É preocupante ver o crescimento no continente europeu dos grupos de extrema direita, visto que, embora pareça que o mundo já tenha se esquecido, na mente de muitos especialistas é ainda marcante a lembrança de que duas grandes guerras ocorreram nessa parte do globo e que afetou todas as nações exatamente influenciada por esses movimentos. Os ingrdientes se assemelham muito ao que já ocorreu no passado e funcionam como elementos altamente explosivos: desemprego, déficit econômico e alta dose de rejeição aos estrangeiros. É preciso orar e lembrar que o que ocorre na vida dos nossos irmãos dessa parte do planeta também poderá nos afetar e é responsabilidade nossa.
Veja alguns informes sobre essa matéria:
A ESCALADA DA EXTREMA DIREITA NA EUROPA
Como partidos radicais ganharam espaço no
continente com discursos nacionalistas e ideias anti-imigrantes que
beiram a xenofobia e o racismo
Renan Dissenha Fagundes
A chanceler Angela Merkel decretou a morte
do multiculturalismo na Alemanha em um discurso no dia 17 de outubro.
Merkel afirmou que foi uma ilusão pensar que imigrantes poderiam manter
sua própria cultura e viver lado a lado com os alemães e que esse
projeto "falhou completamente". Embora a chanceler tenha enfatizado que
imigrantes são bem-vindos no país e que o islã já é parte da cultura
moderna da Alemanha, o discurso sobre o fim do multiculturalismo mostra
Merkel tentando se posicionar um pouco mais perto de uma tendência que
se espalha pela Europa: o aumento do poder dos partidos de extrema
direita.
Ao longo das últimas décadas, o poder nos principais países europeus, e na União Europeia como um todo, tendeu a ficar com partidos que estão mais ao centro do espectro político do que em qualquer uma de suas extremidades. O Parlamento Europeu, por exemplo, desde que foi criado, em 1979, é dominado por um grupo de centro-esquerda e por outro de centro-direita (maioria desde as eleições de 1999). Mas partidos de extrema direita estão aos poucos ganhando relevância no continente, conseguindo espaço até em redutos tradicionais da esquerda europeia. Onde a extrema direita está mais avançada? O que está causando essa guinada ultraconservadora?
"Não há dúvida de que partidos de extrema direita atraíram níveis impressionantes de apoio e conseguiram cargos públicos a nível nacional e europeu", afirma Matthew Goodwin, professor da Universidade de Nottingham, na Inglaterra. Na Holanda, o novo governo de centro-direita só conseguiu a maioria necessária para aprovar leis no Parlamento com o apoio de Geert Wilders, líder anti-islâmico do Partido pela Liberdade (PVV), que nas eleições deste ano se tornou o terceiro maior do país. Wilders já comparou o Corão ao livro Mein Kampf, de Adolf Hitler, e produziu um filme anti-islã chamado Fitna. Em troca de seu apoio, o PVV deve ganhar liberdade para, entre outros projetos, tentar coisas como banir a burca e adotar medidas mais severas contra a imigração.
Também com um discurso contra muçulmanos, a extrema-direita avançou na Suécia, reduto clássico da esquerda social democrata (mas desde 2006 governado por uma coalizão de centro-direita). O partido Democratas Suecos (SD), que surgiu de um movimento nacionalista chamado Bevara Sverige Svenskt [Mantenha a Suécia Sueca] e teria ligações com grupos neonazistas, conseguiu entrar no Parlamento pela primeira vez, depois de 22 anos de existência. Uma das principais peças da campanha do partido foi um vídeo em que eles pediam para os eleitores escolherem se o dinheiro do Estado deveria ser gasto com pensões para idosos ou com imigrantes.
>SAIBA MAIS
Ao longo das últimas décadas, o poder nos principais países europeus, e na União Europeia como um todo, tendeu a ficar com partidos que estão mais ao centro do espectro político do que em qualquer uma de suas extremidades. O Parlamento Europeu, por exemplo, desde que foi criado, em 1979, é dominado por um grupo de centro-esquerda e por outro de centro-direita (maioria desde as eleições de 1999). Mas partidos de extrema direita estão aos poucos ganhando relevância no continente, conseguindo espaço até em redutos tradicionais da esquerda europeia. Onde a extrema direita está mais avançada? O que está causando essa guinada ultraconservadora?
