historical scene. As in most of works of this genre, no historical personages are mentioned by name, but there are allusions to such individuals as "the Teacher of Righteousness," "the Wicked Priest," "the Man of Lies," and others, whose exact identities have yet to be established.
This exceptionally well-preserved scroll is a key source of our knowledge of the spiritual life of the secluded Qumran community. It sheds light on the community's perception of itself and serves as paradigm against which other examples of this genre (such as Pesher Nahum or Pesher Micah) are evaluated.

Comentário sobre a Habacuque (Habacuque Pesher, 1QpHab), é um pergaminho em relação completa (1,48 m de comprimento) e uma das sete originais manuscritos do Mar Morto descobertos em cavernas de Qumran, em 1947. Ele interpreta os dois primeiros capítulos do livro bíblico do profeta Habacuque, dispõe de 13 colunas escritas em hebraico, de forma clara, script quadrados de Herodes. No entanto, o tetragrama, a carta de quatro, o nome inefável de Deus, está escrito em caracteres hebraicos antigos, ao contrário do resto do texto. O pergaminho foi datado da segunda metade do primeiro século aC.

Neste trabalho, os versos do livro bíblico são copiados parágrafo por parágrafo, em sua ordem original. O texto bíblico de Habacuque em que o comentário é baseado, entretanto, parece estar em desacordo de tempos em tempos com o texto massorético. Cada parágrafo é acompanhada por um comentário, iniciada com a palavra hebraica pishro ", seu significado", ou hadavar pesher al ", o significado da questão é em relação a". O comentário usa um estilo profético para tratar eventos do tempo do autor.

Dois grandes temas são tratados nesta composição. Uma diz respeito à política interna religiosas de Jerusalém e do sacerdócio do Templo, e os outros - para as repercussões do aparecimento dos romanos (chamado no trabalho ou caldeus Quitim) na cena histórica. Como na maioria das obras deste gênero, não personagens históricos são mencionados pelo nome, mas há alusões aos indivíduos, tais como "Mestre da Retidão", "o Sacerdote Perverso", "o Man of Lies", e outros, cuja exata identidades ainda não foram estabelecidas.

Este pergaminho excepcionalmente bem preservado é uma fonte-chave de nosso conhecimento da vida espiritual da comunidade Qumran isolado. Ela lança luz sobre a percepção da comunidade sobre si mesma e serve como paradigma contra o qual outros exemplos deste género (como Pesher Nahum ou Micah Pesher) são avaliados.


Fonte: http://dss.collections.imj.org.il/habakkuk 

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

CUMPRINDO A MISSÃO NUM MUNDO PÓS-MODERNO

Em um mundo, marcado pela pós-modernidade, a missão cristã é confrontada com o modelo de vida, “modus vivendis” dessa época e o modelo estabelecido por Jesus Cristo. Viver segundo Deus ou viver segundo o mundo? Eis o primeiro de seus dilemas: Fidelidade ao mundo ou fidelidade a Deus? O nosso modelo é Jesus Cristo, que viveu os desafios de sua época, esteve dentro de seu ambiente cultural, mas jamais perdeu o seu foco, que era cumprir a vontade de seu Pai. Em tudo Ele foi fiel! É possível e necessário também para a Igreja, inserida nesse contexto pós- moderno, manter firme sua fidelidade a Deus no cumprimento de sua missão sem, porém, esquecer-se de efetuar influência e transformação na sociedade que ela vai alcançar, não se afastando do mundo, mas para isso, primeiro é necessário lhe conhecer. Em uma sociedade caracterizada pela efemeridade, ou seja, as pessoas não se apegam a nada, a não ser o que lhe possa satisfazer, a Igreja precisa demonstrar o valor da fidelidade, vivendo uma vida caracterizada pela obediência à vontade de Deus. Uma época marcada pela falta de “modelos” precisamos ser o farol que ilumina um mundo que navega em densas trevas. O segundo desafio é a demonstração de compaixão. Uma época marcada por “cada um por si...”, as pessoas buscam a satisfação de seus interesses individuais, não se preocupando com o próximo. Tudo gira em torno do “EU”, as demais pessoas não têm importância. É uma sociedade que não se preocupa com as pessoas,  mas a penas o lucro que elas podem gerar, daí, só os “bons” subsistem. E quanto aos ruins?   Eles são descartados, rejeitados, abandonados. È isso que a pós-modernidade tem feito com grande parte dos seres humanos dentro das nossas sociedades. Mas a Igreja não pode fechar seus olhos, não pode se calar diante de tamanha crueldade. Mas uma vez, Cristo é o nosso exemplo, pois ele não abandonou os excluídos de sua época, como diz o frei Isidoro Mazzarolo: “O cristianismo é a religião da integração na família de Jesus dos excluídos.”¹ A Igreja necessita urgentemente de interagir com a sociedade de sua época, demonstrando os componentes da compaixão demonstrados por Cristo se quiser cumprir a Missão outorgada pelo Pai.  
  A igreja só conseguirá influenciar e transformar sua época, se primeiro, fizer acompanhar sua mensagem e serviço baseados e fundamentados no amor, amor que prioriza o próximo, que se preocupa com suas dores e sofrimentos e que o tem em alta estima, não como um meio para se alcançar um fim, um objeto qualquer, mas alguém especial. E, em segundo lugar, realizar o seu serviço (diaconia) de maneira que supra as necessidades prementes dos indivíduos, lhe dando o reconhecimento de valor como cidadão, mas principalmente, de uma pessoa que é amada e valorizada por Deus.

