sexta-feira, 25 de maio de 2012

Curso Bíblico sobre Rute!

Curso Bíblico sobre Rute
Objetivo: Estudar o Livro de Rute, essa surpreendente personagem da tradição bíblica do Antigo Testamento.
Pe. Leonardo fará uma atualização pastoral dos modelos de fé e de comportamento presentes no livro de Rute,
 mostrando sua atualidade e pertinência teológica.
Assessor: Pe. Leonardo Agostini Fernandes, doutor em Teologia Bíblica, professor de Sagrada Escritura na PUC- Rio.
Data: 31 de maio - quinta-feira - das 14h às 17h
Taxa: 10,00   

Informações e Inscrições: Paulinas Livraria
Rua 7 de Setembro, 81 A - Centro – Rio de Janeiro
Tel.: 2232-5486 /9636-2388

Cartas da prisão - Pastor Nadarkhani e Omar Gude Pérez


Dois homens que vivem em lados opostos do mundo estão confinados pelo mesmo motivo. Eles nunca se conheceram, mas eles compartilham a fé em Jesus Cristo. Esta fé que finalmente levou os dois para a prisão.

Os dois homens, que são pastores, refletiram sobre suas experiências em cartas a seus partidários. Aqui estão alguns trechos do que eles escreveram:

"... Nestes dias que são difíceis para provar sua lealdade e sinceridade a Deus, eu estou tentando fazer o melhor ao meu alcance para ficar bem com o que eu aprendi com os mandamentos de Deus." Pastor Yousef Nadarkhani, que passou quase três anos de prisão no Irã

"Eu quero compartilhar meu testemunho de ser um prisioneiro com você ... as pessoas que ouvem esta pode ser edificada sabendo que Deus cuida de seus filhos durante estes tempos, mesmo quando há tentativas de assassinar-nos ou qualquer outra coisa que está planejado contra nós . "Pastor Omar Gude Pérez, ex-prisioneiro, mas agora sob prisão domiciliar por liderar uma rede de rápido crescimento cristã em Cuba

Cada dia você tem a oportunidade de escrever diretamente para um cristão passando por provações de sua fé. É chamado Connect & Incentive, é grátis e você pode usá-lo imediatamente! É muitas vezes a maneira mais direta, você pode incentivá-los.

E por favor, continuem orando por uma solução rápida para a situação do asilo para a família Perez Gude em Cuba. O Governo cubano quer se separar da família por recusar um visto de saída para Omar, o marido e pai da família. Esposa de Omar, Kenia, e seus filhos duas foram concedidos vistos de saída, mas, naturalmente, eles não querem deixar para trás Omar. É provável que não vai ser deixado para trás em Cuba se deixarem. O tempo está acabando, porque a oferta de asilo dado a toda a família está perto de expirar.

Obrigado por seu apoio

A Equipe CSW
Fonte: Relay - CSW's weekly email newsletter
relay@csw.org.uk

quinta-feira, 24 de maio de 2012

INSTITUTO HAGGAI EM ROCHA MIRANDA

Seminário Local no RJ, Rocha Miranda - Módulo 1

Igreja Metodista Wesleyana - Rio de Janeiro, RJ
Seminário Local de Liderança é um curso de seis horas contratado pela igreja ou organização local. É ministrado por três docentes credenciados do Instituto Haggai, que analisarão três aspectos essenciais da liderança e do impacto que um cristão deve ter na sua área de atuação, em nome de Jesus Cristo. Veja o currículo do Módulo 1:
  • DOCENTE 1
    Princípios de Liderança Eficaz
    Uma análise dos princípios que tornam a sua liderança eficiente e eficaz em qualquer situação no trabalho, no ministério e na família.
     
  • DOCENTE 2
    Integridade do Líder
    Um desafio sobre como manter-se fiel a Jesus Cristo evitando as tentações da conduta imoral.
     
  • DOCENTE 3
    Criatividade no Evangelismo
    Uma análise de diretrizes que regem a criatividade na comunicação da mensagem de Cristo, sem abrir mão do conteúdo bíblico inegociável do evangelho.
Não perca esta oportunidade na sua cidade.
Inscreva-se!

Detalhes

Categoria Seminários Locais - Módulo 1
Data
Horário Início: 8h00
Fim: 16h30
Cidade Rio de Janeiro, RJ
Público-Alvo Profissionais cristãos em geral, pastores, líderes ministeriais, estudantes e donas de casa.
Custo R$35,00 - Valor sugerido pelo Instituto Haggai referente ao curso. Não inclui almoço e cafezinho que podem ser cobrados. Verificar com a igreja local.
Vagas Limitadas a 35 participantes.
Pagamento Verificar com a igreja local.
Local Igreja Metodista Wesleyana
Rua Pão de Açucar, 120
Bairro Rocha Miranda - Rio de Janeiro, RJ
Contato Sandra Rocha
josesando@hotmail.com
(21) 2471-2408

sábado, 19 de maio de 2012

Educando na modernidade!


