segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Sobre o aborto e as perguntas que a mídia não quer fazer



Nestes últimos dias, o tema do aborto tem voltado ao centro das discussões nacionais. Em um passo muito concreto, na sexta-feira, 3 de agosto, o STF deu início a uma série de audiências em preparação para discutir a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 442, ajuizada pelo PSOL, que questiona os artigos 124 e 126 do Código Penal. Esses artigos determinam como crime a interrupção intencional da gravidez tanto para a mulher como para quem realiza o procedimento. A proposta visa a liberação do aborto até a 12ª semana de gravidez, sem necessidade de autorização legal.
A discussão certamente é necessária, mas é curioso como o debate trata de alguns temas e, intencionalmente, omite outros. Em um documentário de um grande emissora de TV, o tema foi discutido com testemunhos e dados apresentados como científicos. Durante quase 30 minutos relataram o quanto sofrem mulheres que tentam realizar o aborto em clínicas clandestinas. Caso após caso foi descrito, com as devidas personagens testemunhando com voz distorcida e imagem em silhueta. As histórias e os abusos a que estas mulheres se submetem, sempre pior para as pessoas de baixa renda, são no mínimo trágicas. Foram também incluídos, sem nenhum questionamento, comentários sobre o quão mais seguro seria caso esses abortos fossem feitos na rede de saúde regular. Neste momento, qualquer pessoa com um senso crítico precisa comentar: “Mais seguro para a mulher, pois para o feto o resultado continua sendo o óbito”.
A Constituição brasileira garante o direito do ser humano a partir da concepção.
Essa é a primeira questão que é cirurgicamente eliminada do debate. A Constituição brasileira garante o direito do ser humano a partir da concepção. O respeitado jurista dr. Ives Gandra Martins afirma:
A Constituição brasileira declara, no caput do artigo 5º, que o direito à vida é inviolável; o Código Civil, que os direitos do nascituro estão assegurados desde a concepção (artigo 2º); e o artigo 4º do Pacto de São José, que a vida do ser humano deve ser preservada desde o zigoto.[1]
Por que então a atual discussão não aborda a questão do início da vida e do direito do ser humano ainda não nascido? A única resposta possível é que este é um ponto que os grupos de pressão pró-aborto não conseguem defender em suas argumentações. Para o cristão, a pergunta permanece: quando é que começa a vida? O que a Bíblia tem a dizer sobre esse tema?
Dentre as muitas passagens possíveis, queremos nos concentrar em apenas duas. A primeira é Salmo 139.16, que afirma:
Os teus olhos viram o meu embrião; todos os dias determinados para mim foram escritos no teu livro antes de qualquer deles existir.
Com certeza Deus, em sua presciência, nos conhece antes mesmo de nossa concepção (momento em que o espermatozoide se une ao óvulo). No entanto, mais do que apenas conhecimento, o que por si só já indicaria que uma vida teve início ali, o salmista afirma ainda que essa visão de Deus tem uma relação direta com a vida que este indivíduo terá. Deus já tem uma relação com cada ser humano a partir do ventre de sua mãe. A palavra usada para “embrião” é usada somente nesta passagem no Antigo Testamento, mas poderia ser entendida (caso Davi tivesse conhecimento biológico) como a massa celular ainda indistinta. Se Deus viu essa massa e a trata como um indivíduo, temos o primeiro argumento de que a vida começa na concepção.
No entanto, uma segunda passagem que tem gerado muita discussão é a passagem de Êxodo 21.22-25. Na NVI (e também na NVT) lemos:
Se homens brigarem e ferirem uma mulher grávida, e ela der à luz prematuramente, não havendo, porém, nenhum dano sério, o ofensor pagará a indenização que o marido daquela mulher exigir, conforme a determinação dos juízes. Mas, se houver danos graves, a pena será vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, contusão por contusão.
O texto é bastante claro. Caso, devido a uma briga, uma mulher grávida for atingida e a criança nascer prematuramente, uma multa será paga; agora, se houver dano tanto à criança como à mulher, a penalidade será dente por dente, olho por olho, vida por vida. Ou seja, caso a criança morra, quem causou o acidente deverá sofrer o mesmo destino.
Curiosamente, o problema é criado devido a traduções mais antigas que distorcem o sentido original do termo. Por exemplo, tanto a Almeida Corrigida Fiel quanto a Revista e Atualizada traduzem o verso 22 assim:
Se alguns homens pelejarem, e um ferir uma mulher grávida, e for causa de que aborte, porém não havendo outro dano, certamente será multado, conforme o que lhe impuser o marido da mulher, e julgarem os juízes.