¹ Mazzarolo, I. Evangelho de Marcos-Estar ou não com Jesus. Porto Alegre, Livraria Plink, 2004.

DANIEL, UM HOMEM AMADO POR DEUS!


Dn.9.23; 10.11;10.19.


                    Era da família real, provavelmente descendia do rei Ezequias. Daniel e seus amigos percorreram um penoso caminho através do deserto em direção a Babilônia.
                    Como adolescente que era, poderia muito bem ter reclamado do que a vida lhe reservara, amargando este fato pelo resto da vida.
                    A sua situação era a seguinte:
  • Era cativo (escravo);
  • Foi arrancado do seu lar;
  • Separado dos seus familiares;
  • Estaria indo para um outro país.

                    Aos olhos humanos, não havia esperança para ele. Mas tendo sido educado na escola das Escrituras, sob a orientação de Jeremias, sua perspectiva não era limitada por fatores humanos. Ele compreendia que estava onde Deus queria que ele estivesse, mas daí em diante ele deveria criar oportunidades para servir e mostrar fidelidade a Deus.
                    E ele o fez!
                    PORQUE DANIEL ERA UM HOMEM AMADO POR DEUS?
 PORQUE RESOLVEU NÃO CONTAMINAR-SE COM FINAS IGUARIAS DO REI (1:8a.):
                    Desde o inicio, Daniel resolveu não contaminar. Não abriria mão de suas convicções, mesmo que tivesse que pagar com a sua vida. Note-se que agora, Daniel não tinha a presença dos pais para orientá-lo nas suas decisões; mas seu amor por Deus e à sua Lei acharam-se de tal modo arraigados nele desde a infância que ele somente desejava servir a Deus de todo o coração.
                    Como conseqüência:
  1. Deus deu o conhecimento e a inteligência em todas as letras e sabedoria (1.17-20).
                    Se o crente se esforça para ser fiel a Deus em tudo,pode ficar certo de que Deus será com ele e lhe dará a ajuda e a graça necessária para que ele execute s Sua vontade.
PORQUE EM TUDO, BUSCAVA A DEUS  (2.17-28):
                    O sonho de Nabucodonosor, que ele queria que lhe contassem o sonho e a interpretação.
                    Todos os sábios iriam morrer.
  1. Diante do problema, orou a Deus com os seus amigos.
  2. Daniel louvou a Deus: O primeiro pensamento de Daniel após o Senhor revelar-lhe o sonho e a sua interpretação foi louvar ao Senhor por sua bondade e poder. É sinal típico daqueles que amam e servem a Deus.
    EM TUDO, FALAVA A VERDADE.
  1. Nabucodonosor (4.25) “Serás tirado de entre os homens e a tua morada será com os animais do campo...” Vs 27. “Portanto, ó rei, aceita o meu conselho e desfaz os teus pecados pela justiça e as tuas iniqüidades, usando de misericórdia para com os pobres, e talvez se prolongue a tua tranqüilidade.”
  2. Daniel não estava preocupado em perder a sua posição no reino, pois não omitiu a verdade a Nabucodonosor.
  3. Belsazar (5.24-30) – “Esta é a escritura... esta é a interpretação... Contou Deus o teu reino e acabou. Pesado foste na balança e foste achado em falta. Dividido foi o teu reino e deu-se aos medos e aos persas.
  4. Daniel já não tinha posição de destaque no reino babilônico, mas quem sempre fala a verdade e serve a Deus:
4.1  – Nunca é esquecido – “Há no teu reino um homem que tem o espírito dos deuses santos, e nos dias de teu pai, se achou nele luz, ...” (5.11).
4.2  – Não está preocupado com riquezas ou posição “... As tuas dádivas fiquem contigo, e dá os teus presentes a outro; todavia, lerei ao rei a escritura e lhe farei saber a interpretação.” (5.17)