Através da educação o ser humano vai descobrindo o mundo que o cerca e contemplando o cosmos imenso que lhe cerca, bem como assimilando e compreendendo a si mesmo como ser individual e como parte de toda esta obra. Esse processo se inicia na infância e acompanha o indivíduo por toda a sua vida, em que o conhecimento  é companheira constante e permanente do ser humano em toda a sua existência! Diria ainda mais, o ser humano se alimenta constantemente do conhecimento de si mesmo e de tudo que lhe cerca, pois ele é um ser em constante compreensão. É com essa ferramenta maravilhosa, a capacidade intelectual e inteligível, que o indivíduo encontra as soluções para as dificuldades do dia-a-dia e que faz com que ele crie a partir do mundo natural, um mundo fruto da sua consciência e racionalização para solução dessas lides. Como Paulo Freire afirma: “... a consciência humana tem a capacidade de transcender as situações vividas e objetiva-las;...”. São as dificuldades enfrentadas que fazem o indivíduo superá-las e com isso, criar novos conhecimentos que até então eram desconhecidas por ele. A educação aparece nos escritos de Freire como a mola mestra que propulsionará o ser humano a transcender a situação conflitosa e limitadora que o aprisiona, ela faz com que o homem se liberte das correntes escravizadoras da ignorância e da inércia. Ela nos ensina que é possível superar a situação vivida, mais do que isso, ela é a pedagoga que nos faz crescer e ultrapassar os nossos limites. A sua proposta vai além do mero conhecimento racional, a educação é elemento libertador e transformador do indivíduo dentro da sociedade, fazendo dele um ser independente e autônomo dentro do status quo no qual ele está inserido. Libertando-o e fazendo com que ele liberte outros ao seu redor.
Educar não pode ser enfrentado como uma obrigação! Tenho visto uma gama enorme de educadores decepcionados e frustrados tanto no meio acadêmico-secular, quanto no religioso em que as pessoas perderam o prazer de ensinar, disso surge como consequência discentes que não se interessam pelo conhecimento. Já é antiga a frase muito empregada por determinada colunista: Educar precisa ser um ato de prazer! Nesse processo, tanto os que ensinam quanto os que aprendem necessitam estar envolvidos emocionalmente e intelectualmente juntos, percebendo que esse ato nos faz melhores indivíduos. É preciso entrega e dedicação à educação, pois sem confiança e amor por ela, não nos entregaremos a tarefa por ela proposta e, por conseguinte não nos interessaremos por aqueles que interagem conosco. A educação não é seletista, visto que todos os indivíduos têm potencialidades de acompanha-la e serem influenciados e transformados por ela. Todos nós podemos ser e fazer além do que a realidade nos impõe; fomos feitos para acreditarmos, sonharmos e ultrapassarmos os limites que nos cercam. Teleologicamente, devemos ter a capacidade de sempre acreditarmos que os limites podem ser ultrapassados, por isso somos providos do conhecimento e do raciocínio. Com eles nos dedicamos à procura de soluções para todas as situações conflitantes. A esperança em Paulo Freire não é uma postura estática e inerte, mas uma atitude dinâmica em direção do conhecimento que liberte e transforme toda a realidade. Não há comodismo, mas sim uma busca plena e constante da mudança e transformação individual e social. Ela pressupõe a ideia de que o indivíduo e a sociedade estão inacabados sempre, pressupondo que a educação é um processo que não se finda, mas se mantêm constantemente. Um processo infinito, pois enquanto estivermos por aqui, ela fará parte constante de nossas vidas.
Educar é um ato profético, pois muitas vezes, as condições em que nos inserimos, fazem abater qualquer voz que proclame a possibilidade de mudanças, daí porque todo educador precisa ser um esperançoso e buscar descortinar o conhecimento que está escondido debaixo da situação que se depara. Além disso, contagiar os educandos para terem uma postura de inconformismo com a realidade vivenciada, sabendo que ela pode e será modificada pelo processo de aprendizagem. Por isso, não pode haver um sentimento de que a educação é uma via de mão única, pois esse modelo está ultrapassado na atualidade. O processo envolve a compreensão de que ele é proveniente da interação e envolvimento de professores e alunos, ou seja, em que ambos se unem para solução dos dilemas presentes, ela é uma via de duas mãos, ou seja, aprendemos e ensinamos em conjunto. Somos partes da mesma situação e enfrentamos juntos as mesmas dificuldades, daí porque não podemos nos dissociar como companheiros nessa caminhada rumo ao aprendizado. Por último, esse relacionamento deve ser pautado na verdade de que, além de sermos partes nesse processo, nos preocupamos e nos interessamos uns pelos outros. A verdadeira educação se manifesta quando há envolvimento afetivas entre as partes, ambas se interessam de fato pelas necessidades que são mútuas e que produzirão efeitos benéficos para eles. Por isso, todo esse processo necessita ser fundamentado em amor, pois quando as pessoas se sentem respeitadas e amadas, elas desenvolvem adequadamente todas as suas potencialidades. Um ambiente marcado por sentimentos altruístas e nobres, gerarão conhecimentos e pessoas influenciadas por essa atmosfera em que a educação deixa de ser algo frio e inerte e se torna algo agradável e gratificante.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

A PEDAGOGIA DE PAULO FREIRE E A EDUCAÇÃO CRISTÃ.



