Infelizmente, devido a uma confusão
causada pelo senso comum, muitos na sociedade atual têm praticado o descuidado
de confundir moral e ética que, embora bem próximas em suas origens
etimológicas, no entanto, os campos de atuação e de domínio são completamente diferentes,
visto que, enquanto a moral em tese visa o exterior, já a ética se manifesta
introspectivamente. Embora dentro da sociedade, ambas as disciplinas atentem
para os fatos sociais, ambas têm focos distintos, já que a moral se interessa e
se propõe analisar as condutas praticadas dentro do grupo social pelo coletivo
e pelo indivíduo, já a ética muda completamente o seu foco, pois tende a
analisar o porquê das condutas humanas em que a conduta é mais do que
repetição dos códigos de conduta apreendidas dentro da sociedade, na ética elas
são realizações produzidas pelo indivíduo que não apenas as racionalizou, mas
que lhes experimentou em seu interior. A tendência natural tem sido aplicar uma
idéia pejorativa nos estudos filosóficos e sociológicos sobre a moral, enquanto
que, até então, a ética ainda não foi maculada pelos conceitos pejorativos que
alcançaram e macularam a moral, chegando ao ponto de qualificá-la como
moralismo.
Dentro do mundo atual, a moral tem
sido caracterizada negativamente como moralismo, pois ela tem servido de
argumento para que alguns lhe utilizem como instrumento ideológico e dominador
para adequar determinados grupos à sua forma e conduta de agir e pensar,
estabelecendo os modelos dos grupos dominantes como o adequado para todo o
restante da sociedade de forma que as pessoas absorvam esses modelos e idéias e,
para isso os meios midiáticos e de formação de conhecimento são utilizados para
que se alcancem esses fins como os modelos corretos a se implementarem na
sociedade. Essas práticas e condutas dentro da sociedade alcançam o status de
conduta e prática normativa generalizada, em que elas são empregadas como
conduta absoluta e qualquer prática distinta ou diferenciada da padronizada
será vista por todos como uma violação ou “crime” social, pois a não
observância desse padrão isola e qualifica negativamente o indivíduo sem levar
em conta as mudanças que ocorrem com o tempo, esquecendo que, por extensão, o
homem e a sociedade mudam com o decorrer da história e também com o
distanciamento geográfico apresentando modelos de condutas distintas e que no
mesmo ambiente histórico podem apresentar aceitação distinta. Em grande parte
dessa postura, verificamos uma atitude de domínio em que o moralista sente
prazer no domínio moral que exerce sobre os demais em que parte dessa postura
não se analisa o cerne motivador dessa conduta em si, esquecendo que as práticas dentro do ambiente social se
demandam da real necessidade do indivíduo de existir e sobreviver dentro dela!
Em geral, ele tende a circunscrever a postura concreta àquela que ele mesmo
delineou e apresenta como consequência da decadência sócio econômica a postura
distinta da padronizada e com isso avoca-se no direito “supremo” de determinar
como causa dos insucessos sociais à não conformação ao seu modelo moralista
estabelecido e que o caos só será sanado com a adequação à sua forma.
Além do emprego sócio político,
esse modelo de “moral” tem se manifestado no campo religioso em que a postura
exteriorizada predomina sobre o real interesse dos indivíduos. “Pouco importa
porque se faz, o importante é fazer!” Embora, a primeira vista pareça adequada
à frase, entretanto com base nos ensinamentos cristãos, não basta apenas fazer,
precisamos fazer com racionalidade e intimidade, pois caso contrário, teremos
uma religião que acha que está vestida adequadamente, mas na realidade, suas
vestes não passam de trapos que desagradam
e desonram a Deus e aos homens. Não há que abandonar a moral, pois em
regra geral, ela não é culpada pelo emprego inadequado que os indivíduos têm
feito dela, pois toda sociedade precisa de padrões e modelos atualizados a
serem seguidos e observados, entretanto, ela não pode ser manipulada de maneira
a não observar essa faculdade inata ao homem que é a de mudar suas condutas no
decorrer da história, caso contrário cairemos nos erros observados no passado e
também no presente de que o homem poderia se desenvolver alienado da ação
graciosa de Deus em seu interior, transformando o cristianismo em uma religião
de práticas comportamentais ao invés de que as práticas comportamentais são
frutos de uma ação da Graça de Deus em nosso interior. A ética não pode pactuar
com o emprego negativo que foi feita com a moral no decorrer da sociedade, mas
fortalecer e auxiliar a moral, visto que ela em si não é inadequada, mas a forma
como foi empregada no decorrer da história, e caminharem juntas visando o
alcance de uma sociedade mais equânime, justa e solidária. A ética conduzirá a
sociedade de maneira que as condutas morais serão compreendidas como padrões
adequadas e atualizadas à realidade social visando o bem estar geral de todos
os grupos, dando características racionais e adequadas à estes padrões
comportamentais, sem que caia na condição atual de um conjunto de regras que
apenas determinam padrões de condutas sem estarem acompanhadas de uma real
compreensão do porque se está agindo dessa forma e também como instrumento de
uma elite que visa apenas seus interesses ideológicos, esquecendo o objetivo
principal que é o bem estar de todos os grupos e indivíduos na sociedade.
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