PORQUE, ACIMA DE TUDO, ERA FIEL A DEUS (6.4;10;23).
                    Daniel, aos 80 anos de idade, ainda tinha mente vigorosa e aptidoes claras porque sempre procurou obedecer a vontade de Deus (cf. Calebe). Seu compromisso sempre foi o Senhor.
                    Ele foi esquecido no reinado de Belsazar, mas Deus não se esquece da fidelidade dos seus filhos para com Ele. E Dario pensava em colocá-lo em um cargo acima de todos do seu reino. (Lembra-se de José do Egito).
  1. Quando Daniel soube do decreto, entrou em sua casa e foi ao seu quarto orar, como costumava fazer 3 vezes ao dia.
  2. Por sua fidelidade, Deus fechou a boca dos leões e deu-lhe a vitória.

                    Deus não está procurando homens perfeitos, mas homens que deixem Ele os amar.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Porta de saída, uma reflexão necessária para a Igreja!

Mais do que em gerações anteriores, os jovens crentes entre 20 e 30 têm abandonado a fé.
Por Drew Dick
Momentos importantes fazem parte da jornada de todo jovem quando ingressa na idade adulta: a chegada à universidade, o começo da carreira, a compra do primeiro apartamento, o casamento e – no caso de muitos cristãos hoje em dia – o distanciamento da fé. Para cada vez mais rapazes e moças na faixa entre os 20 e os 30 anos, tudo o que se aprendeu ao longo de anos e anos de escola dominical infantil, atividades de grupos de adolescentes ou reuniões de oração da mocidade simplesmente parece perder o sentido diante da realidade da vida autônoma e suas múltiplas possibilidades. Motivos para tal esfriamento não faltam: o sentimento de liberdade pessoal, o convite aos prazeres antes proibidos, a ênfase exagerada na vida profissional e no próprio sucesso... Longe da tutela dos pais crentes, jovens que um dia eram vistos na igreja como promissores nas mãos de Deus vão, pouco a pouco, assumindo um estilo de vida mundano. E logo já não são nem um pouco diferentes de seus amigos que jamais estiveram num culto.
Não há, dizem, uma razão específica. O que se alega é um certo cansaço da vida religiosa ou a impressão de que a história do Evangelho, afinal de contas, não é tão verdadeira assim. Todo crente conhece pessoas nesta situação. E a quantidade de gente que deixa a igreja para trás tem aumentado – só no Brasil, segundo o último Censo, já há cerca de 14% de evangélicos confessos sem ligação formal com uma igreja. A tendência é mais aguda entre os jovens adultos, e não apenas por aqui. Na última edição da Pesquisa Americana de Identificação Religiosa, um fato chamou a atenção. A porcentagem de americanos que responderam “sem religião” praticamente dobrou nas últimas duas décadas, crescendo de 8,1% nos anos 90 para 15% em 2008. O estudo também observou que assombrosos 73% deles vêm de famílias religiosas – e quase dois terços foram descritos no estudo como “ex-convertidos”.
O resultado de outra pesquisa também foi expressivo. Em maio de 2009, no Fórum de Religião e Vida Pública, os cientistas políticos Robert Putnam e David Campbell apresentaram uma pesquisa descrevendo o fato de que jovens estão abandonando a religião em “ritmo alarmante”, cinco a seis vezes mais rapidamente do que anteriormente registrado. Fato é que a sociologia já descobriu que a migração para longe da fé cristã, por parte de jovens antes engajados na vida eclesiástica, é um fenômeno crescente. E uma resposta para este fato requer primeiramente uma análise de tal êxodo e o questionamento honesto das razões pelas quais ocorre.

