domingo, 23 de setembro de 2018

CUIDANDO DE SI MESMO PARA CUIDAR DOS OUTROS.


Algumas pesquisas entre o público evangélico têm demonstrado que o número de pastores com problemas psiquiátricos tem aumentado. Segundo o psiquiatra Dr. Pércio, essas pesquisas tem apontado, que entre os pastores, esse índice é maior que em outras profissões. Recentemente foi verificado que em um grupo amostral 26% eram pastores portadores de problemas psiquiátricos no caso, depressão. Segundo a pesquisa de Lotufo Neto, medico psiquiatra e professor de medicina do hospital das clinicas em São Paulo, foi encontrado maior incidência de doenças mentais entre ministros protestantes se comparados à população geral, e os transtornos depressivos responderam por 16,4% das doenças mentais encontradas nos ministros protestantes.

As causas mais comuns indicadas para depressão em pastores são:

  • Problemas com lideranças de igreja;
  • Baixa remuneração;
  • Mudança constante de igreja;
  • Falta de apoio da igreja local, pastor tem expectativas que não são correspondidas pela igreja;
  • Estresse relacionado à atividade pastoral;
  • Também foram observadas as queixas das esposas com relação ao tratamento dado pela igreja;
  • Pecado e enfraquecimento na fé.

Este é um caso que se complica no contexto do ministério pastoral ou da liderança cristã ainda pelo fato de uma visão triunfalista, onde entende-se que pessoas que são realmente “homens de Deus” não enfrentam problemas como o da depressão.

Uma consequência que tem surgido diretamente desse cenário da vida pastoral é o aumento de casos de pastores que estão se suicidando. Na maioria das vezes o suicídio vem como um complemento de um agravamento em casos de depressão.

De acordo com o Instituto Schaeffer, 70% dos pastores lutam constantemente com a depressão, e 71% se dizem esgotados. Além disso, 80% acredita que o ministério pastoral afeta negativamente as suas famílias, e 70% dizem não ter um “amigo próximo”. Talvez estes dados nos forneçam um retrato da condição emocional da maioria daqueles que ocupam nossos púlpitos.

Em Atos dos Apóstolos 20.28 lemos o seguinte: “Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo os colocou como bispos, para pastorearem a igreja de Deus, que ele comprou com o seu próprio sangue.” Diante deste texto temos pelo menos três implicações:

  1. A primeira é que se somos pastores, ou líderes, da igreja de Deus, então precisamos ter a responsabilidade de cuidar da nossa própria vida.
  2. A segunda é que é nosso dever cuidar da vida de outros que Deus nos tem confiado. 
  3. E a terceira é que ao fazermos isso, cuidarmos da vida daqueles que Deus nos confiou, não devemos “morrer pela igreja”. Jesus Cristo já morreu por ela.

Texto adaptado: Pr Ricardo Costa.

Fonte: https://ctpi.org.br

Memórias de um herói esquecido.

David Lazarus


Há 80 anos, durante o mandato britânico, um anglicano nascido na Austrália – cristão sincero – serviu como comissário distrital para a região da Galileia. O comandante Lewis Yelland Andrews (1896-1937) incentivou os judeus empenhados em residir novamente no país, com as seguintes palavras famosas: “Nós, cristãos, cremos que o Messias virá e salvará a humanidade, mas somente depois que houver um Estado judeu estabelecido... Depois de, durante toda minha vida, ter a esperança de me tornar um auxiliar para a reconstrução da nação judaica, considero-me feliz em ter esse privilégio agora”.
Dúzias de comunidades ao norte de Israel devem sua formação em parte a Andrews. Ele ajudou a passar dezenas de milhares de hectares de terra à propriedade judaica, o que possibilitou a instalação de postos avançados de conjuntos residenciais, nos quais os judeus que fugiram dos ataques árabes estariam protegidos. Andrews igualmente teve grande responsabilidade por uma decisão da Comissão Peel, no ano de 1937, na qual áreas ocidentais do país ao longo do mar Mediterrâneo foram antecipadamente destinadas para o domínio das autoridades judaicas, o que deixou os árabes muito irritados. No dia 26 de setembro de 1937, quando estava a caminho para participar do culto na igreja de Cristo, em Nazaré, Andrews foi assassinado por um árabe.
No dia após o seu assassinato, os judeus comemoravam Simchat Torá. Na Galileia eles interromperam as danças festivas e as trocaram pelo rolo da Torá, dedicando reconhecimento ao seu amigo em seu último trajeto para Jerusalém. Milhares se postaram nas ruas onde passaria o esquife de Andrews. Os líderes dos povoados e da corte legislativa judaica levaram Andrews para a última morada no cemitério protestante no monte Sião.
“Às 13:30 horas o caixão chegou a Jerusalém, acompanhado de um grupamento de honra formado de policiais e soldados britânicos”, relatou o jornal Davar no dia seguinte ao enterro. “O caixão de Andrews estava envolto com uma bandeira britânica e uma australiana. Todos os líderes da administração britânica e dos institutos nacionais compareceram [...]. O bispo anglicano dirigiu o culto memorial e recitou o salmo preferido de Andrews. Quando o esquife foi baixado no sepulcro, o exército executou uma salva de três tiros, houve um toque de clarim, foram depositadas coroas e o sepultamento da vítima do terrorismo árabe chegou ao fim”.

