O
ser humano é essencialmente um ente gregário desde o seu início, até mesmo
teologicamente verificamos essa sua característica no relato bíblico da criação
da “companheira” para eliminar a solidão do homem. O homem foi feito para a
vida em sociedade e é através da cooperação efetuada dentro dela que o ser
humano cresce e se desenvolve mutuamente cooperando para o bem estar de todos
os indivíduos. A solidariedade e a caridade aparecem como elementos históricos
dentro do desenvolvimento do homem no próprio relato de sua história social. A
proteção aos mais fracos e débeis na sociedade aparece na proteção concedida
aos elementos dentro do clã e da sociedade tribal; Verificamos dentro do
ambiente bíblico um fato que era característico das sociedades antigas orientais
que é a hospitalidade que, aparece desde as primeiras civilizações antigas como
elemento de cuidado e caridade, pois os estrangeiros eram hospedados pelos
citadinos como elemento cultural e religioso, padrão a ser observado e
realizado por todos. O cristianismo desde o seu início se estabelece como a
religião que se preocupa e se interessa pelas necessidades do próximo, tendo
como elemento pertencente às suas origens a atividade de proteção socorro e
ajuda àqueles mais desprovidos dentro de seu contexto social. O cristianismo se
utiliza das obras sociais, principalmente no final da Idade Media e início da
Moderna, como elemento divulgador e propagador das ideias e ideais cristãos
como meio para alcançar e desenvolver o cristianismo como ideal a ser seguido e
crido. Hoje, em pleno século XXI, os ramos do cristianismo que negligenciarem
esse chamado de Deus à sua Igreja para um evangelho que contemple o homem por
inteiro e que necessita de ser socorrido e ajudado em suas deficiências e
necessidade, falhará totalmente em sua vocação para a atualidade. Não há como
apenas pregar uma salvação futura esquecendo-se que função e tarefa do
Evangelho salvar o homem agora. Como diz o Dr. Rubem Alves na sua obra Religião
e Repressão “... o evangelho não deve apenas exorcizar os demônios dos
indivíduos, mas também eliminar as consequências das obras malignas na vida do
homem!”¹O evangelho deve salvar o homem por inteiro e socorrendo-o das
dificuldades que a vida na sociedade venha lhe alcançar.
É
fundamental que entendamos que fazemos parte da mesma humanidade que é foco do
amor de Deus e, esse amor se manifestou a tal ponto que Ele mesmo “se fez homem
e habitou no meio de nós”, tal foi a preocupação de Deus com o homem que Ele
veio estar conosco. Ser cristão é ter postura e atitude semelhante para com as
pessoas vendo-as como alguém semelhante a nós e necessitada das misericórdias
de Deus e também da nossa! O Cristianismo é a religião que cuida da alma e da
vida do homem e esse cuidado é efetuado por cada um de nós que compomos à
Igreja de Cristo e só conseguiremos cuidar do próximo se tivermos uma postura
que o considere tão digno quanto qualquer um de nós de recebermos a graça de
Deus. Essa diaconia é efetuada na vida em sociedade, pois da mesma forma que
Deus veio ao nosso encontro, é necessário que a Igreja vá ao encontro do homem
dentro do seu ambiente social, ou seja, em seu status quo de vida. Tornando a
sociedade mais justa e eficaz estaremos contribuindo para o bem estar de todos
os elementos componentes dela. Mas é necessário ir, pois a determinação do IDE
continua em vigência na atualidade, pois onde houver um indivíduo sofrendo a
Igreja deve ir para alcançar e restaurar a sua condição social e religiosa. A
igreja precisa estar engajada na proposta de Deus de resgatar e restaurar o
homem dentro dessa sociedade má e perversa, para isso cada um deve envolver-se
nos ministérios e comunidades de bases que cuidam e ajudam os menos favorecidos
na sociedade, em que cada um colocará à disposição do outro os seus dons e talentos
visando à erradicação de toda desarmonia social. Todos precisam estar
empenhados nessa tarefa, ela não é uma meta denominacional ou eclesial, mas uma
tarefa de todos indistintamente em que o sucesso se torna uma recompensa de
todo o cristianismo e não apenas um resultado individual ou denominacional. É
mister que ocorra a união de todos os cristão visando alcançar em conjunto tal
meta, pois enquanto não houver a eliminação das barreiras e críticas que
impeçam um diálogo e associação de todos os
ramos do cristianismo visando alcançar esse objetivo, verificaremos essa
ineficácia observada atualmente na busca da eliminação das mazelas sociais
verificadas atualmente. O mal que impera só será eliminado quando a luz
destronar as trevas de todos os recantos da terra conduzindo Cristo aos
corações frios e gélidos dos miseráveis da terra.
Finalizo defendendo que durante
toda história cristã a igreja esteve presente como instituto modificador e
transformador da realidade social e ela não pode renegar esse passado, pois se
o fizer não cumprirá a vocação e o chamado determinado pelo Senhor da Igreja
para a atualidade. Para isso é importante o envolvimento de todos os cristãos
na obtenção dessa tarefa em que cada um é parte importante na transformação
social, cultural, político e religiosa deste mundo. A Igreja não pode relegar a
uma condição de alienação das coisas do mundo pois ela foi chamada para
transformar toda a sociedade, para isso é necessária a sua participação e
associação aos elementos sociais para cumprir as suas metas bíblicas.
¹.
ALVES, Rubem. Religião e Repressão – Edições Loyola, São Paulo, 2005.
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