"Não há dúvida de que partidos de extrema direita atraíram níveis impressionantes de apoio e conseguiram cargos públicos a nível nacional e europeu", afirma Matthew Goodwin, professor da Universidade de Nottingham, na Inglaterra. Na Holanda, o novo governo de centro-direita só conseguiu a maioria necessária para aprovar leis no Parlamento com o apoio de Geert Wilders, líder anti-islâmico do Partido pela Liberdade (PVV), que nas eleições deste ano se tornou o terceiro maior do país. Wilders já comparou o Corão ao livro Mein Kampf, de Adolf Hitler, e produziu um filme anti-islã chamado Fitna. Em troca de seu apoio, o PVV deve ganhar liberdade para, entre outros projetos, tentar coisas como banir a burca e adotar medidas mais severas contra a imigração.
Também com um discurso contra muçulmanos, a extrema-direita avançou na Suécia, reduto clássico da esquerda social democrata (mas desde 2006 governado por uma coalizão de centro-direita). O partido Democratas Suecos (SD), que surgiu de um movimento nacionalista chamado Bevara Sverige Svenskt [Mantenha a Suécia Sueca] e teria ligações com grupos neonazistas, conseguiu entrar no Parlamento pela primeira vez, depois de 22 anos de existência. Uma das principais peças da campanha do partido foi um vídeo em que eles pediam para os eleitores escolherem se o dinheiro do Estado deveria ser gasto com pensões para idosos ou com imigrantes.
>SAIBA MAIS
O discurso
anti-imigração - e muitas vezes anti-islã - é a parte mais visível da
crescente extrema direita europeia. Goodwin afirma que a preocupação com
imigração e com as comunidades muçulmanas é um fator importante nesse
crescimento, além de insatisfação com os partidos políticos e ansiedade
com a economia. Na Holanda, cerca de 3 milhões dos 16 milhões de
habitantes são imigrantes ou filhos de imigrantes. Na Suécia, são 1,5
milhões de 9 milhões. Se essa tendência se mantiver, no meio do século
21 a maioria dos países europeus terá de um quarto a um terço da
população de origem não europeia. Em cidades como Rotterdam e Marseille,
imigrantes logo serão maioria [o prefeito de Rotterdam, Ahmed
Aboutaleb, é muçulmano e nasceu no Marrocos]. O historiador americano Bernard Lewis chegou a afirmar que a Europa será islâmica até o fim do século.
E o islã de certa forma está modificando a Europa. Quando os dinamarqueses quiseram impedir que imigrantes islâmicos importassem esposas - uma prática que limita a assimilação cultural - criaram uma lei que dificulta que qualquer cidadão da Dinamarca se case com alguém de fora da União Europeia. Quando a França quis proibir véus nas escolas, para evitar acusações de racismo, baniram também qualquer outro símbolo religioso. "Mais uma vez, a longo prazo, o preço para gerenciar a imigração é pago pela sociedade mais ampla, na forma de direitos", afirma Christopher Caldwell no livro Reflections on the Revolution in Europe: Immigration, Islam, and the West.
Para Cristian Norocel, pesquisador das universidades de Helsinki e Estocolmo, os muçulmanos são apenas bodes expiatórios, que canalizam a desconfiança popular e temores da crise econômica e dão um rosto para o que está acontecendo de errado no país. "Isso é muito semelhante à imagem dos judeus que foi usada pelos nacional-socialistas no início do regime nazista na Alemanha", afirma. Segundo Norocel, a população islâmica é retratada pelos partidos de extrema direita como sendo radicais, o que não é o caso. "A população muçulmana europeia é usada por partidos populistas radicais de direita como um pretexto para ganhar votos em cima da insatisfação popular com a cena política existente."
O nacionalismo e a ansiedade dos europeus não atingem só os muçulmanos. O governo do presidente Nicolas Sarkozy expulsou ciganos da França, mesmo sofrendo críticas da comunidade internacional. A situação dos ciganos não é melhor nos seus países de origem, no Leste Europeu. Na Hungria, o partido de extrema direita Jobbik está ganhando cada vez mais espaço. Como com os islâmicos em outros países, os ciganos acabam sendo apontados como a causa da crise econômica e do aumento do desemprego. Viktoria Mohacsi, líder política dos ciganos húngaros, afirmou para a Foreing Policy que a economia é a principal razão para o aumento do sentimento anticigano. Para Mohacsi, a entrada do país na União Europeia não ajudou a minoria que ela representa e a situação hoje é pior do que era durante o regime comunista.
