No mundo Antigo, a visão da sociedade de
mundo é uma visão monista em que não há divisão dentro das atividades dos
indivíduos, tudo é visto num todo, ou seja, não há separação entre as
atividades seculares e religiosas, pois tudo é visto no geral. Em geral, a
ideia predominante que se tem é de que tudo faz parte do religioso, porque não
separação entre as atividades civis e religiosas, todo comportamento é visto
dentro do ambiente do divino. A relação do indivíduo com o religioso se dá em
todas as áreas da vida humana, não havendo, portanto, uma separação como se vê modernamente
entre o laico e o religioso! A ideia predominante nos textos vetero
testamentário incide que as atitudes humanas no todo geram conseqüências nas
vidas dos indivíduos e na sua coletividade e só há uma maneira de reparar ou
acalmar a afronta cometida contra o divino e isso se realiza por meio das
atividades religiosas como o sacrifício e a adoração.
Israel traz consigo presente estas
características também em seu status quo de vida e, além disso, muitas das
características da religião praticada em Canaã também são observadas nas
práticas religiosas e de adoração dos judeus. Pois como dia R. de Vaux: “o
sistema sacrificial e muitas as festas judaicas são observadas na religião
Cananéia.”¹ As festas trazem consigo a finalidade do fortalecimento e da
formação da identidade do povo judeu, estreitando e fortalecendo os laços do
povo que precisa estar vinculado por uma religião que os identifique, seja em
sua terra ou espalhado por outros cantos, como se observa no judaísmo pós
cativeiro babilônico. O povo que está se estabelecendo na Terra da Promessa e
criando uma identidade judaica precisa ter um sistema uniformizado que
caracterize e sirva de elo entre os judeus onde quer que eles estejam. As
festas e as refeições cultuais servem de instrumento para aproximar e ligar
esse povo onde quer que esteja.
A igreja, que surge no século I, nasce
dentro do ambiente judeu palestinense e é influenciada por este ambiente em seu
início. É digno de nota que as primeiras comunidades cristãs, por estarem
circunscritas à vida judaica, trazem consigo muitas de suas práticas e a visão
de mundo e dogmática influenciada por este ambiente. Encontramos Pedro e João
no Livro de Atos indo ao Templo à hora da oração; a visão de Reino de Deus no
Capítulo 1 do mesmo Livro ainda é dentro de uma cosmovisão judaica; a própria
Eklésia tem uma estrutura similar a utilizada pelos judeus dentro do ambiente
da Sinagoga; etc. E a própria cerimônia da Ceia surge dentro do ambiente da
festa da Páscoa judaica! Com tudo isso percebemos claramente a influencia que o
ambiente originário do embrião da Igreja produziu em seu interior, pois serviu
como elemento integrativo dos componentes desta nova comunidade que, da mesma
forma que os judeus no passado, também necessitavam deste elemento integrador no
desenvolvimento de suas atividades. Os indivíduos se sentiam parte e
interligados entre si dentro da comunidade cristã. As práticas e o modus
vivendis da comunidade cristã não rompe totalmente com o existencialismo dos
indivíduos e por isso, não causava um rompimento total com aquilo que eles
vivenciavam e acreditavam, tornando-os parte cognoscível deste novo ambiente. O
mesmo se verificou quando da passagem do ambiente judaico para o ambiente maior
em que a igreja se torna uma comunidade universal e que agrega elementos
compreensíveis destes mundos à sua realidade de vida!
As comunidades
cristãs hoje precisam adequar à sua realidade aspectos que sirvam de elo
integrador entre os indivíduos e que sirvam de fundamento para manutenção da
sua fé e que faça sentido em um mundo que passa a cada dia por transformações,
mas que não perca sentido com a forma e a crença dessa mesma Igreja no
transcorrer da história. Elementos como sacrifício, batismo, dízimos, etc.
necessitam ser relidos ao ambiente moderno em que vivemos, sem que com isso
deixemos as características que têm marcado a Igreja no decorrer da história. É
óbvio que por fazer parte da sociedade, a Igreja precisa e necessita estar
conectada à realidade dos nossos dias e adequar a sua linguagem ao mundo atual, caso contrário, nossa
mensagem não alcançará o coração do indivíduo moderno e por isso, práticas
obsoletas e sem sentidos precisam ser atualizados e compreensível à este homem
que vive no século XXI. Se não atentarmos para isso, nossa mensagem será desconexa
e sem sentido algum e por isso, corremos o risco de termos e realizarmos
cerimônias e liturgias que estarão completamente distanciados do coração dos
seguidores de Cristo e daqueles que pretendemos alcançar com a mensagem da
salvação!
¹ DE VAUX, R. Instituições de Israel no
Antigo Testamento,Ed. Vida Nova, 2004, São Paulo.
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