Como resposta ao atentado, os britânicos prenderam centenas de líderes muçulmanos, sendo que cinco deles foram deportados para as Ilhas Seychelles. O Conselho Superior Muçulmano foi dissolvido e seus bens foram confiscados. O mufti de Jerusalém, Haj Amin al-Husseini, que havia incitado o assassinato de Andrews, se escondeu na mesquita Al-Aqsa, protegido por guardas armados. Pouco tempo depois, al-Husseini conseguiu fugir para a Europa, onde colaborou com Adolf Hitler e os nazistas.
Até os dias atuais a sepultura é mantida pelo governo britânico. Na cidade de Netanya foi dado o nome de Andrews para uma rua, porém, mesmo assim, ele caiu em amplo esquecimento. — (israeltoday.co.il)

Fonte: https://www.chamada.com.br/mensagens/memorias_de_um_heroi_esquecido.html

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Sobre o aborto e as perguntas que a mídia não quer fazer



Nestes últimos dias, o tema do aborto tem voltado ao centro das discussões nacionais. Em um passo muito concreto, na sexta-feira, 3 de agosto, o STF deu início a uma série de audiências em preparação para discutir a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 442, ajuizada pelo PSOL, que questiona os artigos 124 e 126 do Código Penal. Esses artigos determinam como crime a interrupção intencional da gravidez tanto para a mulher como para quem realiza o procedimento. A proposta visa a liberação do aborto até a 12ª semana de gravidez, sem necessidade de autorização legal.
A discussão certamente é necessária, mas é curioso como o debate trata de alguns temas e, intencionalmente, omite outros. Em um documentário de um grande emissora de TV, o tema foi discutido com testemunhos e dados apresentados como científicos. Durante quase 30 minutos relataram o quanto sofrem mulheres que tentam realizar o aborto em clínicas clandestinas. Caso após caso foi descrito, com as devidas personagens testemunhando com voz distorcida e imagem em silhueta. As histórias e os abusos a que estas mulheres se submetem, sempre pior para as pessoas de baixa renda, são no mínimo trágicas. Foram também incluídos, sem nenhum questionamento, comentários sobre o quão mais seguro seria caso esses abortos fossem feitos na rede de saúde regular. Neste momento, qualquer pessoa com um senso crítico precisa comentar: “Mais seguro para a mulher, pois para o feto o resultado continua sendo o óbito”.
A Constituição brasileira garante o direito do ser humano a partir da concepção.
Essa é a primeira questão que é cirurgicamente eliminada do debate. A Constituição brasileira garante o direito do ser humano a partir da concepção. O respeitado jurista dr. Ives Gandra Martins afirma:
A Constituição brasileira declara, no caput do artigo 5º, que o direito à vida é inviolável; o Código Civil, que os direitos do nascituro estão assegurados desde a concepção (artigo 2º); e o artigo 4º do Pacto de São José, que a vida do ser humano deve ser preservada desde o zigoto.[1]
Por que então a atual discussão não aborda a questão do início da vida e do direito do ser humano ainda não nascido? A única resposta possível é que este é um ponto que os grupos de pressão pró-aborto não conseguem defender em suas argumentações. Para o cristão, a pergunta permanece: quando é que começa a vida? O que a Bíblia tem a dizer sobre esse tema?
Dentre as muitas passagens possíveis, queremos nos concentrar em apenas duas. A primeira é Salmo 139.16, que afirma:
Os teus olhos viram o meu embrião; todos os dias determinados para mim foram escritos no teu livro antes de qualquer deles existir.
Com certeza Deus, em sua presciência, nos conhece antes mesmo de nossa concepção (momento em que o espermatozoide se une ao óvulo). No entanto, mais do que apenas conhecimento, o que por si só já indicaria que uma vida teve início ali, o salmista afirma ainda que essa visão de Deus tem uma relação direta com a vida que este indivíduo terá. Deus já tem uma relação com cada ser humano a partir do ventre de sua mãe. A palavra usada para “embrião” é usada somente nesta passagem no Antigo Testamento, mas poderia ser entendida (caso Davi tivesse conhecimento biológico) como a massa celular ainda indistinta. Se Deus viu essa massa e a trata como um indivíduo, temos o primeiro argumento de que a vida começa na concepção.
No entanto, uma segunda passagem que tem gerado muita discussão é a passagem de Êxodo 21.22-25. Na NVI (e também na NVT) lemos:
Se homens brigarem e ferirem uma mulher grávida, e ela der à luz prematuramente, não havendo, porém, nenhum dano sério, o ofensor pagará a indenização que o marido daquela mulher exigir, conforme a determinação dos juízes. Mas, se houver danos graves, a pena será vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, contusão por contusão.
O texto é bastante claro. Caso, devido a uma briga, uma mulher grávida for atingida e a criança nascer prematuramente, uma multa será paga; agora, se houver dano tanto à criança como à mulher, a penalidade será dente por dente, olho por olho, vida por vida. Ou seja, caso a criança morra, quem causou o acidente deverá sofrer o mesmo destino.
Curiosamente, o problema é criado devido a traduções mais antigas que distorcem o sentido original do termo. Por exemplo, tanto a Almeida Corrigida Fiel quanto a Revista e Atualizada traduzem o verso 22 assim:
Se alguns homens pelejarem, e um ferir uma mulher grávida, e for causa de que aborte, porém não havendo outro dano, certamente será multado, conforme o que lhe impuser o marido da mulher, e julgarem os juízes.
Estas (e outras) versões preferem traduzir o texto como “aborte” e não “der à luz prematuramente”. Traduzido desta forma, parece que se o resultado da briga for apenas um aborto, uma multa será suficiente, mas se houver dano à mulher, então uma pena mais rigorosa deverá ser aplicada. Este entendimento indicaria que o feto tem um valor menor do que a pessoa já nascida. Dentro desta perspectiva, o aborto não seria condenado tão rigorosamente quanto um assassinato. A questão fica então em qual é o sentido da palavra traduzida por “der à luz prematuramente”, em alguns casos, e “abortar”, em outros.
