domingo, 1 de setembro de 2013

O Culto Israelita.

No mundo Antigo, a visão da sociedade de mundo é uma visão monista em que não há divisão dentro das atividades dos indivíduos, tudo é visto num todo, ou seja, não há separação entre as atividades seculares e religiosas, pois tudo é visto no geral. Em geral, a ideia predominante que se tem é de que tudo faz parte do religioso, porque não separação entre as atividades civis e religiosas, todo comportamento é visto dentro do ambiente do divino. A relação do indivíduo com o religioso se dá em todas as áreas da vida humana, não havendo, portanto, uma separação como se vê modernamente entre o laico e o religioso! A ideia predominante nos textos vetero testamentário incide que as atitudes humanas no todo geram conseqüências nas vidas dos indivíduos e na sua coletividade e só há uma maneira de reparar ou acalmar a afronta cometida contra o divino e isso se realiza por meio das atividades religiosas como o sacrifício e a adoração.
Israel traz consigo presente estas características também em seu status quo de vida e, além disso, muitas das características da religião praticada em Canaã também são observadas nas práticas religiosas e de adoração dos judeus. Pois como dia R. de Vaux: “o sistema sacrificial e muitas as festas judaicas são observadas na religião Cananéia.”¹ As festas trazem consigo a finalidade do fortalecimento e da formação da identidade do povo judeu, estreitando e fortalecendo os laços do povo que precisa estar vinculado por uma religião que os identifique, seja em sua terra ou espalhado por outros cantos, como se observa no judaísmo pós cativeiro babilônico. O povo que está se estabelecendo na Terra da Promessa e criando uma identidade judaica precisa ter um sistema uniformizado que caracterize e sirva de elo entre os judeus onde quer que eles estejam. As festas e as refeições cultuais servem de instrumento para aproximar e ligar esse povo onde quer que esteja.
A igreja, que surge no século I, nasce dentro do ambiente judeu palestinense e é influenciada por este ambiente em seu início. É digno de nota que as primeiras comunidades cristãs, por estarem circunscritas à vida judaica, trazem consigo muitas de suas práticas e a visão de mundo e dogmática influenciada por este ambiente. Encontramos Pedro e João no Livro de Atos indo ao Templo à hora da oração; a visão de Reino de Deus no Capítulo 1 do mesmo Livro ainda é dentro de uma cosmovisão judaica; a própria Eklésia tem uma estrutura similar a utilizada pelos judeus dentro do ambiente da Sinagoga; etc. E a própria cerimônia da Ceia surge dentro do ambiente da festa da Páscoa judaica! Com tudo isso percebemos claramente a influencia que o ambiente originário do embrião da Igreja produziu em seu interior, pois serviu como elemento integrativo dos componentes desta nova comunidade que, da mesma forma que os judeus no passado, também necessitavam deste elemento integrador no desenvolvimento de suas atividades. Os indivíduos se sentiam parte e interligados entre si dentro da comunidade cristã. As práticas e o modus vivendis da comunidade cristã não rompe totalmente com o existencialismo dos indivíduos e por isso, não causava um rompimento total com aquilo que eles vivenciavam e acreditavam, tornando-os parte cognoscível deste novo ambiente. O mesmo se verificou quando da passagem do ambiente judaico para o ambiente maior em que a igreja se torna uma comunidade universal e que agrega elementos compreensíveis destes mundos à sua realidade de vida!
As comunidades cristãs hoje precisam adequar à sua realidade aspectos que sirvam de elo integrador entre os indivíduos e que sirvam de fundamento para manutenção da sua fé e que faça sentido em um mundo que passa a cada dia por transformações, mas que não perca sentido com a forma e a crença dessa mesma Igreja no transcorrer da história. Elementos como sacrifício, batismo, dízimos, etc. necessitam ser relidos ao ambiente moderno em que vivemos, sem que com isso deixemos as características que têm marcado a Igreja no decorrer da história. É óbvio que por fazer parte da sociedade, a Igreja precisa e necessita estar conectada à realidade dos nossos dias e adequar a sua linguagem  ao mundo atual, caso contrário, nossa mensagem não alcançará o coração do indivíduo moderno e por isso, práticas obsoletas e sem sentidos precisam ser atualizados e compreensível à este homem que vive no século XXI. Se não atentarmos para isso, nossa mensagem será desconexa e sem sentido algum e por isso, corremos o risco de termos e realizarmos cerimônias e liturgias que estarão completamente distanciados do coração dos seguidores de Cristo e daqueles que pretendemos alcançar com a mensagem da salvação!

¹ DE VAUX, R. Instituições de Israel no Antigo Testamento,Ed. Vida Nova, 2004, São Paulo.

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