segunda-feira, 9 de julho de 2012

Diaconia e Cuidado.


O ser humano é essencialmente um ente gregário desde o seu início, até mesmo teologicamente verificamos essa sua característica no relato bíblico da criação da “companheira” para eliminar a solidão do homem. O homem foi feito para a vida em sociedade e é através da cooperação efetuada dentro dela que o ser humano cresce e se desenvolve mutuamente cooperando para o bem estar de todos os indivíduos. A solidariedade e a caridade aparecem como elementos históricos dentro do desenvolvimento do homem no próprio relato de sua história social. A proteção aos mais fracos e débeis na sociedade aparece na proteção concedida aos elementos dentro do clã e da sociedade tribal; Verificamos dentro do ambiente bíblico um fato que era característico das sociedades antigas orientais que é a hospitalidade que, aparece desde as primeiras civilizações antigas como elemento de cuidado e caridade, pois os estrangeiros eram hospedados pelos citadinos como elemento cultural e religioso, padrão a ser observado e realizado por todos. O cristianismo desde o seu início se estabelece como a religião que se preocupa e se interessa pelas necessidades do próximo, tendo como elemento pertencente às suas origens a atividade de proteção socorro e ajuda àqueles mais desprovidos dentro de seu contexto social. O cristianismo se utiliza das obras sociais, principalmente no final da Idade Media e início da Moderna, como elemento divulgador e propagador das ideias e ideais cristãos como meio para alcançar e desenvolver o cristianismo como ideal a ser seguido e crido. Hoje, em pleno século XXI, os ramos do cristianismo que negligenciarem esse chamado de Deus à sua Igreja para um evangelho que contemple o homem por inteiro e que necessita de ser socorrido e ajudado em suas deficiências e necessidade, falhará totalmente em sua vocação para a atualidade. Não há como apenas pregar uma salvação futura esquecendo-se que função e tarefa do Evangelho salvar o homem agora. Como diz o Dr. Rubem Alves na sua obra Religião e Repressão “... o evangelho não deve apenas exorcizar os demônios dos indivíduos, mas também eliminar as consequências das obras malignas na vida do homem!”¹O evangelho deve salvar o homem por inteiro e socorrendo-o das dificuldades que a vida na sociedade venha lhe alcançar.
É fundamental que entendamos que fazemos parte da mesma humanidade que é foco do amor de Deus e, esse amor se manifestou a tal ponto que Ele mesmo “se fez homem e habitou no meio de nós”, tal foi a preocupação de Deus com o homem que Ele veio estar conosco. Ser cristão é ter postura e atitude semelhante para com as pessoas vendo-as como alguém semelhante a nós e necessitada das misericórdias de Deus e também da nossa! O Cristianismo é a religião que cuida da alma e da vida do homem e esse cuidado é efetuado por cada um de nós que compomos à Igreja de Cristo e só conseguiremos cuidar do próximo se tivermos uma postura que o considere tão digno quanto qualquer um de nós de recebermos a graça de Deus. Essa diaconia é efetuada na vida em sociedade, pois da mesma forma que Deus veio ao nosso encontro, é necessário que a Igreja vá ao encontro do homem dentro do seu ambiente social, ou seja, em seu status quo de vida. Tornando a sociedade mais justa e eficaz estaremos contribuindo para o bem estar de todos os elementos componentes dela. Mas é necessário ir, pois a determinação do IDE continua em vigência na atualidade, pois onde houver um indivíduo sofrendo a Igreja deve ir para alcançar e restaurar a sua condição social e religiosa. A igreja precisa estar engajada na proposta de Deus de resgatar e restaurar o homem dentro dessa sociedade má e perversa, para isso cada um deve envolver-se nos ministérios e comunidades de bases que cuidam e ajudam os menos favorecidos na sociedade, em que cada um colocará à disposição do outro os seus dons e talentos visando à erradicação de toda desarmonia social. Todos precisam estar empenhados nessa tarefa, ela não é uma meta denominacional ou eclesial, mas uma tarefa de todos indistintamente em que o sucesso se torna uma recompensa de todo o cristianismo e não apenas um resultado individual ou denominacional. É mister que ocorra a união de todos os cristão visando alcançar em conjunto tal meta, pois enquanto não houver a eliminação das barreiras e críticas que impeçam um diálogo e associação de todos os  ramos do cristianismo visando alcançar esse objetivo, verificaremos essa ineficácia observada atualmente na busca da eliminação das mazelas sociais verificadas atualmente. O mal que impera só será eliminado quando a luz destronar as trevas de todos os recantos da terra conduzindo Cristo aos corações frios e gélidos dos miseráveis da terra.
Finalizo defendendo que durante toda história cristã a igreja esteve presente como instituto modificador e transformador da realidade social e ela não pode renegar esse passado, pois se o fizer não cumprirá a vocação e o chamado determinado pelo Senhor da Igreja para a atualidade. Para isso é importante o envolvimento de todos os cristãos na obtenção dessa tarefa em que cada um é parte importante na transformação social, cultural, político e religiosa deste mundo. A Igreja não pode relegar a uma condição de alienação das coisas do mundo pois ela foi chamada para transformar toda a sociedade, para isso é necessária a sua participação e associação aos elementos sociais para cumprir as suas metas bíblicas.
¹. ALVES, Rubem. Religião e Repressão – Edições Loyola, São Paulo, 2005.

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