A palavra usada em hebraico é yâtsâ Ela é uma palavra muito comum no Antigo Testamento. Na verdade, é usada mais de mil vezes. Em todos esses usos, a palavra tem apenas um sentido: sair ou ir. Em nenhum outro texto essa palavra é usada com o sentido de abortar ou de morte. Curiosamente, existem pelo menos duas outras palavras em hebraico que significam aborto ou natimorto, palavras estas que poderiam e são usadas várias vezes no Antigo Testamento. Ou seja, Moisés poderia usar uma dessas palavras se seu intuito fosse indicar aborto. Em resumo, também nesta passagem o valor da criança é o mesmo da mulher; mesmo que nasça prematuramente, não há qualquer diminuição do valor do feto.
Assim, na compreensão bíblica, a vida começa na concepção. Só podemos imaginar que este tema não é discutido na mídia pois não interessa ao argumento dos grupos pró-aborto. Além disso, antes de que surja uma desculpa de que esta é uma posição religiosa, importa destacar que a questão de quando começa a vida é, antes de tudo, uma questão ética e, consequentemente, jurídica. Se uma sociedade entende que a vida só começa após o nascimento, então por que limitar a legalização do aborto à 12ª semana? Por que não estender este direito de escolha da mãe até minutos antes do parto? Caso contrário, se uma sociedade entender que a vida começa na concepção, então qualquer debate sobre aborto deveria incluir considerações sobre os direitos da vida que será abortada.
Outra discussão que está na base deste debate sobre o aborto é: o quanto devemos ser responsáveis por nossas escolhas? Repare bem, não estamos, em geral, falando de escolhas nas quais a pessoa, escolhendo, não tem noção das possíveis consequências. Na esmagadora maioria dos casos, o homem e a mulher que geram uma criança têm perfeita noção, pelo menos, da possibilidade de gerarem uma criança. O humanismo tem caminhado a passos largos para isentar as pessoas das consequências de suas escolhas. Uma das estratégias é “patologizar” qualquer comportamento irresponsável ou destrutivo. Com certeza há que se estudar e considerar patologias que geram comportamentos destrutivos, mas cada vez mais isso é usado para poupar pessoas das consequências de suas ações. Recentemente, inclusive, surgiram ações que propõe considerar a pedofilia apenas como uma disfunção mental e não necessariamente um crime. Infelizmente, ao pouparmos a pessoa que realizou a ação destrutiva, seja esta qual for, estaremos penalizando a vítima. Como diz o ditado: “Não existe almoço de graça... alguém pagou por isso”.
Quanto devemos ser responsáveis por nossas escolhas? Repare bem, não estamos, em geral, falando de escolhas nas quais a pessoa, escolhendo, não tem noção das possíveis consequências.
Uma vez mais, como cristãos, podemos nos esquivar das consequências de nossas escolhas? A primeira passagem que nos informa a respeito é Gálatas 6.7-8:
Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear isso também colherá. Quem semeia para a sua carne da carne colherá destruição; mas quem semeia para o Espírito do Espírito colherá a vida eterna.
O apóstolo ensina uma relação muito direta entre o que fazemos e suas consequências. Certamente, devido às misericórdias de Deus, ele com frequência nos poupa de consequências que seriam naturais às nossas escolhas. No entanto, vale lembrar que Deus não tem a obrigação de nos poupar das consequências. Um exemplo é como ele lidou com o adultério e assassinato que Davi cometeu. Devido ao seu coração arrependido quando confrontado, Davi não foi morto, mas as consequências da morte de seu filho e dos conflitos em sua casa não foram retiradas.
O apóstolo continua em seu argumento declarando que esta é uma regra também espiritual, ou seja: se você semear de acordo com Deus colherá frutos espirituais, mas se semear de acordo com a carne também colherá frutos carnais. Isso obviamente não explica tantos sofrimentos que os santos de Deus têm passado, pois há muitas provações que teremos de enfrentar mesmo sem termos semeado para isso. No entanto, a regra da semeadura continua valendo. Eu, exceto pela misericórdia de Deus, sou responsável pelas escolhas que faço.
O mundo quer o direito de escolher suas ações, afirmar sua liberdade e determinar seu rumo. Ao mesmo tempo, se opõe e rejeita a ideia de que é responsável por suas escolhas.
Curiosamente, os grupos que defendem o aborto se auto intitulam pró-escolha (pro-choice, em inglês). Esta é uma característica do pensamento secular moderno. O mundo quer o direito de escolher suas ações, afirmar sua liberdade e determinar seu rumo. Ao mesmo tempo, se opõe e rejeita a ideia de que é responsável por suas escolhas. Isso acontece em todos os âmbitos. Queremos combustíveis fósseis, mas não aceitamos a responsabilidade pela poluição. Queremos comer todo tipo de comida, mas relutamos em aceitar as consequências da má alimentação. Queremos nos expressar livremente, mas nos ofendemos quando outros se expressam de um modo considerado ofensivo por nós. No tema em questão, queremos o prazer e a liberdade de escolhermos nossas relações sexuais, mas não aceitamos que relações sexuais com frequência geram filhos...
Certamente estas duas questões (Quando começa a vida? e Podemos nos esquivar das consequências de nossas escolhas?) não esgotam a discussão, mas nos conduzem a verdades fundamentais sobre o tema. Não deveria nos surpreender que estes assuntos estejam sendo evitados pelos grupos pró-aborto. No entanto, somos chamados a “seguir a verdade em amor”. Um exame sério da Bíblia nos leva necessariamente a uma posição de defesa da vida, tanto do feto como da mãe. Não podemos fazer uma opção de defender a vida de mães em detrimento da vida do feto. Neste debate que afeta toda a nossa nação, minha oração é que sejamos claros tanto em proclamar a verdade como em declarar seu amor.
  1. Ives Gandra Martins, “Constituição garante o direito à vida desde a concepção”, Consultor Jurídico, 28 maio 2008. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2008-mai-28/constituicao_garante_direito_vida_concepcao>.

Daniel Lima foi pastor de igreja local por mais de 25 anos. Formado em psicologia, mestre em educação cristã e doutorando em formação de líderes no Fuller Theological Seminary, EUA. Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida por 5 anos, é autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem 4 filhos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995.