 A pedagogia de Paulo Freire nasce dentro de um ambiente ímpar na América Latina em que os governos ditatoriais imperavam e a sociedade clamava por mudanças em todos os níveis dela, ao mesmo tempo também se solidificava a Teologia da Libertação que visava interpretar os ensinamentos de Jesus Cristo sobre a óptica dos menos favorecidos ou marginalizados e, sem dúvida alguma, ambas as ciências vão influenciar o “modus pensantes”  de toda educação contemporânea da América Latina. Alguns teóricos, durante muito tempo insistiram na oposição de ambas as ciências, no entanto, hoje, é fundamental que os operadores de ambos os lados tenham a humildade de se escutarem, visto que não há conhecimento independente no mundo hodierno e, hoje as ciências são interligadas, uma auxilia a compreensão e o desenvolvimento da outra. A tese sustentada pelo autor do artigo O TEOLÓGICO E PEDAGÓGICO EM PAULO FREIRE: DESAFIOS À REFLEXÃO CURRICULAR”. (Dr. Manfredo Carlos Wachs) é de que não há como dissociar na Educação Cristã moderna o binômio teologia e pedagogia deve estar complementando-se mutuamente.
Muito embora, surjam muitas críticas ao “teólogo” Paulo Freire, adjetivo que ele nunca procurou nem se ufanou em usá-lo, entretanto, vamos verificar que o ambiente em que esse educador surge vai influenciá-lo grandemente. Ele fala para uma sociedade cristã e essa sociedade vai ser usada por ele em suas metáforas utilizadas para “revolucionar” a educação. Na realidade, essa sociedade estava passando por grandes transformações e ele, não ficaria inerte às mudanças que estavam sendo operadas. A busca do pedagogo Paulo Freire é por mudanças em todas as áreas da nossa sociedade e essa transformação passa indubitavelmente pela educação, sem ela  ser humano permaneceria absorto pelas amarras da ignorância! Nesse processo, todas as áreas deveriam estar envolvidas e entre elas a teologia, pois grande era a influência que o catolicismo e protestantismo exerciam sobre os indivíduos dentro deste ambiente e, é claro que, como já foi visto acima, o ambiente estava impregnado  pela teologia da libertação que visava também mudanças no status quo político, econômico e social da nossa realidade! Verificamos que a hermenêutica da libertação é ferramenta útil para esse educador e cientista educacional interpretar os textos bíblicos, principalmente os ensinos de Jesus, á luz da realidade atual. Ele busca por meio dessa intepretação ligar a teologia e a pedagogia de maneira que essa interdisciplinaridade pudesse criar novos horizontes e novas descobertas para ambas as ciências, mas principalmente introduzir novos conhecimentos que pudessem melhorar e transformar a sociedade, produzindo assim uma nova maneira de pensar e compreender o conhecimento.
Na “teologia” freireana todo indivíduo é capaz de aprendizagem, pois a graça concedida por Deus ao homem de sua faculdade de aprendizagem é estabelecida e manifestada própria condição de ser HUMANO. É condição que perpassa a compreensão de quem somos, ou seja, a compreensão de que fomos feitos por Deus de maneira indistinta e por isso temos a capacidade inerente da aprendizagem, no entanto, utilizando a linguagem teológica, Paulo Freire utiliza o conceito de “metanoia”, em que há a necessidade de compreendermos que precisamos mudar e nos transformar a cada dia, além do que, isso implica um desejo profundo de querer aprender.  Essa questão do aprendizado não é visto como uma condição absoluta, visto que na pedagogia freireana, apenas Deus possui o conhecimento absoluto, já o ser humano, é alguém que está em constante processo de ensino/aprendizagem. Daí porque, nas sociedades modernas não haverem mais condições para o processo educacional antigo e medieval em que apenas os mestres eram detentores do conhecimento, na sociedade atual, como é claramente vista na pedagogia empregada por Cristo, o conhecimento é crescente, difuso e proveniente do processo ensino/aprendizagem. Nesse ambiente, tanto mestres e alunos estão envolvidos no processo educacional em que ambos aprendem uns com os outros. A base para essa relação é o amor, pois a partir do momento que compreendemos que todos possuem capacidades inatas para a aprendizagem e para a co-criação, ou seja, somos parceiros de Deus nesse processo de criação e de transformação do mundo, acreditamos no ser humano como um ser transformador e capaz de grandes potencialidades, por meio disso, vemos que somos parceiros conjuntamente nesta obra de transformação da nossa sociedade e o amor é esse vínculo que nos une conjuntamente.
Para Freire, a Palavra não é apenas elemento subjetivo, é mais do que isso, é ação reflexiva dos pensamentos, sonhos e projetos do indivíduo. Ela na realidade é o elemento transformador de toda a realidade social. Ela não é um elemento utópico, mas sim, como aferido nos relatos de Cristo, reflexão daquilo que está ocorrendo na atualidade, fruto da interação do homem com o seu próximo e com as coisas que estão circulando à sua existência. Ela é, em última análise, o elemento transformador e modificador não só do indivíduo, mas principalmente de toda a sociedade.
Não atentar para essas características do teólogo-pedagogo, fará com que ocorra uma visão deturpada e equivocada dos frutos advindos de suas pesquisas no campo da educação. Estamos todos envolvidos nesse processo e não podemos nos distanciar das outras áreas do conhecimento para não cometermos os mesmos erros do passado de acharmos que sabíamos tudo, quando na realidade, verificamos cada vez mais que não sabemos nada! É a convivência com os demais homens que nos fará melhores indivíduos dentro da sociedade.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Pastores feridos