Norocel, por outro lado, não acredita que a economia foi o fator determinante para a subida da extrema direita populista. "As recessões econômicas funcionaram como catalisadores, mas não são a principal razão", disse. "É uma mistura de descontentamento popular com os partidos políticos estabelecidos, aumento da desconfiança dos nativos com os imigrantes e aumento da incerteza econômica."
De qualquer forma, o discurso dos partidos radicais de direita parece estar fazendo sentido para uma parte dos europeus. Norocel acredita que partidos tradicionais de direita estão tentados assumir algumas das mensagens da extrema direita porque seria isso o que o cidadão médio quer. "A extrema direita está se preparando para se tornar parte do mainstream em toda a Europa, mas isso depende muito de como os sociais-democratas, e os partidos de esquerda em geral, vão reagir", disse. Para Norocel, o debate político precisa ser centrado "na solidariedade e na igualdade, não apenas em ganhos econômicos". "Caso contrário, os populistas da extrema direita vão explorar o medo e a incerteza das pessoas para piorar o clima político e social na Europa, e isso pode ter efeitos negativos em todo o planeta."
E o islã de certa forma está modificando a Europa. Quando os dinamarqueses quiseram impedir que imigrantes islâmicos importassem esposas - uma prática que limita a assimilação cultural - criaram uma lei que dificulta que qualquer cidadão da Dinamarca se case com alguém de fora da União Europeia. Quando a França quis proibir véus nas escolas, para evitar acusações de racismo, baniram também qualquer outro símbolo religioso. "Mais uma vez, a longo prazo, o preço para gerenciar a imigração é pago pela sociedade mais ampla, na forma de direitos", afirma Christopher Caldwell no livro Reflections on the Revolution in Europe: Immigration, Islam, and the West.
Para Cristian Norocel, pesquisador das universidades de Helsinki e Estocolmo, os muçulmanos são apenas bodes expiatórios, que canalizam a desconfiança popular e temores da crise econômica e dão um rosto para o que está acontecendo de errado no país. "Isso é muito semelhante à imagem dos judeus que foi usada pelos nacional-socialistas no início do regime nazista na Alemanha", afirma. Segundo Norocel, a população islâmica é retratada pelos partidos de extrema direita como sendo radicais, o que não é o caso. "A população muçulmana europeia é usada por partidos populistas radicais de direita como um pretexto para ganhar votos em cima da insatisfação popular com a cena política existente."
O nacionalismo e a ansiedade dos europeus não atingem só os muçulmanos. O governo do presidente Nicolas Sarkozy expulsou ciganos da França, mesmo sofrendo críticas da comunidade internacional. A situação dos ciganos não é melhor nos seus países de origem, no Leste Europeu. Na Hungria, o partido de extrema direita Jobbik está ganhando cada vez mais espaço. Como com os islâmicos em outros países, os ciganos acabam sendo apontados como a causa da crise econômica e do aumento do desemprego. Viktoria Mohacsi, líder política dos ciganos húngaros, afirmou para a Foreing Policy que a economia é a principal razão para o aumento do sentimento anticigano. Para Mohacsi, a entrada do país na União Europeia não ajudou a minoria que ela representa e a situação hoje é pior do que era durante o regime comunista.
Norocel, por outro lado, não acredita que a economia foi o fator determinante para a subida da extrema direita populista. "As recessões econômicas funcionaram como catalisadores, mas não são a principal razão", disse. "É uma mistura de descontentamento popular com os partidos políticos estabelecidos, aumento da desconfiança dos nativos com os imigrantes e aumento da incerteza econômica."
De qualquer forma, o discurso dos partidos radicais de direita parece estar fazendo sentido para uma parte dos europeus. Norocel acredita que partidos tradicionais de direita estão tentados assumir algumas das mensagens da extrema direita porque seria isso o que o cidadão médio quer. "A extrema direita está se preparando para se tornar parte do mainstream em toda a Europa, mas isso depende muito de como os sociais-democratas, e os partidos de esquerda em geral, vão reagir", disse. Para Norocel, o debate político precisa ser centrado "na solidariedade e na igualdade, não apenas em ganhos econômicos". "Caso contrário, os populistas da extrema direita vão explorar o medo e a incerteza das pessoas para piorar o clima político e social na Europa, e isso pode ter efeitos negativos em todo o planeta."
Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI181892-15227,00-A+ESCALADA+DA+EXTREMA+DIREITA+NA+EUROPA.html
Extrema-direita cresce em quase toda a Europa
A extrema-direita vai subindo ano após ano os degraus do poder e poucos são os países que estão a salvo da influência que o partido de ultradireita francês Frente Nacional exerce desde a década de 80: França, Itália, Inglaterra, Bélgica, Grécia, Holanda, Hungria, Suécia, Dinamarca, Finlândia, a bandeira ultradireitista recorre como uma doença incurável as democracias europeias. A extrema direita francesa fez escola em quase toda a União Europeia. O artigo é de Eduardo Febbro.
Eduardo Febbro - De Paris, na Carta Maior
Paris
- O último filho nasceu na Grécia. A extrema direita, abraçada na crise
que flagela este país há três anos, volta ao primeiro plano 38 anos
depois da queda da ditadura dos coronéis (1967-1974). O Partido LAOS e o
Aurora Dourada (Chrissi Avigi) somam mais de 8% de intenções de voto
para as próximas eleições legislativas de seis de maio. Não é uma
exceção na Europa. A ultradireita vai subindo ano após ano os degraus do
poder e poucos são os países que estão a salvo da influência que o
partido de ultradireita francês Frente Nacional exerce desde a década de
80: França, Itália, Inglaterra, Bélgica, Grécia, Holanda, Hungria,
Suécia, Dinamarca, Finlândia, a bandeira ultradireitista recorre como
uma doença incurável as democracias europeias.
A extrema direita francesa fez escola em quase toda a União Europeia. O partido ultradireitista Frente Nacional surgiu na França a partir dos anos 80, justamente depois da eleição do socialista François Mitterrand à presidência da República (maio de 1981). O FN já existia, mas sua participação era secreta. As táticas eleitorais de Mitterrand destinadas a debilitar a direita clássica foram um dos fatores que levaram a ultradireita francesa a se converter, com o passar dos anos, em um partido poderoso, capaz de perturbar o equilíbrio político clássico e contaminar com suas ideias todos os debates, da esquerda à direita.
Três décadas mais tarde, o Frente Nacional, agora dirigido pela filha de seu fundador, Marine Le Pen, obteve o maior resultado eleitoralde sua história: quase 18% dos votos no primeiro turno das eleições presidenciais do dia 22 de abril passado. A ultradireita xenófoba e populista é um míssil político tóxico com suficiente força como para desfazer maiorias, precipitar a queda de governos e conseguir que suas ideias impregnem a ação política dos partidos conservadores. A extrema direita tem, de fato, duas fases históricas; a que vai de 1945 ao ano 2000, onde o antissemitismo foi norma, e a que se inicia com o século XXI, onde a islamofobia é o atrativo das urnas.
Depois da França, o segundo marco da ultradireita teve lugar na Áustria, entre os anos 80 e 2000. O FPÖ, Partido Austríaco da Liberdade, fundado no começo dos anos 50 pela ala nacionalista e populista da extrema direita, é ainda um dos mais sólidos da União Europeia. O FPÖ teve sua hora de glória na década de 80, quando formou uma coalizão governamental com os socialdemocratas do SPÖ. Depois, sob a influência de seu carismático líder, Jörg Haider, a ultradireita nacionalista austríaca regressou ao poder em 1999 após obter 27% dos votos nas eleições legislativas desse ano.