Fonte: https://www.chamada.com.br/mensagens/aborto.html

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

A Herança dos Anabatistas


Muitos já ouviram falar da Reforma de Zurique, e do seu fundador Ulrico Zuínglio. Muitos, porém, não sabem que, ao mesmo tempo, ocorreu mais um movimento espiritual em Zurique e que inicialmente Zuínglio o apoiava.
Trata-se dos chamados anabatistas. “Chamados” aqui é empregado literalmente, porque eles na verdade, a princípio, não se chamavam assim. Do mesmo modo, inicialmente os cristãos não se chamavam de “cristãos”, mas eram assim denominados por outras pessoas (At 11.26).
A exemplo dos reformadores, esses anabatistas pretendiam renovar a igreja. “Reformador” significa “renovador” e não fundador de igreja. No entanto, como é notório, tudo aconteceu de maneira diferente. Também aconteceu de modo diferente do que os anabatistas o imaginaram.
Assim como os reformadores, eles queriam trazer a desviada Igreja Católica de volta ao evangelho. Um aspecto nesse sentido era o batismo.
Antes que o cristianismo se tornasse a igreja estatal romana, os crentes não batizavam bebês. A Bíblia demonstra que o batismo está vinculado à decisão consciente de seguir a Jesus – um bebê não consegue tomar essa decisão. Os reformadores igualmente se preocupavam com essa questão. Alguns afirmam, por exemplo, que o próprio Lutero estava muito próximo de aceitar o batismo pela fé. No final, porém, ele permaneceu adepto ao batismo infantil, assim como Zuínglio.
Assim, não demorou muito para que surgissem opiniões diferentes. Para os reformadores, bem como para os católicos, os anabatistas praticavam o “duplo batismo”, pois, na opinião deles, eles batizavam novamente as pessoas. No entanto, nesse aspecto eles consideravam o batismo que praticavam como o “correto”, porque o batismo de bebês para eles não era considerado como batismo. Essa era uma diferença significativa diante da maioria dos reformadores, mas de longe não era a única.
Com essa inovação, os anabatistas pretendiam avançar em diversas áreas, mais do que Zuínglio, Lutero e os demais reformadores. Eles pretendiam viver assim como Jesus viveu com seus discípulos e as mulheres que o seguiam, e como os primeiros cristãos em Jerusalém.
Para os reformadores, bem como para os católicos, os anabatistas praticavam o “duplo batismo”, pois, na opinião deles, eles batizavam novamente as pessoas.
Outro tema dos anabatistas era a vida comunitária, com o uso comum de bens. Isso significava ter tudo compartilhado ao invés de propriedades privadas. Para a Igreja Católica Romana daquela época, isso representava um grande desafio. Ela possuía muitas propriedades, como extensas áreas de terra, por exemplo. Sim, ela era muitíssima rica e, como o jovem rico da Bíblia, não queria se desfazer de sua riqueza. Os reformadores não tinham as mesmas exigências; no entanto, eles também não queriam abrir mão totalmente de posses em geral.
A riqueza e o poder a ela relacionada é uma grande tentação. Muitas pessoas já foram vencidas por ela. Por isso, os anabatistas não queriam cair nessa tentação e optaram conscientemente por um estilo de vida mais simples e modesto. Para eles, ocupar um cargo ou uma posição de liderança não era primordialmente uma posição de poder, mas de serviço, como o Senhor falou: “O maior entre vocês deverá ser servo” (Mt 23.11). Esse modo de pensar era fortemente contrário ao pensamento geralmente aceito. Esse modo de vida e a declaração a seguir de Jesus conduziram à seguinte conclusão:
“Meu reino não é deste mundo” – isso Jesus também havia falado. Por isso os anabatistas pretendiam estabelecer uma estrita divisão entre igreja e estado. Podemos observar que Jesus realmente transformou o mundo, mas que para isso não utilizou a via política. Ele nunca se envolveu em questões políticas polêmicas, nem mesmo na questão da opressão exercida pelos romanos. Ele também não aceitou a provocação, por exemplo, quando o assunto era o dos impostos: “... deem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22.21), ele falou. O Senhor agiu assim, mesmo sabendo que com o dinheiro desses impostos o domínio dos romanos seria ainda mais fortalecido. Em minha opinião, pode-se dizer que Jesus viveu separando a igreja do estado.
Os anabatistas pretendiam estabelecer uma estrita divisão entre igreja e estado.
A Igreja Católica, no entanto, tinha fortes pretensões de poder. Ela se considerava como a instância mais elevada da terra. Por isso, o papa era então a única pessoa que poderia coroar um rei.
Os reformadores não compartilhavam essas ideias de exercer o poder. Eles, no entanto, procuravam trabalhar em conjunto com as autoridades para, em caso de necessidade, aproveitar seu poder e força; também na área militar – como podemos ver no exemplo de Zuínglio, com as guerras de Kappel. Aqui chegamos a mais uma diferença em relação aos anabatistas:
Jesus havia dito: “Amem os seus inimigos” (Mt 5.44). Não se ama o inimigo matando-o. Os primeiros cristãos estavam muito conscientes disso. Nos primeiros 200 anos, praticamente não se via nenhum cristão ingressando nas forças armadas. Ao contrário, sabe-se de casos em que cristãos daquela época foram martirizados porque se recusavam a servir como soldados.
Somente após Constantino, o Grande, e o seu lema: “Com esse sinal vencerás” (o sinal da cruz), o exército e o serviço militar passaram a ser “socialmente aceitos” por muitos cristãos. Hoje poderíamos questionar: será que os ensinamentos de Jesus mudaram? Os primeiros cristãos estavam errados?
Com o passar dos séculos a igreja passou a se afastar mais e mais das diversas doutrinas de fé da Bíblia. A Igreja Católica logo enriqueceu e estava empenhada pelo poder. Com essa mentalidade de poder muitos fundamentos bíblicos foram abandonados até que, na Idade Média, esses posicionamentos errados ficaram evidentes. As pessoas então tornaram-se dispostas a ouvir os renovadores que pretendiam eliminar esses equívocos.
A ideia de não reagir dos anabatistas ainda continuava. Eles também não queriam levar ninguém diante de um tribunal mundano. Paulo escreveu: “Acaso não há entre vocês alguém suficientemente sábio para julgar uma causa entre irmãos?” (1Co 6.5). Eles não consideravam esse versículo somente em relação a irmãos, mas também de tal maneira que um cristão não deveria procurar ser julgado por um juiz incrédulo.
Os anabatistas não reagem com violência quando são roubados, mesmo que isso causasse a eles muito prejuízo durante a sua história. Quando ouvi falar nisso pela primeira vez, pensei: “Não há como sobreviver duas semanas nessas condições”. Nesse meio tempo, no entanto, descobri e pude verificar pessoalmente que justamente os anabatistas nos EUA não apenas sobrevivem nessas condições, mas se sentem muito bem. Isso é algo notável, principalmente porque os EUA são conhecidos como um povo muito rápido em acusar e levar outras pessoas a juízo.
Onde, então, temos nossa proteção? Em quem ou em que temos mais confiança? Teríamos condições de sobreviver sem a proteção de soldados e de armas?
No Antigo Testamento, Israel foi muitas vezes ameaçado por exércitos poderosíssimos. Os israelitas então clamavam ao Senhor. E o que ele fazia? Numa ocasião, ele enviou um anjo que, em uma noite, matou um exército de 185.000 soldados (2Rs 19.35). Noutra ocasião, mediante a interferência do Senhor os inimigos de Israel mataram-se entre si (2Cr 20). “Pois a batalha não é de vocês, mas de Deus” (2Cr 20.15). Nesses casos, os israelitas nem precisaram lutar. E nós, ainda cremos que ele faça isso hoje? Cremos que Deus faria isso por nós?
Hoje a maioria dos anabatistas “clássicos” vivem na América do Norte: no Sul do Canadá e no Norte dos EUA. Após vários séculos de perseguições sangrentas, encontraram a paz ali. Não sabemos a quantidade exata deles. Sabe-se que são em torno de algumas centenas de milhares os que mantiveram seu patrimônio de fé anabatista até os dias de hoje.
Hoje a maioria dos anabatistas “clássicos” vivem na América do Norte: no Sul do Canadá e no Norte dos EUA.
Na Europa, principalmente na Holanda, ainda há os menonitas, que compõem um dos três ramos dos anabatistas, além dos huteritas e dos amish. Muitos menonitas, porém, não vivem mais tão fielmente aos princípios da fé herdada. Há algumas décadas, novamente surgiram dezenas de igrejas com orientação anabatista. São os chamados “alemães-russos”:
Em seu extenso histórico de perseguições, os menonitas e os huteritas praticantes do novo batismo se refugiaram também na Rússia, onde Catarina, a Grande, prometeu a eles liberdade religiosa durante cem anos. No século XIX, esse prazo venceu e o novo czar deu o prazo de dez anos para que se tornassem como os russos. Assim, praticamente todos os huteritas fugiram para a América do Norte. No entanto, grande parte dos menonitas e outros imigrantes de origem alemã permaneceram na Rússia.
As pessoas do idioma alemão sofreram duramente sob o regime comunista surgido posteriormente – e principalmente durante as duas guerras mundiais. Assim, após 1989, centenas de milhares se mudaram para a Alemanha e lá fundaram suas próprias igrejas, para que pudessem continuar vivendo de acordo com a sua fé.
Hoje observamos alguns efeitos do pensamento anabatista nas seguintes áreas:
  • A separação entre igreja e estado, já praticada há tempos, tem sua origem no acervo de ideias dos anabatistas. Eles praticaram essa separação desde o início.
  • A ideia de fundar “igrejas livres” igualmente provém deles. Há uma placa fixada no prédio da primeira igreja livre, fundada em Zumikon, no século XVI. Ela lembra que ali foi fundada a primeira igreja livre da Suíça, e com ela o próprio conceito de igreja livre.
  • O batismo de pessoas adultas. Muitas das atuais igrejas livres retornaram a essa maneira bíblica de batismo.
E nós? Sim, qual é a nossa opinião sobre o pensamento dos anabatistas? Estamos dispostos a reconsiderar as convicções da nossa fé? Muitas igrejas não achavam e ainda não acham necessário fazê-lo. No entanto, pode-se observar que, com o decorrer do tempo, acontecem mudanças em cada igreja. Na maioria delas, porém, são mudanças que afastam das doutrinas da fé bíblica.
Estamos dispostos a aceitar a exortação? Estamos dispostos a ser examinados diante de toda a Palavra de Deus e a sermos reorientados por ela?
Rolf Sons
Fonte: https://www.chamada.com.br/mensagens/anabatistas.html