Estas (e outras) versões preferem traduzir o texto como “aborte” e não “der à luz prematuramente”. Traduzido desta forma, parece que se o resultado da briga for apenas um aborto, uma multa será suficiente, mas se houver dano à mulher, então uma pena mais rigorosa deverá ser aplicada. Este entendimento indicaria que o feto tem um valor menor do que a pessoa já nascida. Dentro desta perspectiva, o aborto não seria condenado tão rigorosamente quanto um assassinato. A questão fica então em qual é o sentido da palavra traduzida por “der à luz prematuramente”, em alguns casos, e “abortar”, em outros.
A palavra usada em hebraico é yâtsâ Ela é uma palavra muito comum no Antigo Testamento. Na verdade, é usada mais de mil vezes. Em todos esses usos, a palavra tem apenas um sentido: sair ou ir. Em nenhum outro texto essa palavra é usada com o sentido de abortar ou de morte. Curiosamente, existem pelo menos duas outras palavras em hebraico que significam aborto ou natimorto, palavras estas que poderiam e são usadas várias vezes no Antigo Testamento. Ou seja, Moisés poderia usar uma dessas palavras se seu intuito fosse indicar aborto. Em resumo, também nesta passagem o valor da criança é o mesmo da mulher; mesmo que nasça prematuramente, não há qualquer diminuição do valor do feto.
Assim, na compreensão bíblica, a vida começa na concepção. Só podemos imaginar que este tema não é discutido na mídia pois não interessa ao argumento dos grupos pró-aborto. Além disso, antes de que surja uma desculpa de que esta é uma posição religiosa, importa destacar que a questão de quando começa a vida é, antes de tudo, uma questão ética e, consequentemente, jurídica. Se uma sociedade entende que a vida só começa após o nascimento, então por que limitar a legalização do aborto à 12ª semana? Por que não estender este direito de escolha da mãe até minutos antes do parto? Caso contrário, se uma sociedade entender que a vida começa na concepção, então qualquer debate sobre aborto deveria incluir considerações sobre os direitos da vida que será abortada.
Outra discussão que está na base deste debate sobre o aborto é: o quanto devemos ser responsáveis por nossas escolhas? Repare bem, não estamos, em geral, falando de escolhas nas quais a pessoa, escolhendo, não tem noção das possíveis consequências. Na esmagadora maioria dos casos, o homem e a mulher que geram uma criança têm perfeita noção, pelo menos, da possibilidade de gerarem uma criança. O humanismo tem caminhado a passos largos para isentar as pessoas das consequências de suas escolhas. Uma das estratégias é “patologizar” qualquer comportamento irresponsável ou destrutivo. Com certeza há que se estudar e considerar patologias que geram comportamentos destrutivos, mas cada vez mais isso é usado para poupar pessoas das consequências de suas ações. Recentemente, inclusive, surgiram ações que propõe considerar a pedofilia apenas como uma disfunção mental e não necessariamente um crime. Infelizmente, ao pouparmos a pessoa que realizou a ação destrutiva, seja esta qual for, estaremos penalizando a vítima. Como diz o ditado: “Não existe almoço de graça... alguém pagou por isso”.
Quanto devemos ser responsáveis por nossas escolhas? Repare bem, não estamos, em geral, falando de escolhas nas quais a pessoa, escolhendo, não tem noção das possíveis consequências.
Uma vez mais, como cristãos, podemos nos esquivar das consequências de nossas escolhas? A primeira passagem que nos informa a respeito é Gálatas 6.7-8:
Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear isso também colherá. Quem semeia para a sua carne da carne colherá destruição; mas quem semeia para o Espírito do Espírito colherá a vida eterna.
O apóstolo ensina uma relação muito direta entre o que fazemos e suas consequências. Certamente, devido às misericórdias de Deus, ele com frequência nos poupa de consequências que seriam naturais às nossas escolhas. No entanto, vale lembrar que Deus não tem a obrigação de nos poupar das consequências. Um exemplo é como ele lidou com o adultério e assassinato que Davi cometeu. Devido ao seu coração arrependido quando confrontado, Davi não foi morto, mas as consequências da morte de seu filho e dos conflitos em sua casa não foram retiradas.