Pastores que abandonam o púlpito enfrentam o difícil caminho da auto-aceitação e do recomeço.
 Desânimo, solidão, insegurança, medo e dúvida. Uma estranha combinação de sensações passou a atormentar José Nilton Lima Fernandes, hoje com 41 anos, a certa altura da vida. Pastor evangélico, ele chegou ao púlpito depois de uma longa vivência religiosa, que se confunde com a de sua trajetória. Criado numa igreja pentecostal, Nilton exerceu a liderança da mocidade já aos 16 anos, e logo sentiria o chamado – expressão que, no jargão evangélico, designa aquele momento em que o indivíduo percebe-se vocacionado por Deus para o ministério da Palavra. Mas foi numa denominação do ramo protestante histórico, a Igreja Presbiteriana Independente (IPI), na cidade de São Paulo, que ele se estabeleceu como pastor. Graduado em Direito, Teologia e Filosofia, tinha tudo para ser um excelente ministro do Evangelho, aliando a erudição ao conhecimento das Sagradas Escrituras. Contudo, ele chegou diante de uma encruzilhada. Passou a duvidar se valeria mesmo a pena ser um pastor evangélico. Afinal, a vida não seria melhor sem o tal “chamado pastoral”?
As razões para sua inquietação eram enormes. Ordenado pastor desde 1995, foi justamente na igreja que experimentou seus piores dissabores. Conheceu a intriga, lutou contra conchavos, desgastou-se para desmantelar o que chama de “estrutura de corrupção” dentro de uma das igrejas que pastoreou. Mas, no fim de tudo isso, percebeu que a luta fora inglória. José Nilton se enfraqueceu emocionalmente e viu o casamento ir por água abaixo.  Mesmo vencendo o braço-de-ferro para sanar a administração de sua igreja, perdeu o controle da vida. A mulher não foi capaz de suportar o que o ministério pastoral fez com ele. “Eu entrei num processo de morte. Adoeci e tive que procurar ajuda médica para me restabelecer”, conta. Com o fim do casamento, perdeu também a companhia permanente da filha pequena, uma das maiores dores de sua vida.
Foi preciso parar.  No fim de 2010, José Nilton protocolou uma carta à direção de sua igreja requisitando a “disponibilidade ativa”, uma licença concedida aos pastores da denominação. Passou todo o ano de 2011 longe das funções ministeriais. No período, foi exercer outras funções, como advogado e professor de escola pública e de seminário.  “Acho possível servir a Jesus, independentemente de ser pastor ou não”, raciocina, analisando a vida em perspectiva. “Não acredito mais que um ministério pastoral só possa ser exercido dentro da igreja, que o chamado se aplica apenas dentro do templo. Quebrei essa visão clerical”. Reconstruindo-se das cicatrizes, Nilton casou-se novamente. E, este ano retornou ao púlpito, assumindo o pastoreio de uma igreja na zona leste de São Paulo. Todavia, não descarta outro freio de arrumação. “Acho que a vida útil de um líder é de três anos”, raciocina. “É o período em que ele mantém toda a força e disposição. Depois, é bom que esse processo seja renovado”. É assim que ele pretende caminhar daqui para frente: sem fazer do pastorado o centro ou a razão da sua vida.
Encontrar o equilíbrio no ministério não é tarefa fácil. Que o digam os ex-pastores ou pastores afastados do púlpito que passam a exercer outras atividades ou profissões depois de um período servindo à igreja. Uma das maiores denominações pentecostais do país, a Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ), com seus 30 mil pastores filiados – entre homens e mulheres –, registra uma deserção de cerca de 70 pastores por mês desde o ano passado. Os números estão nas circulares da própria igreja. Não é gente que abandona a fé em Cristo, naturalmente; em sua maioria, os religiosos que pedem licença ou desligamento das atividades pastorais continuam vivendo sua vida cristã, como fez José Nilton no período em que esteve afastado do púlpito. É que as pressões espirituais e as demandas familiares e pessoais dos pastores, nem sempre supridas, constituem uma carga difícil de suportar ao longo doa anos. Some-se a isso os problemas enfrentados na própria igreja, as cobranças da liderança, a necessidade de administrar a obra sob o ponto de vista financeiro e – não raro – as disputas por poder e se terá uma ideia do conjunto de fatores que podem levar mesmo aquele abençoado homem de Deus a chutar tudo para o alto.
A própria IPI, onde José Nilton militou, embora muito menor que a Quadrangular – conta com cerca de 500 igrejas no país e 690 pastores registrados –, teria hoje algo em torno de 50 ministros licenciados, número registrado em relatório de 2009. Pode parecer pouco, mas representa quase dez por cento do corpo de pastores ativos. Caso se projete esse percentual à dimensão da já gigantesca Igreja Evangélica brasileira, com seus aproximadamente 40 milhões de fiéis, dá para estimar que a defecção dos púlpitos é mesmo numerosa. De acordo com números da Fundação Getúlio Vargas, o número de pastores evangélicos no país é cinco vezes maior do que a de padres católicos, que em 2006 era de 18,6 mil segundo o levantamento Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Sociais. Porém, devido à informalidade da atividade pastoral no país, é certo que os números sejam bem maiores.
 