Playboy e negacionista, Haider prosseguiu a obra de Jean Marie Le Pen, o fundador do Frente Nacional Francês. Transcorreu um quarto de século e a ultradireita é agora um movimento normalizado, admitido e legitimado. Esta corrente mudou suas ideias e passou de um antissemitismo secular à islamofobia delirante e à crítica violenta contra Bruxelas. O exemplo mais moderno e devastador desta reencarnação é o líder populista holandês Geert Wilders e o Partido pela Liberdade, PVV. Desde as eleições de 2010, onde obteve 24% dos votos, o PVV é um aliado da coalizão de direita-conservadora que governou a Holanda até que o próprio Wilders fizesse balançar os alicerces do primeiro-ministro Mark Rutte forçando eleições antecipadas. Um desacordo no seio da coalizão sobre os planos de austeridade demonstrou a capacidade destrutora da ultradireita. Wilders é um islamófobo notório, defensor do fechamento por completo as fronteiras à imigração. Em 2008 o chefe do PVV assinou um panfleto infecto contra o Islã e em seguida realizou um documentário, Ftina (A Discórdia), no qual combinou imagens dos versos do Corão com atentados terroristas.
Nos países escandinavos, o retrocesso dos partidos socialdemocratas deu lugar ao surgimento de partidos de ultradireita. Muitos destes passaram da marginalidade a formar alianças de governo. Esse é o caso da Dinamarca entre 2009 e 2011: em 2009, na Noruega, o Partido do Progresso alcançou 22% dos votos nas eleições: na Finlândia, a coalizão formada pela esquerda e a direita impediu in extremis que o Partido dos Verdadeiros Finlandeses integrasse o governo logo que, após as eleições legislativas de 2011, esta agrupação da extrema direita obtivera 19% dos votos e passara a ser a terceira força política do país: na Suécia, a extrema direita do partido Democratas da Suécia levou 5,8% dos votos nas eleições legislativas e entrou pela primeira vez no Parlamento.
A Itália é uma exceção. Tem uma ovelha negra, a regionalista e fascistóide, Liga do Norte, de Umberto Bossi, mas o movimento ultra mais poderoso que existia sofreu uma transformação inédita até hoje. O neofascista Movimento Sociale Italiano, de Gianfranco Fini, se transformou, a partir de 1994, em um sólido partido de direita, a Alianza Nazionale. Essa transmutação foi muito além do mero nome: Fini, que depois formou aliança com Silvio Berlusconi, condenou o antissemitismo, reconheceu como válidos os valores da Resistência e os termos da Constituição. Entretanto, em dezembro passado, um militante do movimento de extrema direita italiano CasaPound, assassinou dois imigrantes senegaleses.
Na Hungria, as milícias do partido neofascista Gobi, "A Guarda Húngara”, praticam com toda impunidade sua brincadeira predileta: sair à caça dos ciganos, muito numerosos no nordeste do país.
Uma depois da outra, em maior ou menor medida, as sociedades do Velho Continente sucumbem ao canto da sereia do ultradireitismo. A receita do êxito é sempre a mesma: a globalização e suas inúmeras e reais consequências, entre elas as deslocalizações, o desemprego, a imigração, a chama do confronto do “povo” contra as elites “corruptas”, a ameaça do Islã e a identidade nacional em perigo pelo multiculturalismo.
Dominique Reynié, autor do ensaio “Populismes”, destaca o duplo impulso dos valores que a extrema direita apregoa hoje: “por um lado está a proteção dos chamados interesses materiais, ou seja, o nível de vida ou do emprego, e, pelo outro, o patrimônio imaterial, a reivindicação de determinado estilo de vida ameaçado pela imigração e a globalização”. A força da extrema direita consiste em apresentar-se como uma resposta “anti-sistema” frente a uma arquitetura formada pelas elites corrompidas e “ofuscadas” pela globalização e o multiculturalismo. O partido de ultradireita britânico British National Party se nutre desse discurso. Os ultranacionalistas e ultradireitistas do partido Vlaams Belang conseguiram pesar de maneira decisiva no tabuleiro político com uma linha política similar.
Este coquetel de discursos remete diretamente aos anos da Alemanha Nazista. Hitler havia irrompido com um acerbo ataque às elites industriais e bancárias, além de seu criminoso e exterminador discurso sobre a pureza da raça. A repercussão deste discurso sobre as construções políticas dos países é considerável. A partir de 14 ou 15% de votos obtidos pela extrema direita, os partidos conservadores tradicionais caem na tentação de imitar seus princípios. A mutação é assim considerável e o transtorno dos valores termina em uma grande confusão da qual sai sempre o mesmo ganhador: a ultradireita.