domingo, 27 de maio de 2018

Plantação de Igrejas: O que acontece quando a plantação não acontece do nosso jeito?



Provérbios 19.21 tem marcado o início do ano em Barlanark:
“Muitos propósitos há no coração do homem, mas o desígnio do SENHOR permanecerá” (Pv 19.21)
De fato, toda a nossa experiência aqui está resumida nesse único versículo.
Há 18 meses deixamos nossos ofícios como trabalhadores entre a juventude e partimos nessa jornada para plantar uma nova igreja centrada no evangelho na periferia. Por um lado, parece não ter passado muito tempo, mas por outro, parece que uma vida inteira ficou para trás.
Nessa fase, nossos planos eram reunir uma equipe, consolidar a nossa visão e começar a levar o evangelho às muitas pessoas perdidas ao nosso redor. Não demorou muito até que isso se transformou em nossa declaração de visão:
Fazer Jesus conhecido em Barlanark e além;
por proclamar o evangelho
por fazer discípulos
por viver em comunidade.
Isso gerou harmonia. Uniu-nos. Reuniu a nossa paixão por ver pessoas conhecerem a Jesus.
Logo nos foi concedido um ótimo espaço para trabalhar, localizado em um centro comunitário local. Começamos a estudar a Bíblia e a orar com outras pessoas todas as manhãs. Nós começamos a desenvolver relações de discipulado um a um para todos os membros do nosso grupo. Nós começamos a fazer novos contatos com não-cristãos. Começamos a ver pessoas professando a fé.