FERIDOS QUE FEREM
O chamado pastoral sempre foi o mais valorizado no segmento evangélico. Por essa razão, é de se estranhar quando alguém que se diz escolhido por Deus para apascentar suas ovelhas resolva abandonar esse caminho. Nos Estados Unidos, algumas pesquisas tentam explicar os principais motivos que levam os pastores a deixar de lado a tarefa que um dia abraçaram. Uma delas foi realizada pelo ministério LifeWay, que, por telefone, contatou mil pastores que exerciam liderança em suas comunidades eclesiásticas. E o resultado foi que, apesar de se sentirem privilegiados pelo cargo que ocupavam (item expresso por 98% dos entrevistados), mais da metade, ou 55%, afirmaram que se sentiam solitários em seus ministérios e concordavam com a afirmação “acho que é fácil ficar desanimado”. Curiosamente, foram os veteranos, com mais 65 anos, os menos desanimados. Já os dirigentes das megaigrejas foram os que mais reclamaram de problemas. De acordo com o presidente da área de pesquisas da Life Way, Ed Stetzer – que já pastoreou diversas igrejas –, a principal razão para o desânimo pode vir de expectativas irreais. “Líderes influenciados por uma mentalidade consumista cristã ferem todos os envolvidos”, aponta. “Precisamos muito menos de clientes e muito mais de cooperadores”, diz, em seu blog pessoal.
Outras pesquisas nos EUA vão além. O Instituto Francis Schaeffer, por exemplo, revelou que, no último ano, cerca de 1,5 mil pastores têm abandonado seus ministérios todos os meses por conta de desvios morais, esgotamento espiritual ou algum tipo de desavença na igreja. Numa pesquisa da entidade, 57% dos pastores ouvidos admitiram que deixariam suas igrejas locais, mesmo se fosse para um trabalho secular, caso tivessem oportunidade. E cerca de 70% afirmam sofrer depressão e admitem só ler a Bíblia quando preparam suas pregações. Do lado de cá do Equador, o nível de desistência também é elevado, ainda mais levando-se em conta as grandes expectativas apresentadas no início da caminhada pastoral pelos calouros dos seminários. “No começo do curso, percebemos que uma boa parte dos alunos possui um positivo encantamento pelo ministério. Mais adiante, já demonstram preocupação com alguns dilemas”, observa o diretor da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, o pastor batista Lourenço Stélio Rega. Ele estima que 40% dos alunos que iniciam a faculdade de teologia desistem no meio do caminho. Os que chegam à ordenação, contudo, percebem que a luta será uma constante ao longo da vida ministerial – como, aliás, a própria Bíblia antecipa.
E, se é bom que o ministro seja alguém equilibrado, que viva no Espírito e não na carne, que governa bem a própria casa, seja marido de uma só mulher (ou vice-versa, já que, nos tempos do apóstolo Paulo não se praticava a ordenação feminina) e tantos outros requisitos, forçoso é reconhecer que muita gente fica pelo caminho pelos próprios erros. “O ministério é algo muito sério” lembra Gedimar de Araújo, pastor da Igreja Evangélica Ágape em Santo Antonio (ES) e líder nacional do Ministério de Apoio aos Pastores e Igrejas, o Mapi. “Se um médico, um advogado ou um contador erram, esse erro tem apenas implicação terrena. Mas, quando um ministro do Evangelho erra, isso pode ter implicações eternas.”
Desde que foi criado, há 20 anos, em Belo Horizonte (MG), como um braço do ministério Servindo Pastores e Líderes (Sepal), o Mapi já atendeu milhares de pastores pelo país. Dessa experiência, Gedimar traça quatro principais razões que podem ser cruciais para a desmotivação e o abandono do ministério. “Ativismo exagerado, que não deixa tempo para a família ou o descanso; vida moral vacilante, que abre espaço para a tentação na área sexual; feridas emocionais e conflitos não resolvidos; e desgaste com a liderança, enfrentando líderes autoritários e que não cooperam”, enumera. Para ele, é preciso que tanto os membros das igrejas quanto as lideranças denominacionais tenham um cuidado especial com os pastores. “Muitos sofrem feridas, como também, muitas vezes, chegam para o ministério já machucados. E, infelizmente, pastor ferido acaba ferindo”.
Quanto à responsabilidade do próprio pastor com o zelo ministerial, Gedimar é taxativo: “É melhor declinar do ministério do que fazê-lo de qualquer jeito ou por simples necessidade”. A rede de apoio oferecida pelo Mapi supre uma lacuna fundamental até mesmo entre os pastores – a do pastoreio. “É preciso criar em torno do ministro algumas estruturas protetoras. É muito bom que o líder conte com um grupo de outros pastores onde possa se abrir e compartilhar suas lutas; um mentor que possa ajudá-lo a crescer e acompanhamento para seu casamento e família e, por fim, ter companheiros com quem possa desenvolver amizades e relacionamentos saudáveis e sólidos”, enumera.
 
EXPECTATIVAS
Juracy Carlos Bahia, pastor e diretor-executivo da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil (OPBB), sediada no Rio de Janeiro, conhece bem o dilema dos colegas que, a certa altura do ministério, sentem-se questionados não só pelos outros, mas, sobretudo, por si mesmos. Ele lida com isso na prática e sabe que o preço acaba sendo caro demais. “Toda atividade que envolve vocação, como a do professor, a do médico ou a do pastor, é vista com muita expectativa. Quando se abandona esse caminho, é natural um sentimento de inadequação”. Para Bahia, o desencantamento com o ministério pastoral é fruto também do que entende como frustrações no contexto eclesiástico. Há pastores, por exemplo, que julgam não ter todo seu potencial intelectual utilizado pela comunidade. “Às vezes, o ministro acha que a igreja que pastoreia é pequena demais para seus projetos pessoais”, opina. Isso, acredita Bahia, estimula muitos a acumularem diversas funções, além das pastorais. “Eu defendo que os pastores atuem integralmente em seus ministérios. Porém, o que temos visto são pastores-advogados, pastores-professores, enfim, pastores que exercem outras profissões paralelas ao púlpito”, observa.
No entender do dirigente da OPBB, esse acúmulo de funções mina a energia e o potencial do obreiro para o serviço de Deus. A associação reúne aproximadamente dez mil pastores batistas e Bahia observa isso no seio da própria entidade: “Creio que metade deles sofra com a fuga das atividades pastorais para as seculares”. Contudo, ele acredita que deixar o ministério não é algo necessariamente negativo. “A pessoa pode ter se sentido vocacionada e, mais adiante na vida, por meio da experiência, das orações e interação com outros pastores, é perfeitamente possível chegar à conclusão que a interpretação que fez sobre seu chamado não foi adequada e sim emotiva”.
Quando, já na meia idade, casado e com dois filhos, ingressou no Seminário Presbiteriano do Norte (SPN), na capital pernambucana, Recife, Francisco das Chagas dos Santos parecia um menino de tanto entusiasmo. Nem mesmo as críticas de parentes para que buscasse uma colocação social que lhe desse mais status e dinheiro o desmotivou. “A igreja, para mim, é a melhor das oportunidades de buscar e conhecer meu Criador para que, pela graça, eu continue com firmeza a abrir espaço em meu coração para que ele cumpra sua vontade em mim, inclusive no ministério pastoral”, anotou em sua redação para o ingresso no SPN, em 1998. Ele formou-se no curso, foi ordenado pastor em 2003 e dirigiu igrejas nas cidades de Garanhuns e Saloá.
Hoje, aos 54 anos, Francisco trabalha como servidor público no Instituto Agronômico de Pernambuco. Ainda não curou todas as feridas e ressentimentos desde que, em 2010, entregou seu pedido de desligamento da denominação. Ele lamenta o tratamento recebido pelos seus superiores enquanto foi pastor. “Minha opinião sobre igreja não mudou. Nunca planejei um dia pedir licença ou despojamento do ministério. Mas entendo que somos o Corpo de Cristo, e, se uma unha dói, todos nós estamos doentes”, pondera. “Não é possível ser pastor sem pensar em restaurar vidas – e existem muitas vidas precisando de conserto, inclusive entre nós, pastores”.
A vida longe dos púlpitos ainda não foi totalmente sublimada e Francisco sabe bem que será constantemente indagado sobre sua decisão de deixar o ministério. “A impressão é que você deixou um desfalque, que adulterou ou algo parecido”, observa. Ele não considera voltar a pastorear pela denominação na qual se formou, porém não consegue deixar de imaginar-se como pastor. “Uma vez pastor, pastor para sempre”, recita, “muito embora as pessoas, em geral, acreditem que seja necessário um púlpito.”
Por Marcelo Brasileiro
Fonte: http://cristianismohoje.com.br/materia.php?k=854&__akacao=839398&__akcnt=3088de9c&__akvkey=b44c&utm_source=akna&utm_medium=email&utm_campaign=CH+12+Maio 

terça-feira, 1 de maio de 2012

O PERIGO DOS PARTIDOS DE EXTREMA DIREITA NA EUROPA.