As eleições presidenciais francesas são um exemplo espetacular dessa corrida protagonizada pelos conservadores liberais para subtrair à extrema direita seu saldo eleitoral. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, saiu em busca dos votos que lhe faltavam para ser reeleito com um argumentário digno da mais pura extrema direita: logo após perder o primeiro turno, Sarkozy considerou, entre outras delicadezas, que Marine Le Pen era “compatível com a República”.
O caso grego mostra até o absurdo como a crise apaga a memória. Dos dois partidos de extrema direita, LAOS e Aurora Dourada (Chrissi Avigi), o primeiro passou a formar parte da coalizão governamental criada no ano passado em meio à crise. O segundo, Chrissi Avigi, está se convertendo em um ator importante. O Chrissi Avigi é um partido pró-nazista, cujo emblema se parece com uma suástica. A recuperação do medo ao Islã, a agressão verbal contra os imigrados são hoje, nas sociedades europeias, uma das sementes mais frutíferas da conquista do poder.
A extrema direita francesa fez escola em quase toda a União Europeia. O partido ultradireitista Frente Nacional surgiu na França a partir dos anos 80, justamente depois da eleição do socialista François Mitterrand à presidência da República (maio de 1981). O FN já existia, mas sua participação era secreta. As táticas eleitorais de Mitterrand destinadas a debilitar a direita clássica foram um dos fatores que levaram a ultradireita francesa a se converter, com o passar dos anos, em um partido poderoso, capaz de perturbar o equilíbrio político clássico e contaminar com suas ideias todos os debates, da esquerda à direita.
Três décadas mais tarde, o Frente Nacional, agora dirigido pela filha de seu fundador, Marine Le Pen, obteve o maior resultado eleitoralde sua história: quase 18% dos votos no primeiro turno das eleições presidenciais do dia 22 de abril passado. A ultradireita xenófoba e populista é um míssil político tóxico com suficiente força como para desfazer maiorias, precipitar a queda de governos e conseguir que suas ideias impregnem a ação política dos partidos conservadores. A extrema direita tem, de fato, duas fases históricas; a que vai de 1945 ao ano 2000, onde o antissemitismo foi norma, e a que se inicia com o século XXI, onde a islamofobia é o atrativo das urnas.
Depois da França, o segundo marco da ultradireita teve lugar na Áustria, entre os anos 80 e 2000. O FPÖ, Partido Austríaco da Liberdade, fundado no começo dos anos 50 pela ala nacionalista e populista da extrema direita, é ainda um dos mais sólidos da União Europeia. O FPÖ teve sua hora de glória na década de 80, quando formou uma coalizão governamental com os socialdemocratas do SPÖ. Depois, sob a influência de seu carismático líder, Jörg Haider, a ultradireita nacionalista austríaca regressou ao poder em 1999 após obter 27% dos votos nas eleições legislativas desse ano.
Playboy e negacionista, Haider prosseguiu a obra de Jean Marie Le Pen, o fundador do Frente Nacional Francês. Transcorreu um quarto de século e a ultradireita é agora um movimento normalizado, admitido e legitimado. Esta corrente mudou suas ideias e passou de um antissemitismo secular à islamofobia delirante e à crítica violenta contra Bruxelas. O exemplo mais moderno e devastador desta reencarnação é o líder populista holandês Geert Wilders e o Partido pela Liberdade, PVV. Desde as eleições de 2010, onde obteve 24% dos votos, o PVV é um aliado da coalizão de direita-conservadora que governou a Holanda até que o próprio Wilders fizesse balançar os alicerces do primeiro-ministro Mark Rutte forçando eleições antecipadas. Um desacordo no seio da coalizão sobre os planos de austeridade demonstrou a capacidade destrutora da ultradireita. Wilders é um islamófobo notório, defensor do fechamento por completo as fronteiras à imigração. Em 2008 o chefe do PVV assinou um panfleto infecto contra o Islã e em seguida realizou um documentário, Ftina (A Discórdia), no qual combinou imagens dos versos do Corão com atentados terroristas.