ABANDONO
O presidente do Barna Group, entidade cristã de pesquisas sediada na Califórnia (EUA), David Kinnaman, revela que cerca de 65% de todos os jovens de seu país afirmam ter feito um compromisso com Jesus Cristo em algum momento de suas vidas. Kinnaman entrevistou milhares de jovens para a elaboração de seu livro UnChristian. Segundo ele, a maior parte dos ‘não-cristãos’ da sociedade hoje é formada por gente que em algum momento freqüentou igreja e serviu a Jesus. “Em outras palavras, eles são nossos antigos amigos, adoradores de outrora”, acentua.
Grande parte dos pesquisadores avalia que este dramático número de abandonos espirituais por gente na faixa dos vinte e poucos anos constitui, na verdade, uma etapa no curso da vida de quem chegou à conclusão que vale mais a pena dormir até tarde ou fazer outros tipos de programa aos domingos. O sociólogo Bradley Wright salienta que a tendência da juventude ao abandono da fé é uma característica do cristianismo contemporâneo. A questão do comprometimento moral parece estar na base do processo. Donos do próprio nariz, não poucos jovens de origem evangélica começa a mudar de hábitos, sendo mais abertos a novas experiências e menos refratários àquilo que, durante anos e anos, ouviram ser pecado.
Quando o rapaz ou a moça recém-saída da casa dos pais vai morar com o companheiro, ou encontra na faculdade amigos que fazem convites para noitadas, os conflitos entre a crença e o comportamento pessoal parecem ficar inconciliáveis. Cansados de lidar com o que lhes resta de uma consciência de culpa e relutantes em abandonar aquilo que têm como conquistas pessoais, eles preferem abandonar o compromisso cristão. Para isso, podem usar como argumentos o ceticismo intelectual ou a decepção com a igreja, mas estes são apenas motivos superficiais para esconder a razão principal. A verdade é que a base de crenças acaba sendo adaptada para corresponder às ações.
“Em alguns casos, o processo é gerado por uma decepção com a igreja, levando ao esfriamento”, aponta o pastor Douglas Queiroz, da Igreja Plena de Icaraí, em Niterói (RJ). Há dez anos, ele dedica seu ministério à juventude, aconselhando não apenas novos convertidos como gente que nasceu na igreja mas em algum momento abandonou a fé. “Eles não se identificam mais com a igreja da qual faziam parte”. Para Douglas, esse fenômeno pode ser atribuído, em parte, ao momento em que o jovem vive. Isso se dá pelo distanciamento que existe entre a igreja e a sociedade. O jovem de hoje, detentor de muita  informação, não aceita esta  relação ambígua, não suporta mais viver numa subcultura ou dentro de um gueto com postura, linguajar e pensamentos distantes do cotidiano”, comenta. Mas existem também, diz o pastor, situações em que não se trata exatamente de um esfriamento espiritual. “A pessoa simplesmente descobre que sua fé não existe, ou seja, nunca houve uma experiência individual. O jovem é cristão simplesmente porque nasceu num lar de crentes e cresceu indo à igreja.”