 
É preocupante ver o crescimento no continente europeu dos grupos de extrema direita, visto que, embora pareça que o mundo já tenha se esquecido, na mente de muitos especialistas é ainda marcante a lembrança de que duas grandes guerras ocorreram nessa parte do globo e que afetou todas as nações exatamente influenciada por esses movimentos. Os ingrdientes se assemelham muito ao que já ocorreu no passado e funcionam como elementos altamente explosivos: desemprego, déficit econômico e alta dose de rejeição aos estrangeiros. É preciso orar e lembrar que o que ocorre na vida dos nossos irmãos dessa parte do planeta também poderá nos afetar e é responsabilidade nossa.
Veja alguns informes sobre essa matéria:

A ESCALADA DA EXTREMA DIREITA NA EUROPA

Como partidos radicais ganharam espaço no continente com discursos nacionalistas e ideias anti-imigrantes que beiram a xenofobia e o racismo
Renan Dissenha Fagundes
A chanceler Angela Merkel decretou a morte do multiculturalismo na Alemanha em um discurso no dia 17 de outubro. Merkel afirmou que foi uma ilusão pensar que imigrantes poderiam manter sua própria cultura e viver lado a lado com os alemães e que esse projeto "falhou completamente". Embora a chanceler tenha enfatizado que imigrantes são bem-vindos no país e que o islã já é parte da cultura moderna da Alemanha, o discurso sobre o fim do multiculturalismo mostra Merkel tentando se posicionar um pouco mais perto de uma tendência que se espalha pela Europa: o aumento do poder dos partidos de extrema direita.

Ao longo das últimas décadas, o poder nos principais países europeus, e na União Europeia como um todo, tendeu a ficar com partidos que estão mais ao centro do espectro político do que em qualquer uma de suas extremidades. O Parlamento Europeu, por exemplo, desde que foi criado, em 1979, é dominado por um grupo de centro-esquerda e por outro de centro-direita (maioria desde as eleições de 1999). Mas partidos de extrema direita estão aos poucos ganhando relevância no continente, conseguindo espaço até em redutos tradicionais da esquerda europeia. Onde a extrema direita está mais avançada? O que está causando essa guinada ultraconservadora?

"Não há dúvida de que partidos de extrema direita atraíram níveis impressionantes de apoio e conseguiram cargos públicos a nível nacional e europeu", afirma Matthew Goodwin, professor da Universidade de Nottingham, na Inglaterra. Na Holanda, o novo governo de centro-direita só conseguiu a maioria necessária para aprovar leis no Parlamento com o apoio de Geert Wilders, líder anti-islâmico do Partido pela Liberdade (PVV), que nas eleições deste ano se tornou o terceiro maior do país. Wilders já comparou o Corão ao livro Mein Kampf, de Adolf Hitler, e produziu um filme anti-islã chamado Fitna. Em troca de seu apoio, o PVV deve ganhar liberdade para, entre outros projetos, tentar coisas como banir a burca e adotar medidas mais severas contra a imigração.

Também com um discurso contra muçulmanos, a extrema-direita avançou na Suécia, reduto clássico da esquerda social democrata (mas desde 2006 governado por uma coalizão de centro-direita). O partido Democratas Suecos (SD), que surgiu de um movimento nacionalista chamado Bevara Sverige Svenskt [Mantenha a Suécia Sueca] e teria ligações com grupos neonazistas, conseguiu entrar no Parlamento pela primeira vez, depois de 22 anos de existência. Uma das principais peças da campanha do partido foi um vídeo em que eles pediam para os eleitores escolherem se o dinheiro do Estado deveria ser gasto com pensões para idosos ou com imigrantes.
>SAIBA MAIS
O discurso anti-imigração - e muitas vezes anti-islã - é a parte mais visível da crescente extrema direita europeia. Goodwin afirma que a preocupação com imigração e com as comunidades muçulmanas é um fator importante nesse crescimento, além de insatisfação com os partidos políticos e ansiedade com a economia. Na Holanda, cerca de 3 milhões dos 16 milhões de habitantes são imigrantes ou filhos de imigrantes. Na Suécia, são 1,5 milhões de 9 milhões. Se essa tendência se mantiver, no meio do século 21 a maioria dos países europeus terá de um quarto a um terço da população de origem não europeia. Em cidades como Rotterdam e Marseille, imigrantes logo serão maioria [o prefeito de Rotterdam, Ahmed Aboutaleb, é muçulmano e nasceu no Marrocos]. O historiador americano Bernard Lewis chegou a afirmar que a Europa será islâmica até o fim do século.

E o islã de certa forma está modificando a Europa. Quando os dinamarqueses quiseram impedir que imigrantes islâmicos importassem esposas - uma prática que limita a assimilação cultural - criaram uma lei que dificulta que qualquer cidadão da Dinamarca se case com alguém de fora da União Europeia. Quando a França quis proibir véus nas escolas, para evitar acusações de racismo, baniram também qualquer outro símbolo religioso. "Mais uma vez, a longo prazo, o preço para gerenciar a imigração é pago pela sociedade mais ampla, na forma de direitos", afirma Christopher Caldwell no livro Reflections on the Revolution in Europe: Immigration, Islam, and the West.