Muitos eram os planos do homem. E parecia que os planos estavam dando frutos

No final do verão de 2016, um ano após a jornada de tempo integral, tínhamos mais de 15 adultos professando a fé e trabalhando de acordo com essa visão. Tínhamos pelo menos quatro não-cristãos que estavam regularmente em nossas reuniões e contato com muitos outros. Nós tínhamos 9 crianças e mais uma estava a caminho. E parecia que estávamos com todo o ânimo. Nosso primeiro estagiário havia acabado de começar. Nosso grupo de crianças estava ansioso pelo começo. Nós estávamos encorajados. As pessoas pareciam conhecer Jesus.
E assim, decidimos que era hora de pensar em “dar início ao plantio”. A próxima etapa do nosso plano era nos reunirmos formalmente em um domingo. Isso nos uniria. Isso nos levaria de um grupo de cristãos em missão para sermos uma igreja local comprometida e pactuada. Isso proporcionaria um ponto focal para nossos contatos não-cristãos virem. Seria o fim e, ao mesmo tempo, o começo de nossa jornada.
Então, fizemos um plano. 2 de abril de 2017. Esse seria o nosso primeiro culto oficial. Era para isso que estávamos trabalhando. Esse seria o momento em que nosso sonho, nossa visão, se tornaria realidade.
Contudo, não nos leve a mal. Nós tínhamos certeza que esse não era apenas o nosso plano. De fato, nós havíamos orado por isso durante meses; na verdade, durante anos. Nós buscávamos sabedoria de outros. Nós havíamos discutido isso com frequência. E tudo parecia estar se encaixando. Parecia que verdadeiramente esse era o propósito do Senhor.

E então, pouco a pouco, os planos falharam

Pessoas que tinham professado a fé e estavam crescendo, abruptamente desanimaram e desistiram. Outros que estavam fortemente buscando ao Senhor, de forma lenta, mas seguramente, se afastaram. Alguns que estavam trabalhando segundo a visão foram chamados para servir em outros lugares. E outras pessoas que participavam da nossa visão perceberam que nossas convicções teológicas não estavam alinhadas.
O que parecia um grupo próspero de cristãos, vivendo para “Fazer Jesus Conhecido”, lentamente começou a rachar desde as bases.

Muitos eram os planos do homem, mas o Senhor tinha outras ideias

Estamos agora de volta aos 7 membros originais do nosso grupo que começamos há 2 anos. E os últimos 2 meses deixaram os seus rastros.
Nesse empreendimento ministerial, parece que tivemos que lidar com ataque após ataque, pessoal e espiritualmente. Temos enfrentado nossas casas sendo provocadas, cartas de oposição sendo escritas, rumores e falsas acusações sendo divulgadas, cristãos nos disseram que nossa visão nunca se realizará e a nossa equipe foi coagida a fazer parte da missão deles. No último ano, como duas famílias, precisamos lidar com o que parece ser falta contínua de sono e normalidade em casa, problemas intermináveis com carros, um aborto espontâneo, meses de dor física ou doença e um problema após outro no ministério pastoral.
E ainda, em muitos aspectos, isso não foi nada comparado aos últimos meses. Temos sido conscientes do cuidado do Senhor em todos esses momentos. A despeito dos tempos mais difíceis, ele nos sustentou.
Mas, certamente a implosão de nossa equipe de plantação de igreja logo antes da formalização da igreja local não era o propósito do Senhor? Certamente não era o nosso plano. Se você nos tivesse dado uma folha de papel em branco há apenas alguns meses e nos pedisse para anotar nosso pior cenário antecedente à plantação formal, mesmo essa suposição, provavelmente, não seria tão difícil quanto a realidade.

Este não era o nosso plano, mas era o propósito do Senhor

Isso muda tudo. Nós vamos desacelerar. Vamos nos reagrupar. Vamos adiar nosso estabelecimento formal como igreja local de 2 de abril para até que a poeira baixe.
Com razão, as pessoas nos perguntaram se estamos certos disso. Não devemos continuar em fé? Qual é o número mágico? Quero dizer, biblicamente falando, com certeza 7 é o ponto de partida ideal, certo?! E sem dúvida há verdade e sabedoria nisso.
Porém, muitos são os planos do homem…
Sentimo-nos mais em paz agora do que nos últimos 6 meses. Sentimo-nos mais seguros do que nunca de que agora é a hora de nos reunirmos e focarmos novamente em nossa missão. Sentimo-nos mais livres do que nunca para proclamar o evangelho. Sentimo-nos prontos para direcionar nossa energia novamente para a nossa tarefa de ir e “Fazer Jesus Conhecido”.
Talvez a parte mais difícil de tudo isso seja lidar com nosso próprio orgulho.
Estávamos ansiosos para ser a primeira plantação de igreja da Harper Church e do 20schemes em Glasgow. Estávamos ansiosos para poder liderar e pastorear essa igreja com a qual sonhamos por tanto tempo. Estávamos ansiosos para ir e iniciar imediatamente. No entanto, agora, novamente, estamos tendo que admitir nossa fraqueza e dizer que nossos planos fracassaram. Nós estamos tendo que encarar as pessoas nos perguntando se não é falta de fé o fato de não prosseguirmos enfrentando as dificuldades. Mais uma vez, estamos tendo que ser pacientes e confiar TOTALMENTE no Senhor.
Mas isso não é o fim. Não é um fracasso.
Essa é a poderosa e graciosa mão de Deus realizando os SEUS propósitos.