O apóstolo continua em seu argumento declarando que esta é uma regra também espiritual, ou seja: se você semear de acordo com Deus colherá frutos espirituais, mas se semear de acordo com a carne também colherá frutos carnais. Isso obviamente não explica tantos sofrimentos que os santos de Deus têm passado, pois há muitas provações que teremos de enfrentar mesmo sem termos semeado para isso. No entanto, a regra da semeadura continua valendo. Eu, exceto pela misericórdia de Deus, sou responsável pelas escolhas que faço.
O mundo quer o direito de escolher suas ações, afirmar sua liberdade e determinar seu rumo. Ao mesmo tempo, se opõe e rejeita a ideia de que é responsável por suas escolhas.
Curiosamente, os grupos que defendem o aborto se auto intitulam pró-escolha (pro-choice, em inglês). Esta é uma característica do pensamento secular moderno. O mundo quer o direito de escolher suas ações, afirmar sua liberdade e determinar seu rumo. Ao mesmo tempo, se opõe e rejeita a ideia de que é responsável por suas escolhas. Isso acontece em todos os âmbitos. Queremos combustíveis fósseis, mas não aceitamos a responsabilidade pela poluição. Queremos comer todo tipo de comida, mas relutamos em aceitar as consequências da má alimentação. Queremos nos expressar livremente, mas nos ofendemos quando outros se expressam de um modo considerado ofensivo por nós. No tema em questão, queremos o prazer e a liberdade de escolhermos nossas relações sexuais, mas não aceitamos que relações sexuais com frequência geram filhos...
Certamente estas duas questões (Quando começa a vida? e Podemos nos esquivar das consequências de nossas escolhas?) não esgotam a discussão, mas nos conduzem a verdades fundamentais sobre o tema. Não deveria nos surpreender que estes assuntos estejam sendo evitados pelos grupos pró-aborto. No entanto, somos chamados a “seguir a verdade em amor”. Um exame sério da Bíblia nos leva necessariamente a uma posição de defesa da vida, tanto do feto como da mãe. Não podemos fazer uma opção de defender a vida de mães em detrimento da vida do feto. Neste debate que afeta toda a nossa nação, minha oração é que sejamos claros tanto em proclamar a verdade como em declarar seu amor.
  1. Ives Gandra Martins, “Constituição garante o direito à vida desde a concepção”, Consultor Jurídico, 28 maio 2008. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2008-mai-28/constituicao_garante_direito_vida_concepcao>.

Daniel Lima foi pastor de igreja local por mais de 25 anos. Formado em psicologia, mestre em educação cristã e doutorando em formação de líderes no Fuller Theological Seminary, EUA. Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida por 5 anos, é autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem 4 filhos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995.


Fonte: https://www.chamada.com.br/mensagens/aborto.html

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

A Herança dos Anabatistas


Muitos já ouviram falar da Reforma de Zurique, e do seu fundador Ulrico Zuínglio. Muitos, porém, não sabem que, ao mesmo tempo, ocorreu mais um movimento espiritual em Zurique e que inicialmente Zuínglio o apoiava.
Trata-se dos chamados anabatistas. “Chamados” aqui é empregado literalmente, porque eles na verdade, a princípio, não se chamavam assim. Do mesmo modo, inicialmente os cristãos não se chamavam de “cristãos”, mas eram assim denominados por outras pessoas (At 11.26).
A exemplo dos reformadores, esses anabatistas pretendiam renovar a igreja. “Reformador” significa “renovador” e não fundador de igreja. No entanto, como é notório, tudo aconteceu de maneira diferente. Também aconteceu de modo diferente do que os anabatistas o imaginaram.
Assim como os reformadores, eles queriam trazer a desviada Igreja Católica de volta ao evangelho. Um aspecto nesse sentido era o batismo.
Antes que o cristianismo se tornasse a igreja estatal romana, os crentes não batizavam bebês. A Bíblia demonstra que o batismo está vinculado à decisão consciente de seguir a Jesus – um bebê não consegue tomar essa decisão. Os reformadores igualmente se preocupavam com essa questão. Alguns afirmam, por exemplo, que o próprio Lutero estava muito próximo de aceitar o batismo pela fé. No final, porém, ele permaneceu adepto ao batismo infantil, assim como Zuínglio.
Assim, não demorou muito para que surgissem opiniões diferentes. Para os reformadores, bem como para os católicos, os anabatistas praticavam o “duplo batismo”, pois, na opinião deles, eles batizavam novamente as pessoas. No entanto, nesse aspecto eles consideravam o batismo que praticavam como o “correto”, porque o batismo de bebês para eles não era considerado como batismo. Essa era uma diferença significativa diante da maioria dos reformadores, mas de longe não era a única.
