terça-feira, 3 de abril de 2012

Somente a fé no pensamento judaico.


A teologia paulina contida em sua Epístola aos Romanos, como já exprimia certo reformador, é o refinamento de todo o pensamento de Paulo! É sem dúvida, o resumo de todo o pensamento do apóstolo sobre a salvação dos homens. Embora encontremos divergências entre Paulo e os judaizantes dentro da Igreja cristã, fato que o acompanhará até o final dos seus dias, isso não significa que o Apóstolo tivesse uma visão pejorativa ou negativa da posição da Lei para a vida do crente. Ele mesmo chega afirmar que “E assim a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom.” (Rm.7:12). É difícil concordar com alguns autores modernos que insistem em afirma a total e descomunal separação entre os ensinos paulinos para as igrejas formadas e edificadas por ele das tradições judaicas presentes nas comunidades petrinas (ou seja, igrejas formadas por judeus), pois ele em vários momentos se apresenta como um judeu, de tradição farisaica e cumpridor da lei, bem como se utiliza de elementos judaicos para a apresentação de Jesus como o MESSIAS! Os alicerces do cristianismo no primeiro século estiveram erguidos sobre bases que tinham seus correlatos exemplificados dentro do judaísmo e até mesmo a estrutura da Igreja se assemelhava em muito a Sinagoga judaica. Porém, quando chegamos ao II século, basicamente desaparecem do cristianismo esses sinais de ligação entre a Igreja e Israel, elementos como Marcião inclusive defendem uma alienação completa da Bíblia hebraica. Dentro desse mesmo contexto surgem as bases do que posteriormente vai ficar conhecido como preterismo ou teologia da substituição que defende a substituição de Israel pela Igreja.
Mas, basicamente, é dentro do judaísmo que iremos encontrar a explicação para a maioria dos conceitos presentes nos escritos da Igreja, já que ela inicialmente é formada por elementos judaicos. O próprio Jesus declara: “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim abrogar, mas cumprir.” (Mt. 5:17). É dentro desse ambiente que entenderemos os elementos da salvação contidos na Pessoa de Jesus, pois a Igreja nunca interpretou que o cumprimento da Lei por Cristo excluiria as responsabilidades do cristão para com os desígnios de Deus contidas nela. O Sermão do Monte contido em Mateus é um exemplo cabal de que as primeiras comunidades cristãs tinham responsabilidades e um conjunto legal de regras com uma compreensão da Lei além daquelas contidas nas regras e tradições rabínicas (farisaicas). Verificamos que para a Igreja, a Lei não é simplesmente um conjunto do “que fazer ou não fazer!”, ela vai muito, além disso! O apóstolo Paulo declara para as suas comunidades que é a lei do Espírito que deve orientar as nossas vidas (Rm. 8:2), ou seja, não é um conjunto de costumes que salva o indivíduo, mas algo que ocorre em seu interior. A lei nos mostra o quanto somos falhos e maus perante Deus; ela dimensiona o quanto estamos longe dos desígnios de Deus e nos dá uma compreensão de que somente em Cristo que cumpriu todos os desígnios de Deus conseguimos ser recebidos por ele e recebermos todas as bênçãos da salvação.
Fazendo menção ao Antigo Testamento, é demonstrado pelo apóstolo que a salvação era obtida, não como um ato meritório de alguém, e isso era consenso nos escritos rabínicos de que a eleição de Israel não proveio de obras meritórias da nação, mas como ato exclusivo da graça de Deus, entretanto, ele demonstra aos seus interlocutores que o próprio Abraão é chamado de “Pai da fé” não pelos seus atos posteriores, mas sim porque ele creu no chamado e nas promessas de Deus! É preciso compreender, como bem o fazem os reformadores, que os cristãos não estão isentos de obedecerem à Lei, ela ainda continua em vigor demonstrando os princípios balizares de Deus para o homem, e quem se ufana em imaginar que por obedecerem a esses princípios são recebidos por Deus. Precisamos tomar cuidado para não deixarmos o nosso orgulho nos vencer e esquecermos que é SOMENTE POR MEIO DA OBRA DE CRISTO QUE SOMOS SALVOS!
A antiga Aliança serviu como base para o judaísmo dando-lhe uma identidade distinta dos povos pagãos e estabelecendo Israel como modelo para os povos, entretanto, os próprios autores da Bíblia hebraica já havia prescrito que ela seria temporária, pois como bem afirmou o profeta Jeremias, viria o dia em que esta lei seria substituída por outra escrita não em “pedras”, mas no coração. Enquanto este momento não chegou, ela serviu como “AIO” nas palavras de Paulo (Gl.3:24) até que fossemos justificados. Ela nos apontou para o Salvador, daí porque compreendemos e entendemos a obra salvífica de  Cristo com fundamento em seus preceitos; ela também demonstra em que terrível e condição nos encontramos perante Deus e que somente pela fé alcançamos o patamar estabelecido por Deus como bem afirmou o profeta Habacuque de que “o justo viverá pela fé.” A nova aliança não abole os princípios estabelecidos pela antiga, porém ela reorienta os seus preceitos com base no que Cristo fez e não naquilo que o homem pode fazer. A nova aliança é um recomeço para aqueles que querem viver em conformidade com a vontade de Deus.
Somente a fé não é exclusivamente um dogma cristão, pois muito antes do cristianismo, o judeu sincero e temente ao Senhor já sabia que suas obras não seriam suficientes para lhe salvar, haveria de ocorrer um ato por parte de Deus que lhe garantisse essa salvação e isto é o que encontramos na Nova Aliança realizada pelo nosso Senhor em favor de todos os homens: SOMOS JUSTIFICADOS PELA FÉ EM JESUS CRISTO!

Nenhum comentário:

Postar um comentário