E nós vamos continuar

Apesar de uma abundância de evidências que poderiam sugerir o contrário, estamos CONVENCIDOS de que estamos no lugar que Deus deseja para nós. Por quê? Não porque temos uma equipe crescente de cristãos maduros prontos para dar tudo de si pela causa. Não porque temos prédios e atividades para atuar como uma rede segura para o nosso grupo. Não porque estamos vendo muitos chegarem a conhecer Jesus. Mas porque há quase 4.000 pessoas perdidas em nossa periferia que precisam ouvir as palavras do evangelho. Como ainda temos esse tesouro, reconhecidamente em vasos de barro frágeis e falíveis, isso por si só trará esperança aos desesperados. Porque Barlanark (como toda periferia e comunidade em nossa terra) ainda precisa conhecer Jesus.
“Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos; levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo. Porque nós, que vivemos, somos sempre entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal” (2Co 4.8-11).
E assim, mais do que nunca, nos apegamos à visão.

Mais do que nunca, estamos animados com o que Deus fará

Estamos convencidos de que isso será para o bem do nosso grupo. Que à medida que avançarmos, poderemos construir uma base mais firme. Que seremos capazes de aprender essas lições e prosseguir em alegria e força renovadas. É uma graça de Deus nos desacelerar nesse ponto, em vez de nos deixar implodir quando tivéssemos começado de fato.
E assim estamos convencidos de que isso será para a glória suprema de Deus. Ele está corrigindo toda a pretensão de que temos esta plantação de igreja em pleno controle. Ele está deixando claro que somente ele edificará a sua igreja. Deus está mostrando ao mundo que isso é TUDO para ele.
Portanto, continuamos a proclamar o evangelho. Continuamos a fazer discípulos. Continuamos a viver em comunidade. Continuamos a orar ansiosamente para que a vontade do Senhor seja feita e ele realmente edifique a sua igreja e traga muitas pessoas perdidas para que conheçam Jesus em Barlanark e além.
Nós não o planejamos dessa maneira. Mas o Senhor o planejou. E por isso estamos contentes.
Há muitos propósitos no coração do homem, mas o desígnio do SENHOR permanecerá.
Por: Pete Stewart. © 20schemes. Website: 20schemes.com. Traduzido com permissão. Fonte: Church Planting; What Happens When It Doesn’t Go Our Way?
Original: Plantação de Igrejas: O que acontece quando a plantação não acontece do nosso jeito? © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Tradução e Revisão: William e Camila Rebeca Teixeira.

O que torna possível a reforma de uma igreja?