Com essa inovação, os anabatistas pretendiam avançar em diversas áreas, mais do que Zuínglio, Lutero e os demais reformadores. Eles pretendiam viver assim como Jesus viveu com seus discípulos e as mulheres que o seguiam, e como os primeiros cristãos em Jerusalém.
Para os reformadores, bem como para os católicos, os anabatistas praticavam o “duplo batismo”, pois, na opinião deles, eles batizavam novamente as pessoas.
Outro tema dos anabatistas era a vida comunitária, com o uso comum de bens. Isso significava ter tudo compartilhado ao invés de propriedades privadas. Para a Igreja Católica Romana daquela época, isso representava um grande desafio. Ela possuía muitas propriedades, como extensas áreas de terra, por exemplo. Sim, ela era muitíssima rica e, como o jovem rico da Bíblia, não queria se desfazer de sua riqueza. Os reformadores não tinham as mesmas exigências; no entanto, eles também não queriam abrir mão totalmente de posses em geral.
A riqueza e o poder a ela relacionada é uma grande tentação. Muitas pessoas já foram vencidas por ela. Por isso, os anabatistas não queriam cair nessa tentação e optaram conscientemente por um estilo de vida mais simples e modesto. Para eles, ocupar um cargo ou uma posição de liderança não era primordialmente uma posição de poder, mas de serviço, como o Senhor falou: “O maior entre vocês deverá ser servo” (Mt 23.11). Esse modo de pensar era fortemente contrário ao pensamento geralmente aceito. Esse modo de vida e a declaração a seguir de Jesus conduziram à seguinte conclusão:
“Meu reino não é deste mundo” – isso Jesus também havia falado. Por isso os anabatistas pretendiam estabelecer uma estrita divisão entre igreja e estado. Podemos observar que Jesus realmente transformou o mundo, mas que para isso não utilizou a via política. Ele nunca se envolveu em questões políticas polêmicas, nem mesmo na questão da opressão exercida pelos romanos. Ele também não aceitou a provocação, por exemplo, quando o assunto era o dos impostos: “... deem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22.21), ele falou. O Senhor agiu assim, mesmo sabendo que com o dinheiro desses impostos o domínio dos romanos seria ainda mais fortalecido. Em minha opinião, pode-se dizer que Jesus viveu separando a igreja do estado.
Os anabatistas pretendiam estabelecer uma estrita divisão entre igreja e estado.
A Igreja Católica, no entanto, tinha fortes pretensões de poder. Ela se considerava como a instância mais elevada da terra. Por isso, o papa era então a única pessoa que poderia coroar um rei.
Os reformadores não compartilhavam essas ideias de exercer o poder. Eles, no entanto, procuravam trabalhar em conjunto com as autoridades para, em caso de necessidade, aproveitar seu poder e força; também na área militar – como podemos ver no exemplo de Zuínglio, com as guerras de Kappel. Aqui chegamos a mais uma diferença em relação aos anabatistas:
Jesus havia dito: “Amem os seus inimigos” (Mt 5.44). Não se ama o inimigo matando-o. Os primeiros cristãos estavam muito conscientes disso. Nos primeiros 200 anos, praticamente não se via nenhum cristão ingressando nas forças armadas. Ao contrário, sabe-se de casos em que cristãos daquela época foram martirizados porque se recusavam a servir como soldados.
Somente após Constantino, o Grande, e o seu lema: “Com esse sinal vencerás” (o sinal da cruz), o exército e o serviço militar passaram a ser “socialmente aceitos” por muitos cristãos. Hoje poderíamos questionar: será que os ensinamentos de Jesus mudaram? Os primeiros cristãos estavam errados?
Com o passar dos séculos a igreja passou a se afastar mais e mais das diversas doutrinas de fé da Bíblia. A Igreja Católica logo enriqueceu e estava empenhada pelo poder. Com essa mentalidade de poder muitos fundamentos bíblicos foram abandonados até que, na Idade Média, esses posicionamentos errados ficaram evidentes. As pessoas então tornaram-se dispostas a ouvir os renovadores que pretendiam eliminar esses equívocos.
A ideia de não reagir dos anabatistas ainda continuava. Eles também não queriam levar ninguém diante de um tribunal mundano. Paulo escreveu: “Acaso não há entre vocês alguém suficientemente sábio para julgar uma causa entre irmãos?” (1Co 6.5). Eles não consideravam esse versículo somente em relação a irmãos, mas também de tal maneira que um cristão não deveria procurar ser julgado por um juiz incrédulo.