Para Cristian Norocel, pesquisador das universidades de Helsinki e Estocolmo, os muçulmanos são apenas bodes expiatórios, que canalizam a desconfiança popular e temores da crise econômica e dão um rosto para o que está acontecendo de errado no país. "Isso é muito semelhante à imagem dos judeus que foi usada pelos nacional-socialistas no início do regime nazista na Alemanha", afirma. Segundo Norocel, a população islâmica é retratada pelos partidos de extrema direita como sendo radicais, o que não é o caso. "A população muçulmana europeia é usada por partidos populistas radicais de direita como um pretexto para ganhar votos em cima da insatisfação popular com a cena política existente."

O nacionalismo e a ansiedade dos europeus não atingem só os muçulmanos. O governo do presidente Nicolas Sarkozy expulsou ciganos da França, mesmo sofrendo críticas da comunidade internacional. A situação dos ciganos não é melhor nos seus países de origem, no Leste Europeu. Na Hungria, o partido de extrema direita Jobbik está ganhando cada vez mais espaço. Como com os islâmicos em outros países, os ciganos acabam sendo apontados como a causa da crise econômica e do aumento do desemprego. Viktoria Mohacsi, líder política dos ciganos húngaros, afirmou para a Foreing Policy que a economia é a principal razão para o aumento do sentimento anticigano. Para Mohacsi, a entrada do país na União Europeia não ajudou a minoria que ela representa e a situação hoje é pior do que era durante o regime comunista.

Norocel, por outro lado, não acredita que a economia foi o fator determinante para a subida da extrema direita populista. "As recessões econômicas funcionaram como catalisadores, mas não são a principal razão", disse. "É uma mistura de descontentamento popular com os partidos políticos estabelecidos, aumento da desconfiança dos nativos com os imigrantes e aumento da incerteza econômica."

De qualquer forma, o discurso dos partidos radicais de direita parece estar fazendo sentido para uma parte dos europeus. Norocel acredita que partidos tradicionais de direita estão tentados assumir algumas das mensagens da extrema direita porque seria isso o que o cidadão médio quer. "A extrema direita está se preparando para se tornar parte do mainstream em toda a Europa, mas isso depende muito de como os sociais-democratas, e os partidos de esquerda em geral, vão reagir", disse. Para Norocel, o debate político precisa ser centrado "na solidariedade e na igualdade, não apenas em ganhos econômicos". "Caso contrário, os populistas da extrema direita vão explorar o medo e a incerteza das pessoas para piorar o clima político e social na Europa, e isso pode ter efeitos negativos em todo o planeta." 
Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI181892-15227,00-A+ESCALADA+DA+EXTREMA+DIREITA+NA+EUROPA.html 



Extrema-direita cresce em quase toda a Europa


A extrema-direita vai subindo ano após ano os degraus do poder e poucos são os países que estão a salvo da influência que o partido de ultradireita francês Frente Nacional exerce desde a década de 80: França, Itália, Inglaterra, Bélgica, Grécia, Holanda, Hungria, Suécia, Dinamarca, Finlândia, a bandeira ultradireitista recorre como uma doença incurável as democracias europeias. A extrema direita francesa fez escola em quase toda a União Europeia. O artigo é de Eduardo Febbro.


Eduardo Febbro - De Paris, na Carta Maior
Paris - O último filho nasceu na Grécia. A extrema direita, abraçada na crise que flagela este país há três anos, volta ao primeiro plano 38 anos depois da queda da ditadura dos coronéis (1967-1974). O Partido LAOS e o Aurora Dourada (Chrissi Avigi) somam mais de 8% de intenções de voto para as próximas eleições legislativas de seis de maio. Não é uma exceção na Europa. A ultradireita vai subindo ano após ano os degraus do poder e poucos são os países que estão a salvo da influência que o partido de ultradireita francês Frente Nacional exerce desde a década de 80: França, Itália, Inglaterra, Bélgica, Grécia, Holanda, Hungria, Suécia, Dinamarca, Finlândia, a bandeira ultradireitista recorre como uma doença incurável as democracias europeias.

A extrema direita francesa fez escola em quase toda a União Europeia. O partido ultradireitista Frente Nacional surgiu na França a partir dos anos 80, justamente depois da eleição do socialista François Mitterrand à presidência da República (maio de 1981). O FN já existia, mas sua participação era secreta. As táticas eleitorais de Mitterrand destinadas a debilitar a direita clássica foram um dos fatores que levaram a ultradireita francesa a se converter, com o passar dos anos, em um partido poderoso, capaz de perturbar o equilíbrio político clássico e contaminar com suas ideias todos os debates, da esquerda à direita.

Três décadas mais tarde, o Frente Nacional, agora dirigido pela filha de seu fundador, Marine Le Pen, obteve o maior resultado eleitoralde sua história: quase 18% dos votos no primeiro turno das eleições presidenciais do dia 22 de abril passado. A ultradireita xenófoba e populista é um míssil político tóxico com suficiente força como para desfazer maiorias, precipitar a queda de governos e conseguir que suas ideias impregnem a ação política dos partidos conservadores. A extrema direita tem, de fato, duas fases históricas; a que vai de 1945 ao ano 2000, onde o antissemitismo foi norma, e a que se inicia com o século XXI, onde a islamofobia é o atrativo das urnas.

Depois da França, o segundo marco da ultradireita teve lugar na Áustria, entre os anos 80 e 2000. O FPÖ, Partido Austríaco da Liberdade, fundado no começo dos anos 50 pela ala nacionalista e populista da extrema direita, é ainda um dos mais sólidos da União Europeia. O FPÖ teve sua hora de glória na década de 80, quando formou uma coalizão governamental com os socialdemocratas do SPÖ. Depois, sob a influência de seu carismático líder, Jörg Haider, a ultradireita nacionalista austríaca regressou ao poder em 1999 após obter 27% dos votos nas eleições legislativas desse ano.

