Um novo paradigma da Missão para o século XXI é o estudo com base no livro do grande missiólogo David Bosch em que ele analisa as grandes transformações pelas quais passou o cristianismo no século anterior e no início deste. Um cristianismo influenciado pela visão missionária do século XIX em que consistia no envio dos missionários com a finalidade de resgatar os pobres “aborígenes” de seu modus vivendis primitivo para a salvação por meio do modelo de vida de seus salvadores. O próprio positivismo com seus conceitos impulsionavam os colonizadores com esta visão. No entanto, as dificuldades e problemas que a humanidade vivenciou no século XX, fez com que os missiólogos redefinissem seus conceitos e ideais. Se o cristianismo, nos escritos neotestamentários, tem como finalidade alcançar todos os homens, deve alcançá-los dentro de sua cultura, como diz certo professor “o cristianismo salva o indivíduo dentro de sua cultura e não da sua cultura!” A mensagem cristã deve ser universal, sem que seja uniformizada!
Não seria diferente o modelo empregado na América Latina, é necessário repensar o modelo da missão Dei empregada nesta parte do mundo, visto que os seus antecedentes históricos e culturais diferem e muito dos daqueles vividos pelos nossos colonizadores que nos empurraram “goela a dentro” o seu estereótipo de vida e de teologia. Com isso, devido à grande influência que o fundamentalismo e o evangelicalismo exerceram na teologia desses continentes, verifica-se um exclusivismo e individualismo por parte dos protestantes residentes aqui. O caminho para uma mudança radical nessa situação está em perceber que um ramo exclusivo do cristianismo não conseguirá levar a cabo a missão da Igreja, sem que haja cooperação, diálogo e inclusão entre os mais diversos ramos do cristianismo. A Igreja não pode esquecer que ela é agente da propagação do reino de Deus e não o Reino de Deus como tendem a afirmar alguns católicos. ¹ Se alguma igreja tenciona imaginar que é dela a exclusividade para a propagação da mensagem da salvação, ela precisa urgentemente rever seus conceitos e ideais.
Uma missão que não vislumbra o indivíduo como um todo, tende a fracassar em sua mensagem, pois não apresentará uma linguagem compreensível ao homem que vive no Brasil e na América Latina e muito menos terá uma mensagem que reflita a sua realidade (isto é aplicar uma hermenêutica correta). A mensagem da Igreja precisa estar contextualizada à realidade em que o indivíduo vive, não apenas no aspecto geográfico, mas também levando em conta o seu ambiente histórico, isso é denominado de “Missão integral”, uma mensagem que proponha uma palavra de salvação ao indivíduo que o conduza a uma mudança de atitude de vida e não visando um aumento de pessoas em sua unidade religiosa como forma de demonstrar poder; precisa servir aos indivíduos em suas necessidades prementes, ajudando-o a vencer e ultrapassar suas barreiras e rumar a sua libertação social; e também protestar como fez Jesus Cristo contra as injustiças praticadas dentro de nossa sociedade.
A presença do cristianismo nas mais diversas culturas no decorrer da história e nos mais diversos locais, não pode prescindir de que ela necessita ser compreensível e inteligível aos ouvintes desta mensagem (a hermenêutica em sua essência). É imprescindível que ao chegar a uma cultura nova, não se tenha como objetivo modificar os costumes e as tradições da localidade, mas sim adaptar a mensagem cristã à realidade local. A mensagem cristã precisa ser compreendida à sociedade que pretende alcançar.
A pregação do Evangelho e a apresentação da mensagem cristã precisam estar sustentadas e balizadas nos ensinamentos de Cristo, porém, não pode esquecer que esta palavra é universal, e por ser universal ela precisa não apenas adequar-se à realidade, mas contextualizar-se à situação. O evangelho não muda as culturas, mas transforma o indivíduo dentro da sua cultura. “Jesus não veio salvar o homem da cultura, mas salvá-lo na sua cultura!”
É necessário um diálogo mais aberto e flexível entre os diversos ramos do cristianismo mundial se pretendemos levar a mensagem de Cristo aos homens. Precisamos lembrar que o meio em que o homem vive exerce grande influência em seu modo de vida e de pensamento, por isso, precisamos compreender melhor a cultura que pretendemos alcançar e assim apresentarmos o dom de Cristo que faça sentido àqueles que pretendemos alcançar. ¹ LADD, G. Eldon. Teologia do Novo Testamento, Exodus, 1997. São Paulo.
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