“PRATOS ATRATIVOS”
A diversidade de situações torna difícil resumir tudo no velho chavão da “rebeldia juvenil”. Aos 30 anos de idade, o ministro de adoração da igreja Casa da Bênção em Jardim Paulista (PE), Juliandreson Pimentel, conhece de perto esta realidade. Funcionário público e estudante de Direito, ele encontra tempo na agenda para trabalhar com jovens e acha que o trabalho tímido de formação nas igrejas está na raiz do esfriamento espiritual dos crentes nesta fase da vida. “Com uma conexão maior fora do ambiente eclesiástico, muitos jovens acabam cuidando mais de si mesmos, negligenciando o serviço de Deus”, comenta. Ao mesmo tempo, existem fatores comuns. Muitos afastamentos foram precipitados, como diz Douglas, por aquilo que aconteceu dentro da igreja, em oposição ao que acontece fora dela. Até mesmo os que adotaram um estilo de vida materialista ou uma forma de espiritualidade vaga demais para ser definida como cristã têm em comum, quase sempre, uma vivência de cristianismo superficial que efetivamente os afastou de uma fé autêntica.
O sociólogo Christian Smith e seus colegas pesquisadores examinaram a vida espiritual dos adolescentes americanos e perceberam que a maior parte deles pratica uma religião que pode ser descrita como “deísmo moralista e terapêutico”, que deixa Deus como o distante Criador que abençoa pessoas que são “boas e justas”. Assim, o objetivo central dessa divindade é ajudar os crentes a se tornarem felizes e a sentirem-se bem consigo mesmos. E como esses adolescentes aprenderam sobre esta forma de fé? Naturalmente, porque ela é ensinada de maneira explícita ou implícita em todas as fases da vida nas igrejas. Ela está no ar respirado pelos frequentadores de igreja, que buscam cultos amigáveis e pequenos grupos de pouco compromisso. Quando esta visão ingênua e utilitarista de Deus se une à realidade, não é surpreendente ver tanta gente saindo porta afora das igrejas.
Criado na igreja, o jovem Gabriel Santana Mariano, de São Paulo, fez esse percurso. Ele conta que o convívio com pessoas “do mundo”, como dizem os evangélicos, acabou colaborando para seu distanciamento da fé. “Os pratos que nos oferecem são bem atrativos”, diz. Os cultos saíram de sua rotina e hoje ele frequenta academias, festas e baladas. A mãe, diz Gabriel, continua orando por ele. “Se não fosse por isso, não sei como poderia estar hoje”, reconhece. Apesar de tudo, ele confessa que acredita e confia em Deus. “Sinto que sinto que não faço parte desse mundo”, revela. “Algo dentro de mim sente um grande vazio e, mesmo que eu tente me enganar, sei que isso é falta de uma comunhão com Deus.”
Os crentes, geralmente, adotam uma dentre duas reações igualmente prejudiciais em relação a alguém que abandonou a fé: tornam-se agressivos, com um discurso de julgamento, ou preferem não se envolver na questão. No encontro anual da Associação Americana de Sociologia, em 2008, um grupo de estudiosos da Universidade de Connecticut e da Universidade de Oregon relataram que “o maior papel dos cristãos no processo de abandono de fé foi amplificar dúvidas previamente existentes”. Os ex-cristãos relataram “dividir suas dúvidas com amigos ou familiares cristãos e receberem respostas triviais e superficiais”. Além de não possuir recursos apropriados para trabalhar com esse grupo, as igrejas, no geral, não sabem lidar bem com aqueles que estão em conflito com sua própria fé.
A crise de pessoas abandonando a fé também passa por outros níveis. Primeiramente, jovens adultos estão abandonando a religião em ritmo mais acelerado e em maior número do que jovens adultos das gerações anteriores, conforme estudos feitos nos EUA e ainda incipientes por aqui. Em segundo lugar, o argumento sobre fases da vida, por si só, não se sustenta. O jovem adulto de hoje não é o jovem adulto de antigamente; o de hoje permanece nesta fase por mais tempo. Casamento, carreira e filhos – a força sociológica primária que leva os adultos de volta ao compromisso religioso – são elementos hoje postergados para os vinte e poucos ou trinta anos.

