Indubitavelmente,
é impossível compreendermos o momento atual que vivemos, seja no campo
político, econômico, eclesiástico, teológico, ou de qualquer outra área do
conhecimento, sem que olhemos para o que ocorreu no passado. O passado não é
história antiga, mas é o caminho que percorremos para chegarmos até onde
estamos. As mudanças sociais pelas quais a humanidade passou nos últimos 2000
anos ensejaram transformações em toda a sociedade, dando moldes e
características também a Igreja, em que tanto a sociedade quanto ela efetuaram
influências mútuas de uma para com a outra. Basta atentarmos para o início da
Igreja, caracterizada e formada dentro do ambiente judaico e que, quando
alcança o mundo grego , ela afeta e ao mesmo tempo é afetada pelo pensamento
filosófico predominante dentro desse contexto, passando a ser característica
fundamental do cristianismo essa condição supra e infracultural!¹ A história da
Igreja é a ação de Deus na história humana em que ela atua como agente de
transformação social e ao mesmo tempo é influenciada pelas mudanças que as
culturas e sociedades deparam-se em seu desenvolvimento. Hoje, sabemos que até o
processo de elaboração do cânon cristão segue essa rota, pois ele surge como
fenômeno histórico da realidade vivenciada nas primeiras comunidades cristãs
que faziam a leitura dos textos sagrados em conformidade com seu ambiente
cultural. Não há como abdicar de observarmos atentamente para a história da
Igreja, pois sem dúvida alguma, verificaremos a manifestação e ação de Deus na
vida da EKLESIA para lhe ajudar a enfrentar as dificuldades do seu tempo,
tirando proveito para nossa realidade atual em que, perceberemos que o papel
dela continua sendo o mesmo: A PROPAGAÇÃO E A MENSAGEM DO REINO DE DEUS. O mundo
muda, e não há como contestar essa realidade, pois ao olharmos para a história
somos apresentados a essa verdade, mas a Igreja também passou e passa por suas
transformações! Ela tem sido protagonista em muitas das fases da humanidade
assumindo o papel principal de transformadora do status quo em que tem
contribuído para o desenvolvimento humano e, na atualidade, ela não pode
aceitar o papel de coadjuvante, cabendo-lhe verificar o momento atual e
verificar como ela poderá efetuar as transformações que visem o desenvolvimento
da justiça e da paz social. É fundamental que a Igreja esteja aberta para as
mudanças que se fizerem necessárias para que ela cumpra o seu papel de
transformadora social, pois, não há como dentro dos fatos históricos
observados, ela cumprir sua finalidade sem que passe por mudanças em paradigmas
antigos, se adequando à nova ordem cultural. Não há como manter uma atitude
misoneísta (aversão ao novo) e realizar a manifestação da vontade de Deus
dentro do curso histórico e da comunidade.
A
história é analisada dentro do conceito moderno de ciência em que os métodos
científicos são os norteadores de uma análise coerente e eficaz de
cientificidade, em que, embora no transcorrer do tempo ela seja contínua,
entretanto, eventos ocorridos em sua trajetória marcam momentos ou épocas. Isso
ocorre tanto na história secular ou eclesiástica. A lide que nos deparamos é:
quais os métodos que servirão de fundamentos para a análise da história da
igreja? Em especial, no caso em análise, o fenômeno histórico da igreja na
América Latina que, como observado acima, tem características pares e
exclusivas. Embora alguns tendam a analisar apenas pelo lado intereclesial,
focando nas atividades e mudanças ocorridas dentro da igreja no decorrer
histórico, é conceito unânime entre os doutrinadores modernos que, fatores
extras eclesiais como a política, cultura e economia exercem grande influência
sobre a vida da Igreja, pois ela é elemento pertencente à sociedade. No
entanto, as mesmas dificuldades e divergências enfrentadas em âmbito secular
para definir o método para análise histórica de outras áreas do conhecimento
humano, também acontecem no estabelecimento de uma história eclesiástica, pois,
dependendo da ideologia e do método empregado pelo historiador, sua abordagem e
conclusões serão distintas. Uns compreendem que a história da igreja deve ser
feita e abordada exclusivamente sobre a óptica e os fenômenos ocorridos e
realizados dentro da sua esfera, no entanto, há aqueles que defendem que é
impossível dissociar as atividades eclesiais dos fatos ocorridos nas demais
áreas de influência humana e social. A própria CEHILA (Comissão de Estudos de
História da Igreja na América Latina), embora utilize como base os fenômenos
políticos para setorização histórica, no entanto, não deixa de observar outros
fatores que podem exercer transformações dentro dela, como por exemplo, a sua
própria autonomia de existência.
Não há como dissociar da história
da igreja os fatos ou eventos que têm exercido grande influência na história mundial,
pois, eles exercem ou são influenciados pelas atividades e posicionamentos da
igreja dentro de sua época. Na América Latina, desde sua colonização a igreja
tem estado presente em todas as mudanças sociais ocorridas dentro de sua
esfera, alterando e influenciando o modus
vivendis das pessoas dentro desse contexto. Recentemente, verificamos
como a teologia da libertação utilizou os ensinos de Jesus Cristo e os adaptou
à realidade vivenciada e experimentada dentro do contexto latino americano, não
apenas influenciando o pensamento teológico, bem como as demais áreas do saber.
Sem dúvida alguma, a Igreja faz história dentro da história em suas relações
transversais com todas as áreas do conhecimento, visto que, juntos, fazemos
parte da mesma sociedade.
1. GONZÁLEZ,
Justo L., história do movimento missionário – São Paulo:Hagnos,2008.
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