Playboy e negacionista, Haider prosseguiu a obra de Jean Marie Le Pen, o fundador do Frente Nacional Francês. Transcorreu um quarto de século e a ultradireita é agora um movimento normalizado, admitido e legitimado. Esta corrente mudou suas ideias e passou de um antissemitismo secular à islamofobia delirante e à crítica violenta contra Bruxelas. O exemplo mais moderno e devastador desta reencarnação é o líder populista holandês Geert Wilders e o Partido pela Liberdade, PVV. Desde as eleições de 2010, onde obteve 24% dos votos, o PVV é um aliado da coalizão de direita-conservadora que governou a Holanda até que o próprio Wilders fizesse balançar os alicerces do primeiro-ministro Mark Rutte forçando eleições antecipadas. Um desacordo no seio da coalizão sobre os planos de austeridade demonstrou a capacidade destrutora da ultradireita. Wilders é um islamófobo notório, defensor do fechamento por completo as fronteiras à imigração. Em 2008 o chefe do PVV assinou um panfleto infecto contra o Islã e em seguida realizou um documentário, Ftina (A Discórdia), no qual combinou imagens dos versos do Corão com atentados terroristas.

Nos países escandinavos, o retrocesso dos partidos socialdemocratas deu lugar ao surgimento de partidos de ultradireita. Muitos destes passaram da marginalidade a formar alianças de governo. Esse é o caso da Dinamarca entre 2009 e 2011: em 2009, na Noruega, o Partido do Progresso alcançou 22% dos votos nas eleições: na Finlândia, a coalizão formada pela esquerda e a direita impediu in extremis que o Partido dos Verdadeiros Finlandeses integrasse o governo logo que, após as eleições legislativas de 2011, esta agrupação da extrema direita obtivera 19% dos votos e passara a ser a terceira força política do país: na Suécia, a extrema direita do partido Democratas da Suécia levou 5,8% dos votos nas eleições legislativas e entrou pela primeira vez no Parlamento.

A Itália é uma exceção. Tem uma ovelha negra, a regionalista e fascistóide, Liga do Norte, de Umberto Bossi, mas o movimento ultra mais poderoso que existia sofreu uma transformação inédita até hoje. O neofascista Movimento Sociale Italiano, de Gianfranco Fini, se transformou, a partir de 1994, em um sólido partido de direita, a Alianza Nazionale. Essa transmutação foi muito além do mero nome: Fini, que depois formou aliança com Silvio Berlusconi, condenou o antissemitismo, reconheceu como válidos os valores da Resistência e os termos da Constituição. Entretanto, em dezembro passado, um militante do movimento de extrema direita italiano CasaPound, assassinou dois imigrantes senegaleses.

Na Hungria, as milícias do partido neofascista Gobi, "A Guarda Húngara”, praticam com toda impunidade sua brincadeira predileta: sair à caça dos ciganos, muito numerosos no nordeste do país.

Uma depois da outra, em maior ou menor medida, as sociedades do Velho Continente sucumbem ao canto da sereia do ultradireitismo. A receita do êxito é sempre a mesma: a globalização e suas inúmeras e reais consequências, entre elas as deslocalizações, o desemprego, a imigração, a chama do confronto do “povo” contra as elites “corruptas”, a ameaça do Islã e a identidade nacional em perigo pelo multiculturalismo.

Dominique Reynié, autor do ensaio “Populismes”, destaca o duplo impulso dos valores que a extrema direita apregoa hoje: “por um lado está a proteção dos chamados interesses materiais, ou seja, o nível de vida ou do emprego, e, pelo outro, o patrimônio imaterial, a reivindicação de determinado estilo de vida ameaçado pela imigração e a globalização”. A força da extrema direita consiste em apresentar-se como uma resposta “anti-sistema” frente a uma arquitetura formada pelas elites corrompidas e “ofuscadas” pela globalização e o multiculturalismo. O partido de ultradireita britânico British National Party se nutre desse discurso. Os ultranacionalistas e ultradireitistas do partido Vlaams Belang conseguiram pesar de maneira decisiva no tabuleiro político com uma linha política similar.

Este coquetel de discursos remete diretamente aos anos da Alemanha Nazista. Hitler havia irrompido com um acerbo ataque às elites industriais e bancárias, além de seu criminoso e exterminador discurso sobre a pureza da raça. A repercussão deste discurso sobre as construções políticas dos países é considerável. A partir de 14 ou 15% de votos obtidos pela extrema direita, os partidos conservadores tradicionais caem na tentação de imitar seus princípios. A mutação é assim considerável e o transtorno dos valores termina em uma grande confusão da qual sai sempre o mesmo ganhador: a ultradireita.

As eleições presidenciais francesas são um exemplo espetacular dessa corrida protagonizada pelos conservadores liberais para subtrair à extrema direita seu saldo eleitoral. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, saiu em busca dos votos que lhe faltavam para ser reeleito com um argumentário digno da mais pura extrema direita: logo após perder o primeiro turno, Sarkozy considerou, entre outras delicadezas, que Marine Le Pen era “compatível com a República”.

O caso grego mostra até o absurdo como a crise apaga a memória. Dos dois partidos de extrema direita, LAOS e Aurora Dourada (Chrissi Avigi), o primeiro passou a formar parte da coalizão governamental criada no ano passado em meio à crise. O segundo, Chrissi Avigi, está se convertendo em um ator importante. O Chrissi Avigi é um partido pró-nazista, cujo emblema se parece com uma suástica. A recuperação do medo ao Islã, a agressão verbal contra os imigrados são hoje, nas sociedades europeias, uma das sementes mais frutíferas da conquista do poder.

Fonte: http://www.outroladodanoticia.com.br/inicial/34416-extrema-direita-cresce-em-quase-toda-a-europa.html