CAMINHO DE AMOR
Para Onésimo Pinto, pastor de jovens da Igreja Evangélica Bíblica Betel, de Recife (PE), os pais têm uma parcela de culpa no afastamento ou esfriamento da fé dos filhos: “Muitos educam os filhos de uma maneira, mas, na prática, vivem de outra. Então, os filhos aprendem dos pais a tapear e maquiar o cristianismo. O distanciamento acontece no momento em que eles têm acesso caminhos antes inacessíveis”. Segundo ele, esse hiato entre fé e comportamento acaba desestimulando os jovens, que não querem repetir o erro e preferem abrir mão da vida cristã. “Essa é a experiência que identificamos em muitas famílias”, atesta o conselheiro. No entanto, Onésimo também aponta a culpa da Igreja: “Infelizmente, falta um ensino doutrinário que fundamente a fé dos jovens. Muitas igrejas são mais clubes sociais, onde as pessoas vão para se encontrar e agendar programas, enquanto o estudo da Palavra praticamente não existe.”
Não há nada de errado com pizzas e videogames, nem com celebrações sensíveis ou pequenos grupos de pouco comprometimento que apresentam pessoas à fé cristã. Mas isto não pode substituir o discipulado sério e o ensino. Um lugar para começar é repensando como a Igreja e os evangélicos têm ministrado aos jovens. A tentação de se afastar da fé não é novidade. O apóstolo Paulo exortou a igreja em Éfeso sobre a necessidade de amadurecimento de cada cristão: “o propósito é que não sejamos mais como crianças, levados de um lado para o outro pelas ondas, nem jogados para lá e para cá por todo vento de doutrina e pela astúcia e esperteza de homens que induzem ao erro” (Efésios 4.14, segundo a Nova Versão Internacional).
Apesar dessa lacuna, grande parte dos pesquisadores insiste que este dramático número de abandonos espirituais durante os vinte e poucos anos não é uma situação alarmante. Em seu recente livro “Cristãos são hipócritas cheios de ódio...E outras mentiras que você já ouviu (inédito em português), o sociólogo Bradley Wright argumenta que estes números sobre a tendência da juventude ao abandono da fé é “mais um mito” do cristianismo contemporâneo. Ele lembra que os integrantes de cada nova geração são sempre observados com suspeita pelos mais velhos. Ao falar sobre a própria juventude, o autor se descreve como “um moço de cabelos compridos e camisetas diferentes” e destaca que os adultos daquela geração não tinham muita fé no futuro quando olhavam para adolescentes como ele.
Wright acentua que jovens adultos costumam abandonar a religião organizada quando deixam a casa dos pais, mas retornam quando formam sua própria família. Rodney Stark também pede cautela. O sociólogo da Universidade Baylor diz que dados de suas pesquisas reafirmam resultados de outros estudos, mas que isso não é motivo para alarde. “Jovens sempre foram minoria ao frequentar igrejas, em relação os mais velhos”, ele escreve. Stark é confiante ao dizer que os jovens retornarão. “Um pouco mais à frente, quando tiverem se casado e, principalmente, após a chegada dos filhos, eles se tornam mais frequentes na igreja. Isso acontece em todas as gerações”.
Em última instância, retornar ao aprisco após uma ausência de dois ou três anos é uma coisa – depois de uma década, contudo, é mais improvável. Além disso, há que se levar em conta que uma mudança tem ocorrido na cultura de maneira ampla. As gerações anteriores foram rebeldes por um momento, mas ainda assim habitavam uma cultura predominantemente judaico-cristã. Os jovens afastados de hoje encontram fora da igreja um caldo cultural que não favorece muito o retorno ao sagrado. Por isso, a necessidade é do lento, porém frutífero, trabalho de construir relacionamentos com aqueles que abandonaram a fé. Isto irá requerer de cada parte envolvida – pais e filhos, Igreja, conselheiros, educadores cristãos – o esforço de olhar além do ceticismo e enxergar a necessidade espiritual de cada um. Uma vez que cada queixa, história e demanda for ouvida e compreendida, certamente serão construídas pontes de confiança e o caminho de volta para casa será iluminada com amor.

Drew Dyck é diretor de redação da revista Leadership Journal do grupo Christianity Today International, e é autor de Generation ex-Christian: Why young adults are leaving the faith . . . and how to bring them back (“Geração ex-cristã: Por que jovens adultos abandonam a fé... E como trazê-los de volta).

Fonte: http://cristianismohoje.com.br/interna.php?subcanal=23&__akacao=687894&__akcnt=3088de9c&__akvkey=0299&utm_source=akna&utm_medium=email&utm_campaign=CH+digital+9+%28dezembro%29+%282%29