Plantar igrejas parece ser a obra mais importante em nossos dias. Mas eu diria que revitalizar igrejas existentes é, igualmente, importante para a causa do reino. De fato, revitalizar igrejas não saudáveis nos permite obter duas coisas como resultado de uma única obra. Não somente estabelecemos uma igreja reformada e vibrante para o evangelho, mas também eliminamos o testemunho medíocre que havia antes.
Igrejas doentes são, como Mark Dever o afirmou, “forças antimissionárias terrivelmente eficazes”. Elas anunciam à comunidade: isto é o cristianismo! O cristão é assim! Esses falsos anúncios difamam o evangelho e, na realidade, impedem a evangelização nas áreas adjacentes. Mas, quando uma igreja é transformada, o evangelho prospera enquanto a comunidade é confrontada com um genuíno testemunho coletivo a favor de Cristo.
Já testemunhei duas reviravoltas em igrejas: uma em Louisville (Kentucky) e a outra em Dubai (Emirados Árabes). Em ambos os casos, as igrejas foram completamente transformadas, desde a pregação até a adoração coletiva, a cultura da igreja e ao impacto evangelístico na vizinhança. Em ambas as reviravoltas, ainda que eu não possa reivindicar crédito por nenhuma delas, desfrutei do privilégio de ver pessoalmente a mudança radical de uma igreja.
O que tornou possível a reforma dessas igrejas?
Pregação
A força impulsionadora que estará por trás de qualquer reforma verdadeira será a Palavra de Deus. À medida que a Palavra manifesta seu poder em uma congregação, ela amolece o solo endurecido e produz mudança espiritual. Em Dubai, havia membros fiéis que trabalharam por anos, mas obtiveram poucos resultados. Não eram nutridos consistentemente por sermões semanais. Tentativas ousadas foram feitas para fortalecer a congregação, mas faltava algo. No entanto, quando a pregação se tornou consistentemente expositiva e centrada no evangelho, foi como se alguém jogasse um fósforo acesso em gasolina. O ministério se multiplicou. Quando a igreja começou a mudar, um membro antigo comparou a pregação com um fogo de artilharia semanal. O bater constante da Palavra amoleceu a oposição e abriu caminhos para que um ministério mais frutífero acontecesse em todo o corpo de membros.
O púlpito tem de liderar um esforço de reforma de uma igreja. E isso implica em pregação expositiva com ênfase no evangelho e aplicação criteriosa à vida da igreja, especialmente àquelas áreas que precisam de mudança. Se o púlpito não estiver firmemente por trás deste esforço, os reformadores talvez estejam desperdiçando seu tempo. É melhor mudar para um lugar onde a Palavra já está sendo pregada corretamente e perceber como aquele ministério pode ser apoiado.
Providência
Igrejas moribundas serão vivificadas somente se Deus estiver em ação ali. Anos atrás, em Louisville, uni-me a uma igreja velha cujo ministério definhava por várias razões. Pessoas velhas predominavam na igreja, muitas delas ministrando com fidelidade, mas sem liderança pastoral. Os mais novos tinham desertado da igreja havia muito tempo; e eu podia entender o motivo. Além da lealdade familiar, poucas coisas os mantinham ali. A pregação consistia principalmente de histórias rústicas sem qualquer exposição bíblica séria. A igreja era mais norteada pela cultura do que pela teologia. E a cultura contemporânea se mudara para lá.
Na providencia de Deus, havia outra igreja nas proximidades (uma igreja que se reunia numa escola). Nesta o evangelho era proclamado com clareza. Esta igreja mais nova tinha vida, energia e sã doutrina, mas não tinha raízes na comunidade, nem prédios. A solução óbvia era unir as duas congregações. Inicialmente, a ideia de unir as duas igrejas foi rejeitada pela igreja mais velha e necessitada. Eles eram muito diferentes na teologia, na música, na cultura e em outros aspectos. Mas Deus começou a remover soberanamente os oponentes da união e mudou aos poucos o coração das pessoas, para que a nova igreja surgisse. Como noite e dia – de oposição rígida para aprovação quase unânime da congregação –, em sua providência Deus cuidou para que uma nova obra começasse ali, em Louisville, uma igreja que continua vibrante e unida até hoje.
Há muitas forças dispostas contra a reviravolta de uma igreja local, que nunca acontecerá se Deus não a fizer acontecer.  O cuidado providencial de Deus é essencial à reforma da igreja; é por isso que a oração é crucial.
Companheirismo
Procure não fazer isto sozinho. A reforma da igreja pode ser desgastante, ingrata e desencorajadora. O tempo para isso não é medido em meses, e sim em anos. E uma reforma espiritual profunda não é rápida. Deus usa os meios comuns de graça para dar crescimento e mudar seu povo. Igrejas melindrosas podem se tornar impacientes; e, em tempos difíceis, é bom ter amigos.
Quando comecei a pastorear em Dubai, havia um presbítero que pensava como eu e me encorajou bastante quando os tempos se tornaram árduos. Ele era perito em identificar evidências de graça, mesmo quando eu prosseguia com dificuldade em meio aos meus erros pastorais e às interrupções inevitáveis que acompanham a reforma da igreja. Quando elementos cruciais da reforma estavam em perigo, ele estava lá para dar ajuda na hora certa. Se possível, compartilhe com outros antes de atirar-se impetuosamente numa situação de reforma. Não vá sozinho.
Valorize o identificar homens que respondem ao ministério e integre sua vida à deles. Considere isto uma prioridade fundamental: treinar homens da congregação que um dia serão presbíteros e companheiros no ministério.
Paciência
Quantos pastores já foram demitidos porque introduziram mudanças antes que a igreja estivesse pronta? Quantos esforços de reforma já estiveram em perigo por conta da impaciência dos líderes que, talvez, sabiam a coisa certa a fazer, mas falharam em gastar tempo ensinando, orando e servindo as pessoas, para que ganhassem sua confiança e as convencessem dos pontos que necessitavam de reforma? Lembre a exortação de Paulo a Timóteo: “Corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina” (2 Tm 4.2). Somente porque você sabe quais são os problemas, isso não significa que eles devem ser resolvidos imediatamente.
Quando comecei a pastorear em Dubai, alguém me lembrou proveitosamente que a igreja não era “minha”. Em outras palavras, as pessoas que estavam ali e seu estado de maturidade espiritual eram o fruto do ministério de outro pastor, e não de meu próprio ministério. Eu não podia chegar e esperar que a igreja adotasse imediatamente as minhas opiniões sobre a vida da igreja e o ministério. Isto me deixou livre para servir com alegria as pessoas que nem sempre compartilhavam de minhas convicções sobre a Bíblia ou sobre o ministério. Mas, depois de poucos anos, o quadro começou a mudar.
Adote uma perspectiva de longo prazo no que diz respeito à reforma da igreja. Ajuda-nos ter um horizonte de tempo de dez a vinte anos. Com uma perspectiva de longo prazo, podemos priorizar mais pacientemente as áreas da vida da igreja que necessitam de mudança. Podemos agir mais alegremente em um ambiente de ministério imperfeito quando pedimos às pessoas que tolerem as nossas fraquezas pessoais.
No entanto, existem duas coisas que um pastor pode mudar de imediato, ao chegar em uma nova igreja: a pregação e a recepção de membros na igreja. Num dia, você pode exaltar a autoridade das Escrituras pela maneira como você prega, extraindo os pontos explicitamente do próprio texto bíblico e mostrando que você se rege por ele. Segundo, você pode começar imediatamente a fazer entrevistas com os novos membros, quando eles chegam. Desta maneira, você pode:
  • Assegurar-se, no melhor de sua habilidade, de que eles são crentes genuínos;
  • Assegurar-se de que eles podem articular o evangelho;
  • Definir suas expectativas quanto ao membros da igreja;
  • Começar a estabelecer um relacionamento pastoral com os novos membros que estão chegando, um relacionamento que no decorrer do tempo afetará a complexão da igreja como um todo.
Poucas coisas são melhores do que ver pessoalmente uma reforma na igreja
Em conclusão, há poucas coisas que são melhores do que ver uma mudança na igreja, de igreja fraca e irrelevante para igreja vibrante e bíblica. A única maneira como isso pode ocorrer é pela pregação correta da Palavra de Deus. Contudo, alguns esforços de reforma fracassam apesar da fidelidade no púlpito; o Senhor tem de estar em ação para mudar o rumo das coisas. É provável que você seja bem sucedido a longo prazo se tiver alguns irmãos que labutam com você na obra. No entanto, mesmo com todas essas coisas, você tem de adotar a abordagem de longo prazo para a reforma da igreja. “Sede, pois, irmãos, pacientes, até à vinda do Senhor. Eis que o lavrador aguarda com paciência o precioso fruto da terra, até receber as primeiras e as últimas chuvas. Sede vós também pacientes e fortalecei o vosso coração, pois a vinda do Senhor está próxima” (Tg 5.7-8).
Por: John Folmar. © 9Marks. Website: 9marks.org. Traduzido com permissão. Fonte: What Makes a Church Reform Possible?
Original: O que torna possível a reforma de uma igreja? © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Wellington Ferreira. Revisão: Tiago J. Santos Filho.