Os anabatistas não reagem com violência quando são roubados, mesmo que isso causasse a eles muito prejuízo durante a sua história. Quando ouvi falar nisso pela primeira vez, pensei: “Não há como sobreviver duas semanas nessas condições”. Nesse meio tempo, no entanto, descobri e pude verificar pessoalmente que justamente os anabatistas nos EUA não apenas sobrevivem nessas condições, mas se sentem muito bem. Isso é algo notável, principalmente porque os EUA são conhecidos como um povo muito rápido em acusar e levar outras pessoas a juízo.
Onde, então, temos nossa proteção? Em quem ou em que temos mais confiança? Teríamos condições de sobreviver sem a proteção de soldados e de armas?
No Antigo Testamento, Israel foi muitas vezes ameaçado por exércitos poderosíssimos. Os israelitas então clamavam ao Senhor. E o que ele fazia? Numa ocasião, ele enviou um anjo que, em uma noite, matou um exército de 185.000 soldados (2Rs 19.35). Noutra ocasião, mediante a interferência do Senhor os inimigos de Israel mataram-se entre si (2Cr 20). “Pois a batalha não é de vocês, mas de Deus” (2Cr 20.15). Nesses casos, os israelitas nem precisaram lutar. E nós, ainda cremos que ele faça isso hoje? Cremos que Deus faria isso por nós?
Hoje a maioria dos anabatistas “clássicos” vivem na América do Norte: no Sul do Canadá e no Norte dos EUA. Após vários séculos de perseguições sangrentas, encontraram a paz ali. Não sabemos a quantidade exata deles. Sabe-se que são em torno de algumas centenas de milhares os que mantiveram seu patrimônio de fé anabatista até os dias de hoje.
Hoje a maioria dos anabatistas “clássicos” vivem na América do Norte: no Sul do Canadá e no Norte dos EUA.
Na Europa, principalmente na Holanda, ainda há os menonitas, que compõem um dos três ramos dos anabatistas, além dos huteritas e dos amish. Muitos menonitas, porém, não vivem mais tão fielmente aos princípios da fé herdada. Há algumas décadas, novamente surgiram dezenas de igrejas com orientação anabatista. São os chamados “alemães-russos”:
Em seu extenso histórico de perseguições, os menonitas e os huteritas praticantes do novo batismo se refugiaram também na Rússia, onde Catarina, a Grande, prometeu a eles liberdade religiosa durante cem anos. No século XIX, esse prazo venceu e o novo czar deu o prazo de dez anos para que se tornassem como os russos. Assim, praticamente todos os huteritas fugiram para a América do Norte. No entanto, grande parte dos menonitas e outros imigrantes de origem alemã permaneceram na Rússia.
As pessoas do idioma alemão sofreram duramente sob o regime comunista surgido posteriormente – e principalmente durante as duas guerras mundiais. Assim, após 1989, centenas de milhares se mudaram para a Alemanha e lá fundaram suas próprias igrejas, para que pudessem continuar vivendo de acordo com a sua fé.
Hoje observamos alguns efeitos do pensamento anabatista nas seguintes áreas:
  • A separação entre igreja e estado, já praticada há tempos, tem sua origem no acervo de ideias dos anabatistas. Eles praticaram essa separação desde o início.
  • A ideia de fundar “igrejas livres” igualmente provém deles. Há uma placa fixada no prédio da primeira igreja livre, fundada em Zumikon, no século XVI. Ela lembra que ali foi fundada a primeira igreja livre da Suíça, e com ela o próprio conceito de igreja livre.
  • O batismo de pessoas adultas. Muitas das atuais igrejas livres retornaram a essa maneira bíblica de batismo.
E nós? Sim, qual é a nossa opinião sobre o pensamento dos anabatistas? Estamos dispostos a reconsiderar as convicções da nossa fé? Muitas igrejas não achavam e ainda não acham necessário fazê-lo. No entanto, pode-se observar que, com o decorrer do tempo, acontecem mudanças em cada igreja. Na maioria delas, porém, são mudanças que afastam das doutrinas da fé bíblica.
Estamos dispostos a aceitar a exortação? Estamos dispostos a ser examinados diante de toda a Palavra de Deus e a sermos reorientados por ela?
Rolf Sons
Fonte: https://www.chamada.com.br/mensagens/anabatistas.html