Nos países escandinavos, o retrocesso dos partidos socialdemocratas deu lugar ao surgimento de partidos de ultradireita. Muitos destes passaram da marginalidade a formar alianças de governo. Esse é o caso da Dinamarca entre 2009 e 2011: em 2009, na Noruega, o Partido do Progresso alcançou 22% dos votos nas eleições: na Finlândia, a coalizão formada pela esquerda e a direita impediu in extremis que o Partido dos Verdadeiros Finlandeses integrasse o governo logo que, após as eleições legislativas de 2011, esta agrupação da extrema direita obtivera 19% dos votos e passara a ser a terceira força política do país: na Suécia, a extrema direita do partido Democratas da Suécia levou 5,8% dos votos nas eleições legislativas e entrou pela primeira vez no Parlamento.
A Itália é uma exceção. Tem uma ovelha negra, a regionalista e fascistóide, Liga do Norte, de Umberto Bossi, mas o movimento ultra mais poderoso que existia sofreu uma transformação inédita até hoje. O neofascista Movimento Sociale Italiano, de Gianfranco Fini, se transformou, a partir de 1994, em um sólido partido de direita, a Alianza Nazionale. Essa transmutação foi muito além do mero nome: Fini, que depois formou aliança com Silvio Berlusconi, condenou o antissemitismo, reconheceu como válidos os valores da Resistência e os termos da Constituição. Entretanto, em dezembro passado, um militante do movimento de extrema direita italiano CasaPound, assassinou dois imigrantes senegaleses.
Na Hungria, as milícias do partido neofascista Gobi, "A Guarda Húngara”, praticam com toda impunidade sua brincadeira predileta: sair à caça dos ciganos, muito numerosos no nordeste do país.
Uma depois da outra, em maior ou menor medida, as sociedades do Velho Continente sucumbem ao canto da sereia do ultradireitismo. A receita do êxito é sempre a mesma: a globalização e suas inúmeras e reais consequências, entre elas as deslocalizações, o desemprego, a imigração, a chama do confronto do “povo” contra as elites “corruptas”, a ameaça do Islã e a identidade nacional em perigo pelo multiculturalismo.
Dominique Reynié, autor do ensaio “Populismes”, destaca o duplo impulso dos valores que a extrema direita apregoa hoje: “por um lado está a proteção dos chamados interesses materiais, ou seja, o nível de vida ou do emprego, e, pelo outro, o patrimônio imaterial, a reivindicação de determinado estilo de vida ameaçado pela imigração e a globalização”. A força da extrema direita consiste em apresentar-se como uma resposta “anti-sistema” frente a uma arquitetura formada pelas elites corrompidas e “ofuscadas” pela globalização e o multiculturalismo. O partido de ultradireita britânico British National Party se nutre desse discurso. Os ultranacionalistas e ultradireitistas do partido Vlaams Belang conseguiram pesar de maneira decisiva no tabuleiro político com uma linha política similar.
Este coquetel de discursos remete diretamente aos anos da Alemanha Nazista. Hitler havia irrompido com um acerbo ataque às elites industriais e bancárias, além de seu criminoso e exterminador discurso sobre a pureza da raça. A repercussão deste discurso sobre as construções políticas dos países é considerável. A partir de 14 ou 15% de votos obtidos pela extrema direita, os partidos conservadores tradicionais caem na tentação de imitar seus princípios. A mutação é assim considerável e o transtorno dos valores termina em uma grande confusão da qual sai sempre o mesmo ganhador: a ultradireita.
As eleições presidenciais francesas são um exemplo espetacular dessa corrida protagonizada pelos conservadores liberais para subtrair à extrema direita seu saldo eleitoral. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, saiu em busca dos votos que lhe faltavam para ser reeleito com um argumentário digno da mais pura extrema direita: logo após perder o primeiro turno, Sarkozy considerou, entre outras delicadezas, que Marine Le Pen era “compatível com a República”.
O caso grego mostra até o absurdo como a crise apaga a memória. Dos dois partidos de extrema direita, LAOS e Aurora Dourada (Chrissi Avigi), o primeiro passou a formar parte da coalizão governamental criada no ano passado em meio à crise. O segundo, Chrissi Avigi, está se convertendo em um ator importante. O Chrissi Avigi é um partido pró-nazista, cujo emblema se parece com uma suástica. A recuperação do medo ao Islã, a agressão verbal contra os imigrados são hoje, nas sociedades europeias, uma das sementes mais frutíferas da conquista do poder.
Fonte: http://www.outroladodanoticia.com.br/inicial/34416-extrema-direita-cresce-em-quase-toda-a-europa.html
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