A
teologia paulina contida em sua Epístola aos Romanos, como já exprimia certo
reformador, é o refinamento de todo o pensamento de Paulo! É sem dúvida, o
resumo de todo o pensamento do apóstolo sobre a salvação dos homens. Embora
encontremos divergências entre Paulo e os judaizantes dentro da Igreja cristã,
fato que o acompanhará até o final dos seus dias, isso não significa que o
Apóstolo tivesse uma visão pejorativa ou negativa da posição da Lei para a vida
do crente. Ele mesmo chega afirmar que “E assim a lei é santa, e o mandamento santo, justo e
bom.” (Rm.7:12). É difícil concordar com alguns autores modernos que insistem
em afirma a total e descomunal separação entre os ensinos paulinos para as
igrejas formadas e edificadas por ele das tradições judaicas presentes nas
comunidades petrinas (ou seja, igrejas formadas por judeus), pois ele em vários
momentos se apresenta como um judeu, de tradição farisaica e cumpridor da lei,
bem como se utiliza de elementos judaicos para a apresentação de Jesus como o
MESSIAS! Os alicerces do cristianismo no primeiro século estiveram erguidos
sobre bases que tinham seus correlatos exemplificados dentro do judaísmo e até
mesmo a estrutura da Igreja se assemelhava em muito a Sinagoga judaica. Porém,
quando chegamos ao II século, basicamente desaparecem do cristianismo esses
sinais de ligação entre a Igreja e Israel, elementos como Marcião inclusive
defendem uma alienação completa da Bíblia hebraica. Dentro desse mesmo contexto
surgem as bases do que posteriormente vai ficar conhecido como preterismo ou
teologia da substituição que defende a substituição de Israel pela Igreja.
Mas,
basicamente, é dentro do judaísmo que iremos encontrar a explicação para a
maioria dos conceitos presentes nos escritos da Igreja, já que ela inicialmente
é formada por elementos judaicos. O próprio Jesus declara: “Não cuideis
que vim destruir a lei
ou os profetas: não vim abrogar, mas cumprir.” (Mt. 5:17). É
dentro desse ambiente que entenderemos os elementos da salvação contidos na
Pessoa de Jesus, pois a Igreja nunca interpretou que o cumprimento da Lei por
Cristo excluiria as responsabilidades do cristão para com os desígnios de Deus
contidas nela. O Sermão do Monte contido em Mateus é um exemplo cabal de que as
primeiras comunidades cristãs tinham responsabilidades e um conjunto legal de
regras com uma compreensão da Lei além daquelas contidas nas regras e tradições
rabínicas (farisaicas). Verificamos que para a Igreja, a Lei não é simplesmente
um conjunto do “que fazer ou não fazer!”, ela vai muito, além disso! O apóstolo
Paulo declara para as suas comunidades que é a lei do Espírito que deve
orientar as nossas vidas (Rm. 8:2), ou seja, não é um conjunto de costumes que
salva o indivíduo, mas algo que ocorre em seu interior. A lei nos mostra o quanto
somos falhos e maus perante Deus; ela dimensiona o quanto estamos longe dos
desígnios de Deus e nos dá uma compreensão de que somente em Cristo que cumpriu
todos os desígnios de Deus conseguimos ser recebidos por ele e recebermos todas
as bênçãos da salvação.
Fazendo menção ao Antigo
Testamento, é demonstrado pelo apóstolo que a salvação era obtida, não como um
ato meritório de alguém, e isso era consenso nos escritos rabínicos de que a
eleição de Israel não proveio de obras meritórias da nação, mas como ato
exclusivo da graça de Deus, entretanto, ele demonstra aos seus interlocutores
que o próprio Abraão é chamado de “Pai da fé” não pelos seus atos posteriores,
mas sim porque ele creu no chamado e nas promessas de Deus! É preciso
compreender, como bem o fazem os reformadores, que os cristãos não estão
isentos de obedecerem à Lei, ela ainda continua em vigor demonstrando os
princípios balizares de Deus para o homem, e quem se ufana em imaginar que por
obedecerem a esses princípios são recebidos por Deus. Precisamos tomar cuidado
para não deixarmos o nosso orgulho nos vencer e esquecermos que é SOMENTE POR
MEIO DA OBRA DE CRISTO QUE SOMOS SALVOS!
A antiga Aliança serviu como base
para o judaísmo dando-lhe uma identidade distinta dos povos pagãos e estabelecendo
Israel como modelo para os povos, entretanto, os próprios autores da Bíblia
hebraica já havia prescrito que ela seria temporária, pois como bem afirmou o
profeta Jeremias, viria o dia em que esta lei seria substituída por outra
escrita não em “pedras”, mas no coração. Enquanto este momento não chegou, ela
serviu como “AIO” nas palavras de Paulo (Gl.3:24) até que fossemos
justificados. Ela nos apontou para o Salvador, daí porque compreendemos e
entendemos a obra salvífica de Cristo
com fundamento em seus preceitos; ela também demonstra em que terrível e
condição nos encontramos perante Deus e que somente pela fé alcançamos o
patamar estabelecido por Deus como bem afirmou o profeta Habacuque de que “o
justo viverá pela fé.” A nova aliança não abole os princípios estabelecidos
pela antiga, porém ela reorienta os seus preceitos com base no que Cristo fez e
não naquilo que o homem pode fazer. A nova aliança é um recomeço para aqueles
que querem viver em conformidade com a vontade de Deus.
Somente a fé não é exclusivamente
um dogma cristão, pois muito antes do cristianismo, o judeu sincero e temente
ao Senhor já sabia que suas obras não seriam suficientes para lhe salvar,
haveria de ocorrer um ato por parte de Deus que lhe garantisse essa salvação e
isto é o que encontramos na Nova Aliança realizada pelo nosso Senhor em favor
de todos os homens: SOMOS JUSTIFICADOS PELA FÉ EM JESUS CRISTO!
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