Uma das grandes dificuldades das
sociedades atuais, principalmente as ocidentais, é lidar com a morte;
preparamos-nos e celebramos as diversas circunstâncias da vida, entretanto,
vivemos como se a vida fosse eterna, postergamos e não falamos sobre essa
possibilidade, como se ela fosse para sempre neste mundo; a morte aparece em
muitos momentos como algo utópico. Entretanto, ela é real e na vida
ministerial, seja em qualquer que seja a comunidade que se ministre, volta e
meia ela aparece diante de nossos olhos. Dentro de uma sociedade pós-moderna,
cada vez as pessoas vivem individualizadas, isoladas e percebemos que os grupos
cada vez mais estão menores e impulsionados a viverem dentro do ambiente do
núcleo familiar (a casa). Percebemos o grande número de indivíduos que vivem sós
na atualidade, claramente demonstrado pelo último censo do IBGE que comprova o
aumento do número de pessoas que hoje moram sozinhas. Dentro desse contexto,
não seria de outra forma a posição que a própria sociedade assume diante do
luto, pois verificamos que as pessoas procuram excluir das suas conversas tal
assunto, como se fosse uma “doença incurável”, eliminando das conversas
familiares tais circunstâncias, fato que no passado era bem diferente, pois as
famílias (antes representavam aglomerados maiores) sentavam à porta das casas
para conversarem assuntos pertinentes às suas vidas e as da comunidade. Muitas
vezes, até dentro do ambiente eclesiástico, esses assuntos são tratados como
tabus e inconvenientes para crianças, adolescentes e muitas vezes, até adultos!
A Bíblia, desde o Antigo Testamento
até o Novo Testamento, bem como os escritos antigos comprovam a preocupação dos
povos antigos com o fenômeno morte, como exemplo temos Gênesis capítulo 23 em
que Abraão após o luto de sua esposa, toma todas as providências possíveis para
sepultá-la. Verificamos que o luto era uma parte cerimonial da vida em
comunidade em que, em geral se verifica que grupos e indivíduos têm seu momento
de manifestação externa da confrontação com tal momento, ou seja, verificamos
que é um fenômeno presente em todos os povos, há um ritual a ser seguido pelo
grupo, e mesmo quando individual, percebe-se claramente como uma manifestação
típica grupal e que há um destino específico para os restos mortais da pessoa,
ou seja, ela sempre é sepultada seja num sarcófago egípcio ou numa caverna
mediterrânea; o próprio autor de Eclesiastes em Capítulo 7, versículo 2 fala
que é melhor ir na casa onde há luto..., demonstrando que por volta do século
IIa.C. , o valor que se dava a esse momento da vida. O próprio Jesus trata tal
situação como circunstâncias que fazem parte da vida em vários momentos, como
por exemplo, Jo. 11 em que Ele aparece consolando Marta e Maria após a morte de
Lázaro. Claramente esse texto serve de referencial para nós, pois, enquanto o
Mestre não ressuscita os mortos, cabe aos seus discípulos confortarem e
consolarem as pessoas até a sua volta!
Não há fórmula pronta para esse
momento; primeiro, é fundamental que o ministro se faça imediatamente presente
ao tomar conhecimento da morte, pois, sem dúvida alguma, a presença de alguém
que carrega a áurea de ser servo de Deus traz certa gama de paz aos enlutados.
Muitas vezes, não é preciso dizer nada, a presença do padre/pastor tranquiliza
os familiares. Além do que, é preciso alguém sóbrio e sereno neste momento para
que a família não seja vítima dos “papas-defuntos” que aproveitam o momento de
dor para espoliar os familiares. Deve-se obter informações sobre o que a
família deseja para o momento da cerimônia fúnebre e de que forma o ministro
pode lhes ajudar nessa situação, pois quase sempre, as pessoas ficam sem um
norte delimitado. A cerimônia deve ser conduzida de maneira que não se torne um
momento para aguçar ainda mais as dores que as pessoas estão vivenciando, pois
elas ainda terão que lidar com muitas circunstâncias que farão aflorar suas
lembranças e aprofundar suas dores. Igualmente, não podemos esquecer o luto é
claramente demonstrado como um ciclo, pois ele tem princípio meio e fim. É
evidente que as condições culturais e individuais são pares em cada um ou
cultura, mas não esqueçamos que todos passarão por etapas e que elas terão que
aprender como lidar com essas situações; entretanto, a presença do ministro ou
dos membros das comunidades após o sepultamento e o acompanhamento constante
dessas pessoas lhes ajudará a ultrapassarem esses momentos de forma sadia e
completa. As fases ou os momentos que os indivíduos vão passar podem ser
diferentes ou com duração distinta, no entanto, todos vão precisar de apoio e
ajuda para superarem esse momento delicado de suas vidas. A igreja não pode
fechar os seus olhos e deslocar sua atenção para um momento tão importante e
crucial nas vidas daqueles que estão passando por essa situação e a maneira
mais coerente e producente é demonstrando sua presença dentro do texto sagrado
e como uma fase que todos irão passar.